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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Índio não usa camisinha

INTERIOR
Aumentam casos de HIV, hepatite e sífilis em índios

O governo lança neste mês um programa destinado a realizar testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites B e C em todas as aldeias indígenas do Brasil. A ação pretende examinar, até o fim de 2012, todos os índios brasileiros com mais de 10 anos - idade média para o início da vida sexual no grupo - e encaminhar para o tratamento os que obtiverem resultados positivos. Segundo o secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza, resultados de um projeto piloto do programa, aplicado em 46 mil indígenas do Amazonas e de Roraima, indicaram níveis "preocupantes" de HIV e sífilis. A prevalência de sífilis na população indígena avaliada foi de 1,43%, inferior à média do resto do país (2,1%), ao passo que a de HIV foi de 0,1%, ante 0,6% da média nacional. Para Souza, ainda que inferiores aos índices nacionais, ambos os dados exigem atenção por demonstrar que há transmissão dos vírus mesmo em populações isoladas, o que indica que seus integrantes mantêm contato com pessoas contagiadas fora das aldeias.
Tratamento de HIV
A médica e idealizadora do programa, Adele Benzaken, da Fundação Alfredo da Matta, diz que, no projeto piloto, quase 100% do público-alvo concordou em fazer o teste. Ela afirma ainda que a acolhida aos tratamentos indicados para sífilis tem sido igualmente positiva. "A população indígena gosta de ser testada e acredita muito no tratamento injetável". O problema maior, segundo Benzaken, é convencê-los a se tratar em caso de HIV, pois diz que os indígenas costumam resistir à ideia de que devem passar o resto da vida ingerindo medicamentos para combater uma doença que, em muitos casos, demora a provocar sintomas. Outra complicação é removê-lo para o município mais próximo. "Já vi indígena se negar porque quer fazer o tratamento com o pajé, e aí você não pode fazer nada", afirma. A transferência para a cidade, segundo a médica, torna-se ainda
Motivo de preocupação
"Qualquer índio que obtenha resultado positivo numa aldeia é motivo de preocupação", disse o secretário. Em gestantes indígenas, a prevalência de sífilis foi de 1,03%, mais baixa que as taxas encontradas em gestantes nos centros urbanos (1,6%). O índice de HIV em indígenas gestantes foi de 0,08%. Segundo o Instituto de Geografia Estatística (IBGE), há cerca de 650 mil indígenas em aldeias no Brasil. De acordo com Souza, os kits para o teste garantem, com poucas gotas de sangue, a obtenção dos resultados em até 30 minutos e podem ser transportados mesmo em condições de calor e umidade, fator essencial para que sejam levados às aldeias mais remotas. Antes, os indígenas precisavam ser removidos para as áreas urbanas para a coleta de sangue e posterior análise dos resultados, o que podia levar até 15 dias.
Ação total até dezembro
Os testes começam a ser aplicados em aldeias de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Mato Grosso nos dias 27 e 28 de agosto; nos meses seguintes, devem chegar aos demais Estados. Souza explica que os aplicadores estão sendo treinados por cerca de 70 técnicos que participaram de um seminário em Brasília no mês passado. Em caso de resultados positivos para sífilis, a equipe dará início imediato ao tratamento; já nos casos de HIV e hepatite, os indígenas serão convidados a realizar testes de confirmação no município mais próximo. Comprovada a doença, serão tratados em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Índio não usa camisinha
Para Souza, ao promover o encaminhamento à cidade somente dos indígenas diagnosticados, o programa garantirá a economia de recursos. Ele afirma ainda que uma das premissas do programa é garantir que os resultados dos exames fiquem sob sigilo, para evitar a discriminação dos infectados. Segundo ele, o programa também visa informar os indígenas sobre como as doenças se transmitem e os modos de prevenção. Para isso, explica que os agentes terão de levar em conta as características culturais locais. "Sabemos que há culturas indígenas que não aceitam o uso de preservativos. Teremos que trabalhar para que, se não usarem na aldeia, ao menos usem quando se deslocarem à área urbana, em caso de contato com pessoas de fora", disse. Ele afirmou que, em certos grupos, as mulheres costumam ser mais resistentes ao uso da camisinha, questão que também deve ser abordada nas campanhas educativas.

Conferência discute conflitos socioambientais nos rios Tapajós e Cauca
Acontece amanhã, dia 18 de agosto, em Santarém (PA), a I Conferência Internacional de Conflitos Socioambientais e Direitos Humanos nas Bacias dos rios Tapajós (Brasil) e Cauca (Colômbia). Promovida pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Universidade Nacional da Colômbia (UNC), Universidade de Utrecht da Holanda, FIAN Internacional, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e CENSAT – Água Viva (Amigos de la Tierra, Colômbia), a Conferência será realizada, a partir das 8 horas, no Auditório Wilson Fonseca, Campus Rondon (Av. Marechal Rondon, s/n, bairro do Caranazal).
Coordenado pelas professoras Judith Costa Vieira e Lidiane Nascimento Leão, do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), o evento é uma atividade do Projeto LAR (Terra, Água, Direitos), que busca analisar, por intermédio da produção científica e da assessoria a movimentos sociais, questões sociais e ambientais no Brasil e na Colômbia.
Aberto ao público, o evento inicia-se, pela manhã, com o debate “Conflitos Socioambientais e Direitos Humanos no Pará”, que contará coma a participação do coordenador do Projeto LAR, Prof. Dr. Tim Boekhout van Solinge, de lideranças de movimentos sociais e representantes da Pastoral da Terra, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, OAB, Incra, ICMBio, IBAMA e FUNAI. A tarde haverá a apresentação dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos pelos grupos do Brasil e da Colômbia.
Comunicação/UFOPA

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