“Professores terminem a greve! A
Educação é mais importante que míseros reais no contracheque”.
Esta foi a
infeliz declaração do titular da pasta da Secretaria de Estado de
Educação do Pará (Seduc), Helenilson Pontes, em entrevista concedida a
imprensa da Capital do Estado, no último fim de semana.
Após ouvir a declaração do Secretário,
professores da rede pública estadual de Santarém afirmaram que vão
continuar a greve, que iniciou na semana passa
da, motivada, sobretudo,
pelo não pagamento do piso nacional para a categoria.
A fala do secretário Helenilson Pontes
feita por conta do início da greve na rede estadual, segundo os
professores, é reveladora. Eles reafirmam que para o Secretário, as
aulas suplementares, as quais a Seduc pretende retirar da remuneração,
não passam de moedas. Os professores enfatizam que Helenilson é mais um
que defende a tese de que a classe deve trabalhar apenas por amor.
“Infelizmente amor não paga contas. Um desrespeito!”, disse, em nota, o
Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará
(Sintepp).
De acordo com o Sintepp, se a greve
fosse exclusivamente por melhorias salariais, e se de fato o governo
cumprir o acordo, ela estaria encerrada. “No entanto, existe toda uma
demanda por parte dos outros setores que compõem os trabalhadores da
educação, que até o momento o governo não dá nenhum indicativo de
diálogo. Sendo assim, é preciso continuar a greve, mesmo que o governo
pague o reajuste do piso nacional do magistério”, concluiu a nota do
Sintepp.
MÁRCIO PINTO DIZ QUE DECLARAÇÃO FOI INFELIZ: Durante
esta semana, dezenas de professores de Santarém mostraram indignação
com a declaração do Secretário. “Depois desta infeliz declaração, bem
que poderíamos realizar um ato em Santarém, berço do atual Secretário de
Educação, para dizer a ele que os ‘míseros reais’ que ele parece
desprezar são vitais para satisfazer nossas necessidades. Que tal?”,
sugeriu o coordenador do Sintepp de Santarém, professor Márcio Pinto.
Pinto analisa que para um Secretário de
Estado que atua na área de educação, é complicado usar esse tipo de
frase, especificamente no momento em que estava se decidindo sobre
deflagração de greve e, que estava apenas no primeiro dia, onde muitos
municípios ainda iam discutir a questão da paralisação.
“A frase em si acabou sendo como
gasolina jogada num incêndio, porque mexeu muito com o sentimento das
pessoas. Há modificações sendo propostas dentro da Seduc e, é importante
que a gente diga que não somos contra qualquer tipo de modificação, mas
que seja para beneficiar o processo de ensino e aprendizagem e, para
beneficiar as pessoas que estão dentro da escola pública. Porém, o
Secretário surgiu com esse tipo de frase”, disparou o professor.
“O que eles denominam de ‘míseros reais’
faz muita diferença no bolso do trabalhador, que enfrenta todas as
dificuldades em sala de aula, já que nem o mínimo fornecem para uma
‘educação de qualidade’. Tinham mais é que se envergonhar da situação
crítica. Eu apoio a greve sim! Não é só o dinheiro não, caro Helenilson,
é uma cobrança de respeito!”, disparou a professora Evelyn Glória.
“A educação é realmente mais importante
que uns míseros centavos. Mas se é assim, por que o profissional, o
professor é tão sacaneado? A greve não é só por aumento. Tem, também, um
monte de outras reivindicações, como reformas nas escolas, concurso
público, que eu estou esperando para sair… Essa coisa de dizer que é só
pelo dinheiro é uma jogada para desviar o significado da greve, fazer
com que o professor pareça um miserável que conta tostões. Sempre é
assim”, desabafou o professor Raphael Guimarães.
GREVE: O indicativo de
greve foi aprovado no início do mês de março, em assembléia realizada
pelo Sintepp, após uma seqüência de tentativas de negociação com o
governo Estadual para o atendimento da pauta de 30 reivindicações dos
docentes, que inclui pagamento do piso salarial retroativo a janeiro
desse ano, a realização de concurso público e cumprimento integral dos
termos do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR).
Segundo o Sintepp, não existe acordo em
relação ao sistema de lotação que vem sendo praticado pelo atual
governo, de 150 horas – quando antes existiam cinco regências, variando
entre 200 horas e 280 horas mensais.
A diminuição da carga horária chega a
acarretar uma perda salarial de quase R$ 3 mil, para o caso do docente
em regime de 280 horas. A categoria percorreu as escolas na capital e no
interior comunicando e convocando para o ato, a fim de que as aulas
fossem suspensas por tempo indeterminado.
No comunicado sobre a greve, foi
informado que o secretário de Estado de Educação, Helenilson Pontes,
recebeu os professores no dia 16 de março, momento em que falou sobre
“estar arrumando a gestão”. No entanto, a Ata divulgada pela pasta seria
de conteúdo diverso em relação ao que foi negociado com a sindical.
“A categoria chega ao seu limite no
momento que recebe da Seduc a orientação de que nenhum professor poderá
extrapolar as 150 horas e diante de mais um engodo quanto ao pagamento
do piso nacional. O governo sinaliza que apresentará uma data a partir
de 15 de abril. Enquanto isso padeceremos com redução salarial. Isso é
inaceitável!”, anuncia o mesmo comunicado. A última paralisação dos
professores estaduais ocorreu no final de 2013 e durou 53 dias.
REVOLTA: Além dos
professores, profissionais de outras áreas informaram que ficaram
indignados com a declaração do secretário Helenilson Pontes. O autônomo
Manoel Martins professou que achou fraqueza de espírito para um doutor
que se formou em uma universidade em São Paulo, agredir verbalmente a
classe dos professores.
“Sabemos que ele é doutor em tributos
federais. Ele foi vice-Governador e não fez absolutamente nada pela
região e, agora, ele se chama secretário de Educação do Estado. Então,
ele veio com essa expressão relacionada ao professor, que é aquele que
educa e, que ele chegou onde está graças aos professores. Ou ele
aprendeu com a mãe d’água?. Segundo a lenda Amazônica, a mãe d’água é
mestra dos aquáticos”, aponta Martins.
De acordo com ele, isso significa que
parece que o secretário Helenilson nunca aprendeu em sala de aula com um
professor, para hoje chegar ao poder, mandar os docentes voltar para as
salas de aula e deixar de brigar por míseros reais no contracheque. “Eu
gostaria, doutor Helenilson, que o senhor sobrevivesse hoje com o
salário que ganha um professor. O senhor ia passar muita fome, ia sofrer
muito, não ia ter lazer. É muito triste um professor ter sido tratado
dessa forma por um doutor. Ele veio agredir verbalmente essa classe, que
é tão humilde”, desabafou Manoel Martins.'
Por: Manoel Cardoso
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