O presidente Jair Bolsonaro filiou-se, nesta terça-feira (30), ao Partido Liberal (PL), do ex-deputado Valdemar Costa Neto. O evento é mais um capítulo da aproximação entre o mandatário e os partidos do chamado “centrão” (que ocorre desde meados de 2020), e traz sinalizações sobre as estratégias de alguns dos principais atores políticos para as próximas eleições.
A cerimônia contou com a presença de diversas figuras políticas, dentre elas o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Onyx Lorenzoni, Fábio Faria (Comunicações), Paulo Guedes (Economia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), João Roma (Cidadania), Flávia Arruda (Secretaria de Governo). Também participou o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, e outros congressistas.
Durante sua fala, Bolsonaro não confirmou a candidatura à reeleição ‒ o que é dado como certo no mundo político ‒ e disse sentir-se “em casa” ao exaltar suas afinidades com a nova sigla, sua nona em quase três décadas de vida política.
O ingresso ao PL marca uma significativa mudança de discurso e estratégia do mandatário em relação às eleições de 2018, quando se posicionou como o candidato antissistema.
“Estou me sentindo aqui em casa, dentro do Congresso Nacional, naquele plenário, na Câmara dos Deputados, tendo em vista a quantidade enorme de parlamentares aqui presentes”, disse Bolsonaro. “Eu vim do meio de vocês. Fiquei 28 anos dentro da Câmara dos Deputados, como alguns poucos aqui atingiram esse tempo”.
A filiação também põe fim a um período de pouco mais de dois anos em que Bolsonaro esteve sem partido e oficializa seu retorno ao “centrão”.
Bolsonaro deixou o PSL em novembro de 2019, em meio a uma queda de braço com Luciano Bivar (PE), presidente da legenda. A disputa envolvia a ocupação de posições estratégias no partido e o controle do cofre. Na época, o mandatário decidiu trabalhar na criação do seu próprio partido, Aliança pelo Brasil, que não prosperou.
Com as eleições cada vez mais próximas, Bolsonaro mantinha conversas com dirigentes partidários em busca da melhor opção para abrigá-lo. Foram ao menos seis negociações malsucedidas: com Republicanos, PMB, Patriota, PRTB, PTB e PP. Até que o martelo foi finalmente batido com o PL. A sigla é controlada há anos por Valdemar Costa Neto, ex-deputado condenado por corrupção no julgamento do escândalo do “mensalão”.
Ao entrar no PL, Bolsonaro tenta consolidar a coalizão que dará suporte à sua candidatura à reeleição e afasta o risco de acordo de uma dessas siglas com potenciais adversários na disputa pelo Palácio do Planalto – especialmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que atualmente lidera as pesquisas nas simulações de primeiro e segundo turnos.
“Eu vim do PP e confesso, prezado Valdemar: a decisão não foi fácil. Até mesmo o Marcos Pereira, conversei muito com ele, como outros parlamentares também. E uma filiação é como um casamento. Não seremos marido e mulher (risos), seremos uma família, mas vocês todos fazem parte dessa nossa família”, disse o presidente.
Filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), que também se filiou ao PL nesta terça-feira, disse que o ingresso do presidente à sigla “é um passo fundamental, que dá muita força, musculatura, seriedade, profissionalismo para uma possível campanha no ano que vem”.
No discurso, Jair Bolsonaro também disse que não é possível agradar a todos ‒ referência feita ao interesse de outras siglas em abrigar sua candidatura à reeleição ‒, mas que “faz o possível”, e garantiu que “nenhum partido será esquecido por nós”.
A expectativa de aliados do presidente é que integrem formalmente o bloco importantes legendas do “centrão”, como PP e Republicanos. Mas analistas políticos acreditam que o mandatário terá que mostrar serviço (isto é, provar ser competitivo nas pesquisas eleitorais) para evitar traições durante a campanha.
Para especialistas, o grau de adesão de integrantes do “centrão” ao projeto de reeleição de Bolsonaro dependerá de quão competitiva for entendida a candidatura. Caso outras candidaturas sejam vistas como favoritas, há riscos de o mandatário repetir a história de Ulysses Guimarães (PMDB), em 1989, e Geraldo Alckmin (PSDB), em 2018.
O discurso do mandatário contou, ainda, com críticas à esquerda. “Nós tiramos o Brasil da esquerda, nós todos tiramos. Olha para onde estávamos indo”, disse citando a Venezuela. “As cores verde e amarela [estão agora] predominando sobre o vermelho. Nós conseguimos fazer brotar o sentimento de patriotismo”, afirmou.
Flávio Bolsonaro também subiu o tom contra os adversários do presidente, centrando fogo contra Lula e o ex-juiz Sérgio Moro, que foi Ministro da Justiça do governo até abril de 2020. “Nós juntos vamos vencer o vírus, vamos vencer qualquer traidor e vamos vencer qualquer ladrão de nove dedos, pelo bem do nosso Brasil”, declarou.
Na cerimônia, Bolsonaro também manteve tom muito mais ameno em relação ao Poder Judiciário ‒ posição muito cobrada por integrantes do “centrão” após as manifestações de 7 de setembro, em que o mandatário atacou o ministro Alexandre de Moraes e ameaçou descumprir decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Acho que as críticas são válidas, sendo pontuais. Como instituição, não é o caso. Nossa regra é essa”, disse ao comentar discordância com decisões proferidas pelos ministros do tribunal. Bolsonaro também afirmou esperar que a indicação de André Mendonça para uma vaga na corte seja aprovada nesta semana pelo Senado Federal.
Mas o presidente também deu recados aos magistrados. “Nós temos um bem que está na nossa frente e não podemos desprezá-lo. Achar que não vai acabar nunca… É um bem que devemos sempre zelar por ele, que é a nossa liberdade. Alguns extrapolam aqui na região da Praça dos Três Poderes, mas essa pessoa vai ser enquadrada, vai se enquadrando, vai vendo que a maioria somos nós, que nós aqui, que temos voto em especial, é que devemos conduzir o destino da nossa nação”, disse.
A cerimônia de filiação de Bolsonaro ao PL também marcou a ida de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), e do ministro Rogério Marinho à sigla. A expectativa é que os ministros Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Tereza Cristina (Agricultura) e Gilson Machado (Turismo) acompanhem o movimento.
Um grupo estimado em 20 deputados federais bolsonaristas, sendo a maioria hoje do PSL ou DEM – siglas que acertaram fusão para a criação da União Brasil –, deve reforçar a bancada do PL nos próximos meses.
Estrutura partidária
O Partido Liberal (PL) conta com uma bancada de 43 deputados federais (terceira maior na Câmara dos Deputados) e 4 senadores (oitava maior no Senado Federal). Nas últimas eleições municipais, a legenda aumentou de 297 para 345 o número de prefeitos, ocupando a sexta posição na lista dos partidos que comandam mais prefeituras.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PL recebe R$ 4,061 milhões por mês do fundo partidário em 2021, totalizando R$ 48,737 milhões no ano, o equivalente a 5,45% do bolo todo. Isso faz do partido o oitavo em dotação de recursos do fundo, com pouco menos da metade do que recebe o primeiro da lista – PSL, com cerca de R$ 104,56 milhões anuais.
O valor do fundo eleitoral ainda não está definido para o próximo pleito, mas, considerando o montante distribuído entre as legendas nas últimas eleições municipais, o PL teria direito a R$ 117.621.670,45 – 58,43% dos valores recebidos pelo PT (R$ 201.297.516,62).
com informações CartaCapital
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