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segunda-feira, 12 de março de 2018

Uma paralisação de 12 horas que vale por 70 anos de rádio

Em 2018, Santarém completa 70 anos da fundação de sua primeira emissora de rádio, em 24/10/1948. Mas a comemoração de 7 décadas de comunicação radiofônica em Santarém se iniciou hoje pela manhã com um movimento paredista de funcionários da tradicional Rádio Rural de Santarém AM, por conta da crise administrativa que envolve a empresa há mais de uma década, levando-a a atrasar salários por mais de dois meses.
“É uma paralisação de 12 horas, na tentativa de sensibilizar a direção do SDC - Sistema Diocesano de Comunicação, a negociar com seus trabalhadores”, diz Rogério Sullivan (de camisa vermelha na foto), presidente do Sindicato dos Radialistas, que lidera o movimento envolvendo funcionários de diversas empresas de Santarém, que vivem a mesma situação. A ideia é levar o movimento para outros grupos empresariais que também estão desrespeitando os direitos trabalhistas.
O movimento conta com apoio de outros sindicatos - inclusive do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) - e deve trazer a Santarém o presidente da FITERT - Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão, José Antônio de Jesus.
Gota d’água - Desde que assumiu o Sindicato dos Radialistas, há nove meses, Sullivan modificou a forma de organizar o sindicato, mostrando capacidade de discutir propostas simples com os associados, que andavam desmotivados com a profissão e com seu sindicato. 
Desde outubro, vinha negociando um pequeno reajuste, que mal contemplava as perdas inflacionárias, dando oportunidade às empresas, mas ao mesmo tempo se articulando com órgãos como MPT - Ministério Público do Trabalho e SRTE - Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, para reforçar uma ação legal. Encontrou forte resistência dos mais tradicionais grupos: o SDC - Sistema Diocesano de Comunicação, que congrega a Rádio Rural AM e a TV Encontro, e o STC - Sistema Tapajós de Comunicação, da Rádio e Tv Tapajós (e Portal G1 Santarém), sendo a TV uma das afiliadas da Rede Globo de Televisão. 
Com atraso de salários, os funcionários de empresas como a Rural, resolveram discutir a possibilidade de uma histórica paralisação, efetivada hoje. Apesar de ter surgido há mais de 30 anos e com posições aguerridas da maioria de suas diretorias, o Sindicato dos Radialistas ainda não tinha conseguido impor uma postura mais pragmática e menos retórica.
Movimento -Nos anos 1980, ainda dando os primeiros passos, conseguiu a definição de um piso salarial, a partir dos primeiros acordos coletivos com as empresas e que perdura até hoje, mas sem nunca avançar para ganhos reais e sem conseguir o cumprimento dos direitos básicos dos mais de 150 funcionários das emissoras de rádio e televisão. 
As empresas mais que dobraram nos primeiros 30 anos de radialismo, agrupando-se em corporações familiares ou vinculadas à igrejas, católicas ou evangélicas, porém pouco fizeram para valorizar seus funcionários.
O movimento de hoje busca reabrir as negociações com a direção da Rural, que estaria irredutível em aceitar os 5% de reajuste definidos com as demais empresas. Além disso, tenta definir um posicionamento mais concreto por parte da Igreja Católica - que sempre deu voz a movimentos sociais pela luta de seus direitos, mas poucas vezes respeitou os direitos de seus funcionários - no sentido de acabar com o atraso no pagamento dos salários.
“Se depois de 12 horas de paralisação, não houver diálogo, poderemos deflagrar uma greve por tempo indeterminado”, diz Sullivan. O movimento na Rural pode ter adesão em outras emissoras, nos próximos dias.

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