Pe. Sidney Augusto Canto (*)
O rio Tapajós historicamente foi uma área missionária dos padres Jesuítas. Costuma-se registrar que o primeiro Jesuíta que pisou em terras mocorongas foi ninguém menos que o padre Antonio Vieira, superior dos Jesuítas no Grão Pará. Ele viu o rio Tapajós em 1659 e ao que parece foi um “amor a primeira vista”.
Mandou posteriormente dois missionários: Tomé Ribeiro e Gaspar Misch. Ambos fizeram catequese e batizaram alguns índios, mas não estabeleceram a tão sonhada missão. Sonhada sim, e até edida, implorada; pois entre a cruz do missionário e a espada do colono, os índios sem pestanejar escolheram a cruz. Não que isso lhes agradasse, mas pelo menos não perderiam totalmente a sua iberdade, pois nas mãos dos colonos não eram nada mais que apenas mão de obra escrava.
Os jesuítas vieram para ficar com o padre João Felipe Bettendorff. Que finalmente cumpriu, em 22 de junho de 1661, a ordem de Vieira: fundar e estabelecer missão às margens do rio Tapajós. Era mês de junho, mês da cheia do rio, mesmo assim, Bettendorff descreve na sua “Crônica” a existência das praias à margem do grande Paraná-Pixuna (coisa rara de se ver em pleno mês de junho, nos dias de hoje).
Vila Franca, Rio Tapajós, Santarém |
Bettendorff, ainda hoje, é o primeiro cronista a nos oferecer um maravilhoso relato da nossa Santarém de outrora. Infelizmente a obra mais consultada pelos pesquisadores ainda é a “Crônica”, mas existem outras, principalmente cartas, além de catecismos que foram escritos na “língua” dos Tapajós. Mesmo a sua “Crônica” é uma obra pouco conhecida dos santarenos, tais quais outras que são de difícil acesso em nossas escolas e bibliotecas locais.
Mas com os Jesuítas, que vinham cuidar de apaziguar os ânimos entre os tapuias, veio também o Estado, que tinha pressa em conquistar geográfica e politicamente o vale do Amazonas. E a foz do rio Tapajós foi considerada um ponto estratégico para a defesa dos interesses da Coroa Portuguesa. Foi assim que o alvará régio de 15 de dezembro de 1684 dava a Francisco da Costa Falcão a incumbência de construir fortificações que garantissem a posse política e militar da Amazônia, que àquela altura já estava deixando de ser espanhola e passando a ser efetivamente portuguesa.