Queda
de Braço
Exoneração de Carneiro ainda fede, agora
em Brasilia. Filha faz denuncia.
"O pai dela, Francisco Carneiro, foi exonerado da superintendência de
Santarém de forma humilhante por denunciar à direção nacional irregularidades
em obras de vários assentamentos na região oeste do Pará, denuncia a advogada e filha do ex-superitedente".
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Filha de Carneiro diz que pai foi humilhado por petista |
A exoneração do engenheiro agrônomo Francisco
Carneiro da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), em Santarém, ocorrida em março passado, continua pipocando em
Brasília. O caso foi parar no Ministério de Relações Institucionais Casa Civil
da Presidência da República, com denúncia entregue à ministra Ideli Salvati
pela advogada Ivanna Melém Carneiro, filha do superintendente afastado. Em
carta, cuja íntegra o DIÁRIO teve acesso, Ivanna dispara acusações à diretoria
nacional do órgão centralizando fogo no presidente, Celso Lisboa de Lacerda,
acusando--o de “não ter a ficha limpa”, responder a três processos na Justiça
Federal do Paraná e de “armar uma trama” para a exoneração de seu o pai.
Dessa suposta armação fariam parte também, de acordo com a advogada, o
vice-presidente, Luciano Brunett, que já atuou no comando da superintendência
de Santarém, a chefe de administração nacional do órgão, Cleide Souza, que
também já comandou o Incra do município paraense, e Francisco José Nascimento,
chefe de gabinete de Lacerda.
A saída de Francisco Carneiro, para a denunciante, seria manipulada por
“corruptos do PT instalados no Incra”, com objetivo de desviar a atenção de
“fatos gravíssimos que ocorreram e estão ocorrendo” na superintendência de
Santarém, principalmente no setor de crédito e infraestrutura de assentamentos
da reforma agrária. A advogada cita como uma das supostas irregularidades a
construção de estradas vicinais pela empresa GG do Prado, que ganhou várias
licitações e não concluiu as obras. A empresa sequer teria maquinário
suficiente para fazer os serviços, embora beneficiada por contrato milionário.
Ivanna afirma que o pai caiu também por haver denunciado fraudes na construção
de estradas em assentamentos interditados, como foi o caso do PAC Nova Altamira,
em Monte Alegre, além da denúncia de superfaturamento de habitações não
construídas e não concluídas, principalmente no Projeto Agroextrativista Juruti
Velho. No decreto de exoneração, porém, o motivo apresentado pela direção do
Incra em Brasília seria o desvio de recursos públicos no valor de R$ 523 mil em
favor da empresa Sanecon, responsável por obras em três assentamentos. A
empresa teria recebido pagamento antecipado pelos serviços, mas sem
concluí-los.
Junto com a carta à ministra Ideli Salvati, a advogada anexa cópias de decisões
de dois juízes federais de Santarém, inocentando seu pai de qualquer
responsabilidade. Em uma das decisões, é dito que Carneiro não pode ser
responsabilizado pelo crime apenas por ter autorizado o pagamento. O servidor
Alberto Pinto, que tinha a atribuição de vistoriar a obra e confirmar a entrega
dos materiais, atestou que tudo estava em ordem antes de o pagamento ser feito.
“Para os assentados, meu pai saiu como ladrão, como queria a direção nacional
do Incra e seu fiel escudeiro, o chefe do posto do Incra em Anapu, Vagner
Garcia Vicente”.
AMEAÇAS
Ela diz à ministra que se alguém merece ser investigado a fundo é Lacerda, que
responderia a vários processos judiciais, como uma ação civil pública por
improbidade administrativa no Paraná, que envolve recursos de R$ 5,2 milhões,
uma ação popular e outro processo por declaração de anulação de atos praticados
para assentamento de famílias em área de preservação ambiental. Ivanna diz
esperar que a ministra Salvati mande investigar as denúncias que está fazendo,
porque até agora nada foi feito pelo Incra.
“Meu pai foi funcionário público por mais de 37 anos dedicados ao Incra.
Conhece palmo a palmo esta Amazônia; foi pioneiro na abertura da Transamazônica
e outros grande projetos; assumiu cargos de chefia por vários anos e por várias
vezes e ‘sem se sujar com o uso indevido de verbas públicas’”. Foi um
funcionário tão dedicado, na avaliação dela, que pegou quatro malárias em suas
andanças pelo mato para cumprir suas obrigações de servidor público.
As humilhações, as ameaças e a perseguição que Carneiro vem sofrendo, finaliza
a carta à ministra, talvez tenham sido mais uma missão que um homem digno
esteja tendo que passar, enquanto “nefastos estão a rir e enganar” em uma trama
pelos corredores de Brasília.
A
ACUSAÇÃO DA ADVOGADA IVANNA CARNEIRO
1- O pai dela, Francisco Carneiro, foi exonerado da superintendência de
Santarém de forma humilhante por denunciar à direção nacional irregularidades
em obras de vários assentamentos na região oeste do Pará;
2- Ela afirma que a direção do Incra e “corruptos do PT” desviaram o foco das
denúncias, exonerando Carneiro por ter liberado pagamento supostamente ilegal
de R$ 532 mil à empresa Sanecon. Mas defende o pai, apresentando duas decisões
da Justiça Federal de Santarém, que considerou legal o pagamento;
3- A advogada acusa o presidente do Incra, Celso de Lacerda, de tramar a queda
de Carneiro, juntamente com dois outros ex-superintendentes do órgão em
Santarém, que hoje atuam ao lado dele, em Brasília.
A DEFESA
APRESENTADA PELA DIREÇÃO DO INCRA
1- Mandou apurar denúncia de servidores do órgão em Santarém de supostas
irregularidades praticadas por Francisco Carneiro. Na fase do inquérito
administrativo, a defesa de Carneiro não convenceu a área jurídica. Ele foi
exonerado; 2- As denúncias feitas por Carneiro de irregularidades em obras no assentamento
Juruti Velho estão sendo apuradas;
3- Os processos a que Lacerda respondia na Justiça Federal do Paraná já foram
julgados. Em todos nada ficou provado contra ele. Em razão disso, a advogada
Ivanna Carneiro será processada por Lacerda por suposta prática de calúnia e
difamação.