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terça-feira, 27 de agosto de 2013

RELATOS DE UMA PITORESCA ALTER DO CHÃO

Pe. Sidney Augusto Canto (*)
 A Vila de Alter do Chão, teve seus primórdios com a instalação da Missão Jesuítica no ano de 1738 (os Boraris já existiam antes, mas a Missão foi implantada somente neste referido ano pelo Padre Manuel Ferreira, da Companhia de Jesus). Elevada em Vila pelo Governador Mendonça Furtado, Alter do Chão tem encantado e fascinado a muitas pessoas pelas suas belezas naturais.
Como no mês passado o tema
Sairé/“Çairé”/“Turyuá” voltou à tona, e como alguns amigos pediram que aprofundasse melhor o assunto, mergulhei em algumas fontes dos quais disponho para buscar mais do passado desta encantadora Vila. Relendo as fontes, não consegui encontrar nenhum registro da realização do Sairé, em Alter do Chão, antes do século XX (estranho, não é mesmo?). No entanto, enquanto ainda não encontramos documentos que registrem a antiguidade do Sairé em Alter do Chão, outras coisas surgem de interessante nas fontes pesquisadas. Vejamos alguns casos.
Em 25 de novembro de 1812, quando da passagem da expedição da “Abertura Comercial entre o Mato Grosso e o Grão Pará”, a Vila de Alter do Chão não tinha mais do que 400 ou 500 habitantes, suas casas e mesmo a igreja eram cobertas com palha e “os moradores são pela maior parte índios, dos quais mui poucos sabem a língua portuguesa, usando todos, e até as mesmas pessoas brancas que entre eles moram, do idioma a que chamam língua geral”.
Cerca de vinte anos depois, Baena registra em seu “Ensaio Corográfico” que a Vila de Alter do Chão possuía (às vésperas da Cabanagem) uma população de 818 pessoas (entre índios e brancos) e 10 escravos negros. A Igreja de Nossa Senhora da Saúde, estava, então, já coberta com telhas, mas as casas, a cadeia e a casa da Câmara estavam ainda cobertas com palhas. E continua Baena: “Os moradores não vivem naquele feliz estado, que a situação local da sua vila e a natureza do seu terreno lhe indicam permitir; eles não tiram vantagem da grande fertilidade das terras; a plantação mais ordinária é a da mandioca”.
A Cabanagem mostrou-se forte na Vila, no entanto a repressão veio mais forte ainda. Os habitantes da Vila ficaram tão reduzidos que o Governo da Província lhe tirou o título de Vila em 1841, mantendo o de Freguesia. Segundo Bates, quase não havia homens adultos em 1852, sendo sua população quase que exclusivamente de mulheres, crianças e idosos. Em 1868, segundo Ferreira Pena, a população da Vila era de 138 pessoas, sendo que duas eram escravas. A situação do então povoado não era das melhores, nem mesmo pároco havia para atender as pessoas (o último havia sido suspenso da função).

Em 1875 a situação do Povoado pareceu melhorar um pouco mais. Segundo Rufino Tavares, o povoado já se encontrava provido de uma escola que tinha cerca de 25 meninos matriculados. E continua: “A igreja, dedicada a Nossa Senhora da Saúde, está no mais deplorável estado. O cemitério fica dentro do povoado! Tem umas 37 palhoças que outro nome não se pode dar a semelhantes vivendas, das quais apenas 25 em bom estado. A população compõe-se de 430 indivíduos, dos quais, homens 110, mulheres 150, meninos 80, meninas 90”.
O então povoado de Alter do Chão começou novamente a florescer em fins do século XIX (na mesma época em que Vila Franca começava a declinar) e a ganhar força política com o advento da República, tanto que, pela Lei Nº 687, de 23 de março de 1900, o povoado de Alter do Chão recuperou novamente o “status” de Vila do município de Santarém (a mesma Lei também criava a Vila de Curuai), condição esta que permanece até os dias de hoje.
(*) É presbítero da Diocese de Santarém, membro da Academia de Letras e Artes de Santarém - ALAS e atual Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós - IHGTap.

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