Pedro Peduzzi
Enviado especial
Em menos de um ano, o município de Altamira teve sua
rotina mudada com a instalação do canteiro de obras da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte. Se, por um lado, o comércio teve muito a
comemorar, por outro, o inchaço populacional deixou evidente a falta de
planejamento para esse crescimento.
“Aumentar meu lucro em 80% é ótimo, mas o aluguel ter aumentado de R$
400 para R$ 1,5 mil é péssimo”, resume Darlene Peres Monteiro, de 28
anos, dona de uma lanchonete na cidade. Na opinião do gari Adir Ribeiro
dos Santos, de 42 anos, Altamira ficou mais suja. “A sujeira da cidade
aumentou em mais de 80%. Agora, tenho de fazer o mesmo trajeto de
limpeza três vezes por dia para deixar as ruas do jeito que ficavam
antes”, avalia.
“Infelizmente as pessoas que vieram de fora costumam sujar a cidade mais do que os antigos moradores”, disse o gari à Agência Brasil,
ao apontar em direção à Rua 1° de Janeiro. “É lá onde fica um dos
refeitórios dos trabalhadores que estão na cidade. Eles saem de lá e
jogam os pratos e copos descartáveis no chão”, lamenta Adir.
O gari pensa em aproveitar o
boom
de Belo Monte para conseguir um emprego melhor. Já fez, inclusive, um
curso de pedreiro no centro de capacitação do Consórcio Construtor de
Belo Monte (CCBM), na busca por uma vaga na obra.
A Norte Energia, empresa responsável pela construção e operação da
usina, diz que, para aliviar os problemas de sujeira na cidade, repassou
três caminhões coletores de lixo, além de um trator e uma pá mecânica
para a prefeitura. Está também prevista a construção de um aterro
sanitário na cidade, que ainda está na fase de projeto.
Apesar de a sujeira nas ruas dar muito trabalho ao gari, são os
problemas de trânsito os que mais o afligem. “Em menos de seis meses,
dois colegas meus, que também trabalham na limpeza, foram atropelados.
Antes o trânsito era mais solto. Agora não tem mais espaço, e os carros
ficam a toda hora tirando fino da gente e desrespeitando a sinalização”.
Altamira tem novas placas e sinais de trânsito, instalados pela Norte
Energia. De acordo com a empresa, foram colocadas 5 mil placas, para
sinalização de trânsito e das ruas, além de 138 semáforos e R$1,8
milhões gastos com veículos para ajudar nos serviços públicos do
município.
“Eles colocaram muitos sinais, mas os carros sempre estão desobedecendo
as regras e furam sinal a toda hora. É por isso que digo: não adiante
ter sinal se as pessoas não sabem usá-lo”, argumenta Adir.
Os bancos também são problema. “As filas sempre atravessam quarteirão
porque a população aumentou e atendimento não”, critica Adir. “Os bancos
daqui já eram uma tragédia. Agora são um inferno", corrobora a
comerciante Jaciléia Xavier de Melo, de 31 anos.
A situação poderá ficar ainda mais crítica quando os salários dos
operários passarem a ser creditados nessas instituições financeiras. Mas
isso, de acordo com a Norte Energia, poderá ser amenizado caso a
empresa consiga instalar agências bancárias nos canteiros de obra. Isso
depende, ainda, de autorização do Banco Central.
"A energia da cidade também piorou. Toda semana falta energia em
diversos pontos. Já a água, que era uma negação, conseguiu ficar ainda
pior”,acrescentou Jaciléia. A água é um dos principais problemas de
Altamira, segundo o diretor de Enfermagem do Hospital Santo Agostinho,
Renato da Silva. Ele explica que não há tratamento de água na cidade
como um todo, o que torna “muito comum”, a ocorrência de infecções
intestinais.
Jaciléia
aponta algumas vantagens trazidas pela obra. “Além da sinalização da
cidade, melhoraram as escolas, depois que a empresa [Norte Energia]
ampliou o número de salas, montou a sala de informática e ampliou os
livros da biblioteca [no Colégio Antônio Godin Lins]. Isso deixou minha
filha mais motivada para ir à escola, melhorando em vários aspectos seu
rendimento".
Apenas para atender ao Projeto Básico Ambiental, a Norte Energia diz já
ter investido R$ 175 milhões em ações de saúde, educação, segurança,
saneamento e infraestrutura em todos municípios localizados na área de
influência da usina.
Tendo como base dados da saúde e da limpeza de Altamira, o secretário de Planejamento do município, Carlos Bórtolli, disse à Agência Brasil que a população cresceu de 99 mil habitantes, em 2010, para algo entre 143 mil e 148 mil habitantes em 2012.
Ele argumenta que todos os problemas apontados pela população têm a mesma origem. “Faltaram medidas adequadas para o boom
populacional disparado por Belo Monte. Isso deveria ter sido mais bem
planejado por parte do Estado e da Norte Energia. Tão bem ou melhor do
que o projeto e a engenharia dedicados à usina".
Edição: Talita Cavalcante