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segunda-feira, 28 de março de 2022

Trabalho escravo é descoberto após empregado sobreviver a tiro


Um trabalhador rural foi baleado quando terminava de carregar uma caminhonete do patrão na fazenda São Sebastião, em Cidelândia, no Maranhão. O trabalhador contou que não viu quando o caseiro se aproximou por trás com uma espingarda calibre 12. Tampouco teve tempo de reagir antes de ser baleado na nuca à queima-roupa. "Tá morto o peão", ouviu enquanto agonizava no chão. José fingiu estar desacordado e esperou que os criminosos se afastar. Quando percebeu a oportunidade, se lavantou e correu.

Segundo o depoimento que deu à Polícia Federal dias depois, José cobrava uma dívida trabalhista do patrão quando foi alvejado. Sua fuga, após receber um tiro de raspão na cabeça, levou as autoridades a resgatarem outros três funcionários em condições análogas à escravidão na fazenda São Sebastião e em uma propriedade próxima, mantida pela mesma família. Os homens trabalhavam de domingo a domingo, sem folgas, e não tinham contrato de trabalho, um deles sequer recebia pagamento. Também viviam em acomodações insalubres.

O caseiro foi um dos resgatados. Aos 62 anos, precisou ser retirado em uma ambulância porque tinha um quadro crítico de covid-19, agravado por desnutrição e desidratação. Estava havia seis dias sem comer. "Tinha uma condição muito vulnerável, trabalhava em troca de casa e comida. Quando adoeceu, não recebeu atendimento médico e o empregador ainda deu a ele um medicamento vencido", relata Ivano Rodrigues Sampaio, auditor fiscal do trabalho que participou da ação.

A tentativa de homicídio de José aconteceu em novembro de 2021, e o resgate de seus colegas, em fevereiro deste ano o caso ainda corre na Justiça. O administrador das fazendas, Samy Wilker Novaes Aguiar, sua irmã, Saskia Aguiar Evangelista, e o pai, Sebastião Costa Aguiar (formalmente proprietários das duas áreas), tornaram-se réus em uma ação cautelar na Justiça do Trabalho e devem responder a outros processos. Além disso, a Polícia Civil do Maranhão investiga o disparo contra o trabalhador.

No âmbito federal, as autuações dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho poderão levar os empregadores a integrar a 'lista suja' do trabalho escravo, o que pode dificultar os negócios da família.

Como os trabalhadores escravizados não atuavam na parte da propriedade arrendada para a Suzano, a companhia não foi incluída no processo judicial como ré. No entanto, o MPT (Ministério Público do Trabalho) pediu que os pagamentos que a empresa faz à família fossem direcionados a uma conta judicial para que pudessem garantir futuras indenizações aos trabalhadores. A Justiça, porém, negou o pedido, por não ver risco de "dilapidação do patrimônio" dos empregadores, ou seja, acredita que eles terão recursos para pagar, caso haja condenação, sem que seja necessária uma intervenção judicial.


com informações ROMANEWS

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