Uma série de obras imprescindíveis para o desenvolvimento econômico
do Estado do Pará e do País estão travadas pelo Palácio do Planalto. O
valor dessas empreitadas supera a cifra de R$ 1 bilhão e o prazo mínimo
para entrega, mesmo com toda a urgência sublinhada, vai até o final de
2017 - se tudo correr dentro do planejado. A BR-163, importante via de
escoamento da produção que vem do Centro-Oeste para os portos paraenses,
ainda tem pelo menos sete obras estruturantes em andamento pela segunda
etapa do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).
Os trechos em construção e reforma no Pará conectam o Estado ao Mato
Grosso, para que os grãos produzidos na região central do Brasil sejam
direcionados a países da Ásia e da Europa. A exportação de soja, por
exemplo, ajuda diretamente a garantir o superávit da balança comercial
brasileira. Neste ano, pelo menos 150 caminhões com seis milhões de
toneladas de grãos devem cruzar a Cuiabá- Santarém (BR-163), que se
encontra em péssimas condições.
A previsão de conclusão das obras é para 2018, de acordo com o
deputado Zé Geraldo (PT-PA). O parlamentar lembra que o grande número de
carretas passando por dia nos trechos que ligam os dois Estados
danifica ainda mais a rodovia. “São de 300 a 400 carretas por dia. Por
isso que hoje se pretende construir uma ferrovia que vai de Rio Verde
(GO) até o Porto de Mirituba, para desafogar essa rodovia”. Para Zé
Geraldo, a rodovia não serve apenas para o escoamento de produção:
“Existem outras coisas para transportar, mas o governo já trabalha uma
parceria público-privada para a construção de novas rodovias que
auxiliem a 163”, explicou.
Segundo o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o ministro dos Transportes
disse, em reunião realizada a 29 de abril, na Comissão de
Infraestrutura do Senado Federal, que na BR-163 já foram concluídos 785
quilômetros, faltando executar 260 quilômetros. Estão concluídas a
pavimentação do Mato Grosso a Santarém, incluindo o acesso a Mirituba.
Será feita a relicitação das sete pontes, objetos do edital que foi
declarado fracassado.
Mesmo com o avanço na obra de pavimentação da BR-163, o senador Flexa
Ribeiro lembrou que ainda existe um trecho - uma extensão de 90
quilômetros, ligando Rurópolis a Santarém - que está com dificuldades
para a conclusão. Responsável por este trecho, o Batalhão de Engenharia
do Exército não apresenta condições de finalizar a pavimentação da
rodovia.
“Estão faltando 20 quilômetros deste trecho. Vamos sentar com o
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) para
analisar o estágio da obra, e se tiver necessidade, vamos rescindir o
contrato, licitando com outra empresa para terminar a pavimentação”,
disse o ministro.
Duplicação
Na rodovia BR-316, que liga o Pará ao Nordeste do Brasil, o problema
principal é a falta de segurança, com trechos de alto risco para os
motoristas. A via é considerada a quarta mais perigosa do País, devido
às altas taxas de acidentes, segundo a Política Rodoviária Federal
(PRF). De acordo com relatório apresentado no ano passado pela entidade,
a taxa de acidentes chegou a uma ocorrência para cada três minutos,
entre agosto de 2013 e julho de 2014.
Um dos trechos mais perigosos é o que liga Castanhal a Santa Maria,
no Nordeste do Estado. O trajeto precisaria ser duplicado para diminuir o
número de mortos e feridos, mas ainda não recebeu a devida atenção do
governo federal. Pode ser que a obra entre na terceira edição do PAC,
mas não há sinalização da presidente Dilma Rousseff nesse sentido. A
entrega será feita, no mínimo, em 2017.
“É outro problema sério. Estatísticas mostram que o total de vidas
perdidas nesse trecho não duplicado, se não for o maior, é um dos
maiores do Brasil”, argumentou Flexa Ribeiro.
“Nós ainda não temos essa obra com projeto completo, com os
orçamentos garantidos, porque qualquer duplicação dessa magnitude sai em
torno de R$ 70 a R$ 80 milhões”, explicou o deputado Zé Geraldo. De
acordo com ele, essa obra pode ser incluída em uma nova edição do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“É uma responsabilidade do governo federal de fazer a duplicação
logo, não só porque é preciso, mas também porque é um modo de preservar
vidas humanas que estão sendo perdidas por negligência do governo
federal”, acrescentou o senador.
Atraso na hidrovia Araguaia-Tocantins trava desenvolvimento do Pará
Em relação ao derrocamento do Pedral do Lourenço, que viabilizaria a
Hidrovia Araguaia-Tocantins, o atraso no lançamento do edital também
afeta diretamente o setor produtivo do País e do Estado. O derrocamento
consiste na retirada de um conjunto de pedras, ao longo de quase 43
quilômetros do rio Tocantins. Por conta desse obstáculo natural, a
navegação é impedida de ser realizada durante todo o ano, inviabilizando
a hidrovia como modal de transporte para escoar a produção,
principalmente de grãos, do Norte e do Centro-Oeste brasileiro.
