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sábado, 31 de janeiro de 2015

PMs e politicos comandam matanças no Pará

No relatório de mais de 200 páginas, chama a atenção a hipótese de que o Cabo Antônio Figueiredo, conhecido como Cabo Pety, tenha sido assassinado por outros policiais que integravam a “Milícia do Guamá
Ex-prefeito " Pé de Boto", e Cabo Pety
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito que apurava a existência de milícias no Pará foi divulgado ontem, 30, um dia antes do encerramento da atual legislatura da Assembleia Legislativa, reconhecendo a existência de pelo menos quatro grupos de extermínio no Estado, e em ato realizado na própria sede do Poder Legislativo, na presença do presidente da casa, Márcio Miranda (DEM) e outras autoridades, que receberam cópias do material. 
O documento pede ainda o indiciamento de cerca de 60 pessoas envolvidas em tais grupos, dentre elas policiais militares e até políticos do interior. A CPI foi instalada logo após a série de matanças desencadeada em alguns bairros de Belém entre os dias 4 e 5 de novembro do ano passado.
A partir do assassinato do cabo Antônio Marcos da Silva Figueiredo, o cabo Pet, pertencente à Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam), outros dez homicídios ocorreram quase que simultaneamente em Belém, nos bairros da Terra Firme, Guamá, Canudos, Marco, Jurunas e Tapanã.
O militar foi morto em uma emboscada no bairro do Guamá, e a matança desenfreada que se seguiu após esse crime chocou a sociedade, só que até agora ninguém foi preso - o inquérito tramita sob sigilo total e a Secretaria de Estado de Segurança Pública garantiu desde o início estar 100% empenhada em garantir os esclarecimentos, claro, sem prometer prazos para a conclusão do trabalho.
Portanto, o que se tem até o momento, quase três meses após a chacina, é o relatório de 226 páginas feito por iniciativa do parlamento estadual.No documento apresentado ontem pela manhã fica claro que existem grupos de extermínio atuando no Estado, segundo os parlamentares que, ao longo do período em que a CPI esteve instalada, ouviu autoridades policiais, do Ministério Público, organizações em defesa dos Direitos Humanos, policiais militares e testemunhas, todos peças-chave na elucidação dos fatos. No total, quatro grupos estariam agindo no Pará: um deles no Guamá, outro em Icoaraci e outros dois nas cidades de Marabá e Igarapé-Miri.
Nesta última cidade, o grupo seria chefiado pelo ex-prefeito Ailson Santa Maria do Amaral (DEM), o “Pé de Boto”, acusado de ser mandante e membro nato de uma organização criminosa, juntamente com seu irmão Hamilton Nazareno, e outros policiais militares supostamente ligados a ele. Ele inclusive chegou a ser preso em setembro passado, em plena corrida eleitoral, quando era tido por seu então candidato à reeleição ao Governo do Estado, Simão Jatene (PSDB), como “coordenador de campanha no Baixo Tocantins”. 
Foco da investigação, a matança de novembro revelou o perfil do “cabo Pet” como um militar linha dura, tido como exemplar pelos companheiros de farda e bastante temido no Guamá, onde era visto como um ardoroso combatente da bandidagem. À época de sua morte, estava afastado da Rotam por razões de saúde e respondendo procedimentos disciplinares e inquéritos policiais, dentre os quais por homicídio, extorsão e abuso de poder.

O relatório informa que o chamado “Núcleo da Milícia” comandada por Pet era formado por ele e mais três pessoas: José Otacílio Queiroz Gonçalves, o “Silinho”; Josias Siqueira da Conceição, o “Galo Cego”; e Walmir Oliveira, o “cabo Oliveira”.Segundo depoimento prestado por um membro do Ministério Público, “Pet” explorava um serviço de vigilância eletrônica, com várias câmeras nos bairros do Guamá e Terra Firme, em estabelecimentos comerciais com placas “protegidos pelo Pet”.
O militar controlaria os referidos pontos de vigilância eletrônica por meio de um monitor posicionado na varanda de sua casa, bem como também por um tablet que levava consigo no carro.
“Cumpre também ressaltar que, de acordo com as informações do representante do Ministério Público Militar, o ‘cabo Pet’ dispunha de relações privilegiadas junto da Rotam, às quais respondiam prontamente às suas chamadas, além de (sic) haverem diversos relatos dando conta de que era comum a presença de viaturas da Rotam na frente de sua casa”, cita um trecho do relatório.
TESTEMUNHO
As informações foram corroboradas pelo testemunho de um depoente intitulado de “Testemunha X”, que em janeiro desse ano relatou aos membros da CPI a verdadeira hierarquia da milícia comandada pelo “Pet”, citando entre cinco ou seis pessoas ligadas ao referido PM, dentre os quais “Cilinho”, “Canana”, “Josias” e “Montanha”.
“Ainda de acordo com a referida testemunha, o grupo comandado por ‘Pet’ atuaria em vários lugares, a exemplo do município de Ananindeua a mando do grupo do vereador “Gordo do Aurá”, o qual contrataria os assassinos do “Pet” para exterminar seus adversários. Da mesma forma prestariam serviços a ‘Pé de Boto’, prefeito afastado do município de Igarapé- Miri, o qual terceirizava a morte de pessoas as quais julgasse necessário eliminar”, informa o documento. 
A testemunha relatou ainda que o quartel-general da milícia estaria localizado na rua Maria Adalberto Aguiar no Guamá, onde estariam depositados produtos ganhos nas ações: drogas apreendidas para serem repassadas, armas, enfim, o espólio do grupo.
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A CPI foi instalada logo após a série de matanças desencadeada em alguns bairros de Belém no mês de novembro de 2014

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