Por Marcos Santos
O atentado sofrido pelo médico neuropsiquiatra Edson Ferreira Filho, ocorrido no último dia 9, nas dependências do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, levantou o debate sobre a falta de segurança nas unidades de saúde pública do Estado. De acordo com o Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), os casos de violência contra a classe médica estão cada vez mais crescentes em todo o território paraense. Nesta quinta-feira (16), os diretores do Sindmepa, os médicos Waldir Cardoso e João Gouveia, estarão na cidade para discutir vários temas da atividade sindical e também conversar com as autoridades locais sobre questões de segurança.
Questionado pelo blog Quarto Poder, o sindicato mostrou preocupação diante da onda crescente de violência contra médicos. Segundo o Sindmepa, nos últimos anos a sociedade percebeu o aumento progressivo da violência e a classe médica não escapou deste mal que aflige a todos. A entidade tem recebido constantemente reclamações de agressões sofridas pelos profissionais no estado do Pará, especialmente entre os que trabalham com perícias, seguidos por médicos vinculados a planos de saúde e, abaixo destes, por médicos que atendem em unidades de urgência e emergência públicas.
O sindicato informou ao blog que as agressões são comumente verbais e decorrem de falhas no sistema, sobretudo a falta de informações, encaminhamentos errados e confusos, a falta e demora na realização de exames, equipamentos inexistentes, quebrados ou obsoletos, demanda excessiva, número reduzido ou inexistente de profissionais, falta de medicações, demora no atendimento etc.
O Sindmepa acentua que os profissionais mais atingidos por esta onda de violência são os peritos do INSS e, nestes casos em particular, referidos profissionais são vítimas de coações e ameaças diretas e indiretas para a manutenção de benefícios e aposentadorias irregulares. “Identificadas as irregularidades, a Polícia Federal é comunicada imediatamente”, informa o sindicato.
Ainda segundo as informações fornecidas ao Quarto Poder pelo Sindmepa, nas unidades onde estes profissionais atendem já há segurança interna, câmeras, controle rigoroso de entrada e saída de pessoal, inclusive em alguns locais foram instaladas portas com detectores de metais. Ademais, em alguns casos os peritos atendem em dupla. Os resultados das perícias não são mais entregues ou comunicados na hora, são encaminhados via Correio para a casa do periciado. Estas medidas extremas foram adotadas a partir de negociações entre o INSS, peritos e o próprio sindicato dos médicos.
Mas o que é preciso fazer para evitar que casos de agressão contra o profissional médico ocorram nos hospitais públicos e privados? Para o Sindmepa, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que isso é caso de polícia e, portanto, deve ser tratado no âmbito da segurança pública. No entanto, algumas medidas preventivas devem ser adotadas pelas instituições e pelo próprio profissional: Manutenção de seguranças nas unidades;
Suspensão dos serviços, com prévia comunicação formal a chefe da unidade, Sindmepa e Conselho Regional de Medicina, indicando os motivos, sempre que houver problemas estruturais graves que comprometam a saúde do paciente e do médico, inexistência ou demora excessiva na realização de exames essenciais para diagnóstico ou tratamento, equipamentos indisponíveis, quebrados ou obsoletos que prejudiquem o exercício da medicina e comprometam o atendimento ao paciente, demanda excessiva sem controle de prioridades, número reduzido ou inexistente de profissionais, falta de medicações.
Em Santarém, apenas dois casos de violência contra médicos chegaram ao conhecimento do Sindicato dos Médicos. O primeiro verbal e o segundo foi o que atentou contra a vida do Dr. Edson Ferreira Filho.
Quando o Sindmepa tomou conhecimento do atentado ao neuropsiquiatra, a entidade acionou imediatamente o delegado sindical regional para que acompanhasse o caso em todas as suas frentes: atendimento ao médico, policial e junto ao local onde o fato se deu.
O Sindicato dos Médicos do Pará informou ainda que ameaças verbais e ameaças veladas sempre decorrem de falhas no sistema e, em pouquíssimos casos, em razão de falha na relação médico x paciente, neste caso, incluído a família.
Muitos pacientes justificam a agressão dizendo que o sistema não oferece tratamento adequado à população e que isso acaba irritando as pessoas, que por sua vez, agridem médicos e enfermeiros. E essa falta de condições adequadas nos hospitais e a falta de resposta imediata ao paciente comprometem de fato a segurança dos médicos?
O sindicato reconhece que sim e, tem se revelado uma das principais causas; as pessoas têm necessidade de falar, dizer de seu descontentamento a alguém, reclamar. A inexistência de ouvidorias sérias, de fácil acesso; as precárias condições de trabalho; a excessiva demanda e tudo o mais que se conhece de falhas no sistema contribuem de forma direta para o estresse dos usuários e dos profissionais que trabalham com saúde, inclusive, é uma das principais causas de afastamento por doença funcional do médico.
“Nós queremos a segurança dos profissionais médicos e estamos dispostos a participar de todos os fóruns de discussão que tratarem do assunto e que definirem medidas. Todos os meios adotados devem ser frutos de discussões”, informou o sindicato
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