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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Extrativista Laisa Santos está ameaçada de morte



Extrativista Laisa Santos está ameaçada de morte (Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)
Com medo de ser assassinada a qualquer instante. É desta forma que a extrativista Laisa Santos Sampaio vive no projeto de assentamento Praialtapiranheira, em Nova Ipixuna. Teme ter o mesmo fim que a irmã, Maria do Espírito Santo, assassinada no dia 24 de maio de 2011, juntamente com o marido dela, José Cláudio Ribeiro da Silva.
 Após a morte do casal, Laisa Sampaio assumiu o papel de continuar a luta dos trabalhadores rurais e desenvolve, juntamente, com sete mulheres a produção de diversos cosméticos.

Diante desta postura preservacionista a ambientalista granjeou pra si alguns opositores que defendem a retirada indiscriminada de madeira, e vem constantemente sendo ameaçada de morte.

Em uma destas ameaças, num bilhete apócrifo, o interlocutor grafou precariamente: “Laisa as mata é nossa, deixa nós em paz cala a tua boca”. Apesar da grafia tosca, o recado, para bom entendedor alude à possibilidade dela ser assassinada, caso continue denunciando a extração de madeira no assentamento.

É neste contexto de ameaças que a mulher vive diariamente e tenta manter a rotina de trabalho, já que é professora da escola rural Maria Pereira e percorre um trecho onde há pelo menos dois pontos onde pistoleiros podem montar tocaia e atacá-la. Com medo e ameaçada, ontem (16), ela e o marido receberam a visita de uma comissão da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, que foi ao assentamento ouvir os relatos sobre as ameaças.

Constantemente a extrativista denuncia que recebe recados ameaçadores. Os apócrifos, ora vem alertando, ora vem ameaçando veladamente. Até mesmo uma tocaia já foi montada recentemente às proximidades da entrada principal do lote onde ela vive com a família.

Dois homens, protegidos por capacetes apareceram de repente numa precária estrada que dá acesso ao lote. Ela gritou e os dois suspeitos saíram do mato, apanharam uma moto que estava próxima e saíram do local rapidamente.
ASSASSINADOS

O casal de extrativistas José Cláudio e Maria foram assassinados por discordar da forma como estavam sendo comercializados os lotes rurais. A outra frente de atuação de ambos era para defender a floresta, sobreviver dela sem que fosse necessário derrubar. Assim contrariaram os interesses de diversas pessoas e pagaram a luta com a vida.
JULGAMENTO

O Juiz Murilo Lemos Simão, titular da Vara de Violência Doméstica e do Tribunal de Júri de Marabá, marcou para o próximo dia 03 de abril, o julgamento dos acusados do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, crime ocorrido no dia 24 de maio de 2011, no Projeto de Assentamento Praia Alta Piranheira, município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. O tribunal do júri ocorrerá no fórum de Justiça de Marabá.

Figuram como acusados José Rodrigues Moreira, seria o mandante, o irmão dele Lindonjonson Silva e Alberto Lopes Teixeira, o Neguinho, estes seriam os executores.

Os advogados Wandergleisson Fernandes e Arnaldo Ramos Barros Júnior, defendem os dois irmãos, enquanto Carlos Fernando Guiotti patrocina a defesa do Neguinho. Os três advogados defendem a tese de negativa de autoria.

Segundo nota enviada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que deve atuar como assistente de acusação, outros dois envolvidos não foram incluídos no processo. São os pecuaristas de prenomes: Gilvan e Gilsão.
Os nomes destes dois acusados teriam sido citados durante diálogo entre José Rodrigues e outro irmão dele identificado pela alcunha Dedé. José Rodrigues teria pedido para que o Dedé conversasse com Gilsão e Gilvan providenciasse o mais breve possível dois advogados, senão ele, José Rodrigues “abria o bico”.
A CPT entende que estes dois pecuaristas teriam interesse em mandar matar o casal de extrativistas. José Rodrigues e Maria do Espírito Santo discordavam do modelo de reconcentração fundiária que estava em andamento dentro do Projeto de Assentamento Praialtapiranheira.
José Rodrigues teria comprado três lotes e criava bois na área, contudo, José Cláudio assentou por contra própria três famílias, abrindo assim uma contenda entre José Rodrigues e o casal de extrativistas.
Vítima relata ameaças aos Direitos Humanos
Diante do número de denúncias de que a professora e extrativista Laisa Santos Sampaio estava sendo ameaçada de morte, uma equipe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, formada pela psicóloga Marcela Morais, a socióloga Camila Iumatti e o coordenador Luiz Marcos Medeiros Carvalho, esteve no Assentamento Praialtapiranheira ontem (16) para ouvir as denúncias da extrativista. Mas a proteção policial requerida por ela, em princípio, ainda não foi definida.

Os membros da equipe não quiseram gravar entrevista, mas Luiz Carvalho informou que um relatório será elaborado com base nas informações prestadas por Laisa Sampaio e posteriormente devem ser tomadas medidas para minimizar a situação. A escolta policial, para ela é a última medida. “Na verdade o mais interessante é atacar as causas do problema e não somente os efeitos”, comentou, lembrando que o caso deve ser repassado diretamente à ministra Maria do Rosário, titular da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos.

A extrativista Laisa Sampaio não esconde que teme que algo lhe aconteça, sobretudo pelo fato de ter sido marcado para o dia 3 de abril deste ano o julgamento dos três acusados de terem orquestrado e matado o cunhado, José Claudio e a irmã, Maria. “A gente sabe que as coisas não estão boas para o nosso lado, são vários recados, ameaças, pessoas estranhas rondando a nossa casa, por isso pedimos proteção, pelo menos nesse período que antecede ao julgamento”, apela.


(Diário do Pará)

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