Pesquisa da Atlas Político mostra que ex-presidente amplia vantagens sobre adversários com 42,8% de intenções para 2022 e venceria a todos no segundo turno. Ex-juiz alcança 13,7% das intenções. Bolsonaro mantém vice liderança (31,5%) e Doria fica na lanterna.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou sua vantagem sobre os adversário na corrida eleitoral de 2022, conforme pesquisa do Atlas Político divulgada nesta terça-feira. Se a eleição fosse hoje, Lula teria 42,8% das intenções de votos, contra 31,5% de Jair Bolsonaro (sem partido), reforçando sua liderança. A entrada do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (Podemos) na disputa bagunçou a chamada terceira via, dividindo a preferência dos eleitores antipetistas. Moro assumiu a terceira posição, com 13,7% dos votos, tirando uma parcela de votos de Bolsonaro, mas também de Ciro Gomes (PDT) ―na quarta posição com 6,1% dos votos―, e especialmente de João Doria (PSDB).
Doria, confirmado candidato tucano após as prévias deste final de semana, foi o candidato que mais perdeu com a chegada do ex-juiz. “O eleitorado de Moro é uma base antipetista, apoiador da Lava Jato, que vê o ex-juiz como herói e busca um candidato mais ao centro”, diz o cientista político Andrei Roman, CEO do Atlas. “Esse resultado reflete o momento de Doria, que já estava com dificuldade de decolar e teve prévias conturbadas com seu partido rachado”, diz.
Doria venceu as prévias do partido finalizadas no dia 27 de novembro. Ganhou por uma diferença pequena de votos ―53,99% contra 44,66% do governador gaúcho Eduardo Leite. Enquanto Doria tem a tarefa de reconstituir relações internas e convencer seus próprios pares de que ele é uma opção viável, Moro avança como a novidade numa terceira via. “É a primeira vez que um candidato [da terceira via] vai acima dos 10 pontos desde janeiro”, destaca Roman. A Atlas vem testando os nomes de possíveis candidatos que se opõem a Lula e Bolsonaro desde o início do ano. O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o governador gaúcho Eduardo Leite e o próprio Moro já havia entrado nas pesquisas anteriores, mas nunca havia ultrapassado a barreira dos dois dígitos.
O levantamento on-line feito com 4.401 pessoas entre os dias 27 e 29 de novembro, perguntou como seria a eleição em um cenário sem Moro, para entender o impacto da chegada do ex-juiz nos candidatos. Apenas Lula mantém sua posição inalterada. Bolsonaro saltaria para 34,3% das intenções de voto ― uma diferença de quase 3 pontos percentuais (p.p.); enquanto Ciro iria para 8,5% (+2,4 p.p.); e Doria subiria para 5,7% (+4 p.p.)
“Até então, Bolsonaro não tinha competição”, afirma Roman. O presidente vinha perdendo espaço na corrida eleitoral para sua própria atuação no Governo. A aprovação de Bolsonaro alcançou seu índice mais baixo desde o início de 2019: 65,3% dos brasileiros rejeitam seu Governo. Somente 19% aprovam o seu Governo, a pior marca desde o início da sua gestão, conforme mostra a pesquisa Atlas, divulgada nesta segunda, dia 29.
Segundo turno
Em um cenário de segundo turno, a pesquisa mostra que Lula vence de todos os candidatos: com 50,5% das intenções de voto numa disputa contra Bolsonaro; 46,4% dos votos contra Moro; 42,3% contra Ciro; e 47,2% contra Doria. O número de eleitores que declaram voto em branco, nulo ou que não sabem em quem votar ainda é alto nos cenários em que Lula disputa com Moro, Ciro e Doria, o que mostra que o eleitor ainda está em dúvida. Numa disputa entre Lula e Bolsonaro, somente 13,5% dos eleitores não se posicionam. Esse número sobe, de acordo com o candidato: 24,4% mostram indecisão num confronto entre Lula e Moro, e 37,4% no caso de uma disputa entre Lula e Doria.
Já no caso de uma disputa entre Bolsonaro e os demais candidatos no segundo turno, o atual presidente perde de todos, menos de João Doria, com quem teve com empate técnico.
O desempenho de Moro mostra um recall positivo do ex-ministro, que saiu de cena em 2019 e seguiu para uma consultoria nos Estados Unidos. Houve sempre uma expectativa se ele abraçaria uma campanha eleitoral, o que se confirmou no dia 10 de novembro em sua filiação ao Podemos, quando se perfilou pré-candidato para liderar a terceira via.
Mas seu avanço na pesquisa expõe também os erros de campanha do pedestista Ciro Gomes, que tem como marqueteiro João Santana. Ciro assumiu uma postura de confronto com o PT em busca de votos no bolsonarismo. A pesquisa do Atlas revela uma falha nesse cálculo, uma vez que votos dele se mostram voláteis e migram para Moro.
Perfil dos eleitores
A pesquisa mostra que 7% dos eleitores que afirmaram terem votado em Bolsonaro na eleição passada agora têm intenção de votar em Lula. O petista também está atraindo 40% daqueles que declararam terem votado em branco ou nulo e 48% dos que não compareceram na eleição de 2018 ― quando 42 milhões de eleitores escolheram não votar em nenhum dos candidatos. Esse público poderia ter mudado o rumo da eleição passada, uma vez que Bolsonaro teve 57,7 milhões de votos Fernando Haddad (PT), 47 milhões.
Moro também está atraindo uma parcela importante de ex-bolsonaristas: 18% daqueles que votaram no atual presidente em 2018 dizem que agora vão votar nele. O ex-juiz também é a aposta de 29% de eleitores que votaram branco e nulo e 22% que não compareceram na eleição passada. O eleitor de Moro é bastante equilibrado no quesito gênero e escolaridade. O ex-juiz tem a preferência de pessoas com mais de 35 anos e dos mais ricos: 30% dos eleitores com renda acima de 10.000 reais têm intenção de votar no ex-juiz.
O petista é um candidato forte entre as mulheres (49% das eleitoras afirmam votar em Lula), a maioria do público com ensino fundamental (45%) e médio (46%). Também os moradores da região Nordeste (51%). Bolsonaro tem 30% dos eleitores nordestinos e Moro, 7%. Lula continua na preferência do eleitor com renda de até 2.000 reais (56%) ― um reflexo do programa sociais, como o Bolsa Família, encerrado na atual gestão com a criação do Auxílio Brasil. Apesar de ser um político veterano, Lula atrai um público jovem: 46% dos eleitores de 16 a 24 anos têm intenção de votar no ex-presidente.
Já Bolsonaro tem a preferência dos eleitores homens (39%), bem divididos entre aqueles com ensino fundamental, médio e superior. O presidente ganha destaque entre 37% de moradores das regiões Sudeste e 35% do Centro-Oeste. A maioria de seus eleitores têm renda entre 2.000 e 3.000 reais (40%), são evangélicos (47%) e têm mais de 35 anos. Bolsonaro mantém um público fiel: 65% daqueles que votaram no presidente na última eleição pretendem repetir o voto.
com informações ELPAÍS
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