Jose Ronaldo retrataausência do polêmico e inigualável artista plástico Apolinário, que nasceu, cresceu e sofreu no Vale do Tapajós. |
Nos últimos anos, no período natalino, ele aparecia no escritório para conversar e vender os seus quadros. Era um artista, rebelde, incompreendido, mas um natural, criativo e verdadeiro artista.
Como eu não tinha mais parede para expor os seus quadros, acatei a sua ideia de pintar a fachada do meu escritório, na Mendonça Furtado, e assim acontecia, repetidamente, aos finais de ano. A cor e a tinta, que ele sabia manejar como ninguém, ficavam ao seu talante.
Uma vez ele chegou com um ajudante e eu perguntei quem era o cidadão, ao que respondeu: - é um morador do trenzinho da orla (obra dele), Zé Ronaldo.
Noutro dia, ao cabo de sua arte, além de pagar, evidentemente, dei-lhe de presente algumas roupas usadas, dentre elas um terno, que, ato contínuo, repassou ao seu ajudante, que ele havia reabilitado, tirando-o das ruas.
Na última vez que ele pintou o escritório, literalmente, no ano próximo pretérito, como de costume, na hora d’eu pagar, perguntei a cor da obra finda, ao que respondeu: - de livro, Zé Ronaldo. Livro velho, tradicional, que combina contigo, com a tua biblioteca.
A lembrança veio agora, com a chegada das festas natalinas, frente a ausência do polêmico e inigualável artista plástico Apolinário, que nasceu, cresceu e sofreu no Vale do Tapajós.
Como diria Franz Kafka: mataram o meu amigo Apolinário como um porco, sem motivo, sem pena, sem dó.
A família do autodidata artista sofre com a perda do seu provedor, abatido sem compaixão.
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