Por Manuel Dutra
Esta cidade existe com a marca de seus artistas plásticos, compositores eruditos e populares, jornalistas e poetas, com a expansão de seu polo universitário e de suas bibliotecas. A moldura é o encontro do Amazonas com o Tapajós.
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Foto: Blog do Jeso, 25.02. 2013 |
A primeira parte do título deste artigo pode soar estranha. Mas a segunda parte, a das possibilidades, não me parece estranha, haja vista a presente mobilização de milhares de pessoas na cidade e no seu entorno em defesa do respeito que a cidade merece. A brutal agressão das margens da Rodovia Fernando Guilhon, pela especulação imobiliária, sentiu o baque do grito de uma população que já não suporta a destruição de uma das mais antigas e belas cidades da Amazônia.
Hoje, esse mutirão em defesa da seriedade pública é exemplo para tantas outras cidades da região, agredidas, em silêncio, por aventureiros sem o menor compromisso com as cidades infelizmente brutalizadas.
Sinal positivo
Por que, então, não avançar? Nenhum governo, aqui ou em qualquer lugar do mudo, agirá plenamente em favor da coletividade a não ser debaixo de pressão social. O fato de o prefeito Alexandre Von ter cancelado parte das licenças à empresa Buriti é sinal positivo, inclusive porque, com um ato administrativo, ele derrubou a decisão do TJE que mandou prosseguir a obra ilegal.
Santarém, como cidade, não pode assistir ao espetáculo de sua destruição. Ao contrário de mau exemplo, esta cidade pode tornar-se um modelo.
Poucas cidades no mundo talvez possam ufanar-se de possuir tantos atributos de beleza e cultura. Qual cidade, no planeta, é banhada, ao mesmo tempo, pelo maior rio do mundo, o Amazonas, e pelo decantado Tapajós, um dos mais belos e enigmáticos rios do Brasil? Natureza e cultura esta cidade e esta região têm de sobra.
Versos, plástica, universidades
Santarém só pode existir ao som das melodias do maestro Wilson Fonseca, com os versos de Emir Bemerguy, com a plástica de Laurimar Leal, Dona Dica Frazão e Elias do Rosário, com o acervo cultural ímpar do bibliófilo Cristóvam Sena, com o Bosque Santa Lúcia de Steven Alexander, o Bosque da Cidade, a Biblioteca Municipal, a beleza do recém-reconstruído Teatro Vitória, o Museu João Fona. E o Sairé, sim o Sairé da decantada Alter do Chão... E não pode existir sem a marca de tantos artistas plásticos, compositores populares, cantores, escritores, jornalistas e poetas cuja relação é tão grande que não recordo todos aqui, aos quais peço desculpa até por estar longe do dia a dia de Santarém já há mais de duas décadas.
Santarém é hoje um destacado polo universitário, com cinco instituições, entre elas a Universidade Federal do Oeste do Pará, o Núcleo da Universidade Estadual do Pará, além de outras três particulares. O turismo se incrementa, mas atenção, a maioria dos turistas não viaja para ver "points", ou seja, "pontos turísticos", mas para conhecer cidades, povos e a sua cultura e também as belezas naturais.
Igualmente Santarém não pode existir sem o Tapajós ora verde esmeralda ora azul, cristalino e transparente com os seus 16 quilômetros de largura próximo ao local onde deságua no Amazonas, na frente da cidade, em espetáculo intermitente. Nem sem a riqueza de seus peixes, da miríade de seus furos e igarapés. Santarém tem as duas coisas que fazem a vida de um povo: natureza e cultura.