Em 2011, as obras de derrocamento do Pedral do Lourenço foram
suspensas. Desde então, representantes do governo e lideranças dos
trabalhadores e do setor produtivo fazem reuniões pedindo a retomada da
obra.
“Nós, periodicamente, estamos tendo reuniões, tanto no Dnit
(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), quanto no
Ministério dos Transportes. A cada momento é um adiamento, um motivo pra
adiar. Eu não quero desacreditar, quero pensar positivo e dar um
crédito a mais ao Dnit e ao Ministério do Transporte que seja,
efetivamente, lançado o edital do Derrocamento do Pedral, porque antes
da eclusa (da hidrelétrica de Tucuruí) ficar pronta, eu já fazia
pronunciamentos alertando o então presidente Lula que não bastava apenas
gastar R$ 1,5 bilhão para fazer as eclusas se não fizer o derrocamento
pra ter navegabilidade. E a eclusa ficaria como um bibelô apenas para
ser admirada. E, lamentavelmente, é o que está acontecendo há 5 ou 6
anos e a gente não consegue ver a hidrovia funcionar”, falou Flexa
Ribeiro.
A retirada do Pedral de Lourenço chegou a fazer parte do PAC no
governo Lula. Mas, em 2011, foi retirada da lista de obras prioritárias
do Executivo. Em março de 2014, a presidente Dilma Rousseff retomou o
assunto e anunciou o lançamento do edital, por meio do Regime
Diferenciado de Contratações (RDC). Desde então pelo menos dois editais
foram lançados, mas sempre encontrando problemas nos processos
licitatórios ou de formatação documental, e por isso acabaram
cancelados. O último fracasso do edital foi no final do ano passado.
A empresa com a proposta vencedora, a Raça Serviços Ambientais, de
Santa Catarina, não apresentou a documentação necessária exigida pelo
Dnit no prazo determinado. Sem lances de outras partes interessadas, a
licitação foi considerada fracassada.
O derrocamento abriria uma nova opção de rota para a produção
brasileira de grãos, que só agora começa a ganhar fôlego pelo Norte do
país e ainda limitada aos rios Madeira e Tapajós. Segundo representantes
de logística do agronegócio, o transporte anual na casa de 1 milhão de
toneladas poderia ser alavancado a 70 milhões, caso a hidrovia estivesse
operante. A abertura desse trecho é crucial para que as eclusas de
Tucuruí possam justificar o investimento de R$ 1,5 bilhão feito desde o
início das obras, em 1980. O projeto para o derrocamento foi orçado pelo
governo federal em R$ 452 milhões.
A demora toda ocorreu, também, pelo atraso em projetos e
licenciamentos, explica o deputado federal Zé Geraldo (PT). “Agora é que
chegamos no ponto de lançar de vez esse edital, sem problemas na
execução dele. O valor atualizado da obra é R$ 1 bilhão. A empresa que
ganhar vai cuidar do licenciamento. A obra vai demorar mais dois anos
pra começar e mais três pra começar, deve ser entregue em 2020. O valor
pode aumentar, mas eu acredito que já estejam devidamente atualizados”,
completou.
“O pedral foi licitado duas vezes pelo Dnit, já com o projeto
revisado pela Marinha. A primeira vez houve uma ação judicial que as
empresas questionaram se a responsabilidade ambiental estaria a cargo da
empresa ou do Dnit. Foi feita uma revisão neste edital. Fizemos algumas
alterações. Relançamos o edital e infelizmente não teve nenhuma empresa
interessada na obra. Estamos agora fazendo uma nova revisão no projeto e
uma correção no orçamento. Estamos corrigindo o edital para não ter
mais fracasso na próxima licitação”, comentou o diretor de
Infraestrutura Aquaviária do Dnit, Valter Casimiro Silveira, que
anunciou o mês de junho como data para o lançamento do novo edital da
obra.
Para Flexa Ribeiro isso é sinal de que o governo federal está de
costas para o Pará. “Ele não tem compromisso com o desenvolvimento do
nosso Estado, muito pelo contrário, todas as ações que são feitas são no
sentido de engessamento e nós precisamos nos libertar disso, mostrando
que nós paraenses somos os maiores responsáveis em preservação da nossa
floresta, em produzir dentro da legalidade, que é isso que o empresário
paraense quer. Tem a norma legal, cumprida a norma legal que se possa
produzir para continuar ajudando o Brasil a se desenvolver. Porque o
Pará é credor da União há 20 anos, pelo menos”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe do Blog do Xarope e deixe seus comentários, críticas e sugestões.