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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Mau tempo impede ida à comunidade onde menina ianomâmi foi morta e estuprada por garimpeiros


Corpo da menina, de 12 anos, deve passar por autópsia no IML, em Boa Vista, conforme o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY). Uma nova tentativa será realizada nesta quarta-feira (27).
O mau tempo registrado nesta terça-feira (26) em Roraima, impediu a saída do voo que levaria o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, até a comunidade em que uma menina de 12 anos que morreu após ser estuprada por garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. A ideia era buscar o corpo para fazer autopsia em Boa Vista.
A Terra Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, só pode ser acessada por aeronaves ou barcos e, por isso, as fortes chuvas impendem a locomoção até o território. A comunidade Aracaçá, onde a menina morava, fica na região de Waikás.
O presidente do Condisi-YY planeja buscar o corpo da vítima para realização de autópsia no Instituto Médico Legal (IML), em Boa Vista. Uma nova tentativa ocorre nesta quarta-feira (27).
"Hoje a gente ia até a comunidade, o tempo chuvoso na terra indígena Yanomami não nos permitiu ir e amanhã nós tentaremos de novo ir para a comunidade para ouvir, trazer essas informações e conversar com a comunidade. Essa comunidade tem 30 Yanomami e é de difícil acesso", disse Júnior.
O acesso à região de Waikás demora cerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista. Para chegar até a comunidade Aracaçá, onde a menina foi estuprada e morreu, são mais 30 minutos de helicóptero ou 5 horas de barco pelo rio Uraricoera. A população da região é 198 indígenas, segundo o Condisi-YY.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a região que compreende a Terra Yanomami, está em alerta laranja, que significa perigo de chuvas intensas.
A informação da morte da menina foi divulgada na noite da segunda-feira (25) em um vídeo divulgado por Hekurari nas redes sociais. Ele afirma que, além da morte da menina, uma outra criança ianomâmi, de cerca de 3 anos, desapareceu após cair no rio Uraricoera.
"A adolescente estava sozinha na comunidade e os garimpeiros chegaram, atacaram e levaram ela para as barracas deles. A tia dela defendeu [a sobrinha]. Quando estava defendendo, os garimpeiros empurram ela em direção ao rio junto com a criança. Essa criança se soltou no meio do rio, acho que estava em um barco. Eles invadiram e levaram [a menina] para o barraco dos garimpeiros e a violentaram brutalmente, estupraram essa adolescente. Moradores de lá me disseram que ela morreu. Então, é muito triste, muito triste mesmo", disse Hekurari ao g1.
Segundo Hekurari, a Polícia Federal (PF) e o Exército foram informados do crime ainda na noite de segunda (25).
Hekurari disse ainda que há a suspeita que os garimpeiros estivessem armados. A comunidade Aracaçá corre o risco de desaparecer, alerta o relatório "Yanomami Sob Ataque", da Hutukara Associação (HAY). A área está localizada no meio de acampamentos montados por garimpeiros.
A violência sexual contra meninas e mulheres ianomâmi cometida por garimpeiros já havia sido denunciada semana passada pela Hutukara Associação Yanomami.
Região de Waikás
A região de Waikás, onde fica a comunidade Aracaçá, foi a que teve o maior avanço de exploração de garimpeiros, de acordo com o relatório "Yanomami sob ataque", divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY). Lá, a devastação foi 296,18 hectares -- 25% em um ano.
"Quase a metade da área degradada está concentrada em Waikás", cita o relatório.
A região ficou à frente de Homoxi (253,31), Kayanau (178,64) e Xitei (124,84). Com exceção das regiões Surucucus, Missão Catrimani e Uraricoera, todas as áreas tiveram um crescimento de 2020 até o fim de 2021.
Quase metade das áreas afetadas por garimpos estão concentradas na região Waikás, no rio Uraricoera, seguidas de Kayanau, localizada na confluência dos rios Couto Magalhães e Mucajaí, com mais de 20% e Homoxi, na fronteira do Brasil com a Venezuela, com 12%.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos ianomâmi, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.

Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.

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