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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Rachaduras afastam famílias e afetam casas, coisa do Capeta

Rachaduras afastam famílias e afetam casas (Foto: Ricardo Amanajás/Diário do Pará)O dia amanheceu nublado na rua São Sebastião e a chuva trouxe novos medos aos moradores da comunidade São João Batista, em Abaetetuba. No início da manhã de ontem, moradores detectaram novas rachaduras em edificações próximas ao local em que, no último dia 4 de janeiro, uma erosão derrubou casas, deixou outras à beira de um desabamento e engoliu parte da rua Siqueira Mendes. 
“Acordamos com muito medo das novas rachaduras que apareceram nesta manhã. As rachaduras estão pelo chão e pelas casas. Algumas têm mais de 10 metros”, afirmou preocupado o comerciante Cléber Rodrigues, que perdeu a casa que morava, onde também funcionava seu ponto comercial. “Hoje eu e minha família estamos morando de favor na casa de amigos. Não tenho nem ideia qual o tamanho do meu prejuízo”, lamentou o comerciante.
O surgimento das novas rachaduras nas ruas e casas que está tirando o sono da população ainda deve continuar, segundo a geóloga Dianne Fonseca, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). A pedido da Defesa Civil, ela e um grupo de técnicos e engenheiros estão fazendo levantamentos sobre as possíveis causas do acidente. “Temos informações de moradores da região de que a área do acidente já foi utilizada para extração de argila anteriormente, o que pode ter causado um buraco no solo. O aterro foi feito com materiais orgânicos diferentes e as construções feitas sobre ele eram uma sobrecarga grande de peso para o terreno”, informou a geóloga. 
“O que aconteceu é fruto de um fenômeno natural e comum nesta região, que é a movimentação das águas. No período de enchente, a força da água junto à margem aumenta, causando uma erosão”, explicou o engenheiro sanitarista David Lopes, também do CPRM. 
Novos sonhos
No ginásio municipal, as famílias sonham com um lar novamente. Os desabrigados que aguardam por novas moradias dizem ter perdido tudo, mas a força para continuar vem da felicidade de não ter perdido a vida. “Perdi tudo. Perdi minha casa e todos meus móveis, roupas e pertences, mas graças a Deus minha família está comigo”, explicou com um sorriso Esmelita Gonçalves. 

Mesmo com os poucos pertences que recebeu de doação, Esmelita se sente agradecida e sonha em poder voltar à vida normal. “Só tínhamos nossa casinha de madeira, que ficava em cima do rio. Agora só queremos encontrar um novo lugar para morar e poder voltar a pescar para sobreviver.”
Orla da cidade já tem 49 interdições 
A prefeita do município, Francinete Carvalho, decretou no último dia 6 situação de emergência no município. No documento a prefeita afirma que no desastre foram perdidos 13 imóveis e outros 23 interditados pelo corpo técnico municipal. 
O engenheiro da prefeitura, Noé Dias, confirmou que a área interditada deve aumentar com o surgimento das novas rachaduras e com o estudo dos técnicos do Serviço Geológico. “Com o apoio da Defesa Civil e do CPRM estamos avaliando os riscos para delimitar essas áreas. Inicialmente eram 23 imóveis interditados, chegamos a 36 e hoje já estamos em 49”, explicou. 
A tristeza era evidente nos olho do carpinteiro Lourival Silva e sua família enquanto encaixotavam seus pertences. Apesar de sua casa não ter sido atingida pela erosão do último sábado, as novas rachaduras que surgiram essa manhã os colocou em uma zona de risco e eles terão que deixar a casa. “Logo cedo percebemos que o fio elétrico está mais esticado e as rachaduras novas apareceram e estão se aproximando. Vamos contar com a ajuda de amigos e parentes pois é um risco ficar aqui”, informou. 
Apesar de sua casa e seu estabelecimento comercial já estarem interditados pela Defesa Civil desde a última segunda-feira, o empresário Ademar Ferreira, proprietário da Estância Cuca, que fica localizada bem em frente ao desabamento, insistia em permanecer no local. O grupo de técnicos e de bombeiros precisaram ir até sua casa e informar que as rachaduras estavam aumentando e o risco de permanecer ali também. “Vamos tentar sair ainda hoje. Já estamos providenciando a retirada de nossos pertences, sabemos dos riscos”, comentou o empresário.
“No momento o ideal é a retirada das pessoas do local pois ainda existem trincas que estão abrindo e podem vir a abrir pois o terreno ainda está se estabilizando. Inclusive, é preciso esperar o término do período de chuvas, para que o solo seque e a movimentação do terreno diminua para poder pensar sobre o que será feito no local”, comentou a geóloga que reafirma a importância de ser dada uma destinação a área para que novas ocupações irregulares não aconteçam. 
A população de Abaetetuba nem sonhava estar vivendo um janeiro assim. A maioria dos moradores vivia há mais de 20 anos no local da erosão e nunca tinha visto nada parecido. A fatalidade insere a cidade na lista dos 800 municípios eleitos como prioritários pelo Governo Federal para que sejam realizados mapeamento dos riscos, não só no local do acidente mas em toda a cidade. 
Em uma volta de lancha na orla da cidade a geóloga apontava outros pontos aparentemente críticos na região e que precisam de cuidado. “As áreas demarcadas como de risco serão monitoradas pelo Plano de Emergência do Programa Nacional de Redução de Desastres e desta forma tentar evitar os acidentes antes que eles aconteçam”, explicou a geóloga Dianne.
(Diário do Pará)

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