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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ídolo da Jovem Guarda Wanderley Cardoso fala de sua conversão a Jesus

"Os olhos verdes ajudaram, mas o dono não gostava deles na época da Jovem Guarda. À exceção de Roberto Carlos, que não vê há anos, ele tem se encontrado constantemente com os amigos daqueles tempos".

Foi longa a jornada de Wanderley Cardoso rumo ao sucesso. De ídolo mirim a cantor de música gospel, o artista paulistano experimentou o auge da Jovem Guarda e a temida fase de ostracismo, entregando-se ao alcoolismo antes de se tornar evangélico. Aos 66 anos, do Bom Rapaz – como ele ficou conhecido depois do sucesso da canção homônima – restaram os indefectíveis olhos verdes.
“Tornei-me um rapaz melhor depois que aceitei Jesus”, afirma Wanderley em Belo Horizonte, onde faz tratamento dentário. Prestes a aderir às facetas de porcelana, tratamento da moda que enfeita o sorriso dos artistas deTV, o cantor admite: está mais tranquilo, depois de chegar a andar armado. “Eu era violento, uma pessoa desequilibrada”, reconhece, referindo-se à fase “máquina de fazer sucesso” de sua vida. “Chegavam e diziam: ‘Você vai para o Recife agora’. E tinha de ir”, relembra.

Pai de Cynthia, de 32 anos, André, de 27, Victor, de 15, e Wanderley Cardoso Júnior, de 8, o cantor e compositor se casou duas vezes. Os olhos verdes ajudaram, mas o dono não gostava deles na época da Jovem Guarda. À exceção de Roberto Carlos, que não vê há anos, ele tem se encontrado constantemente com os amigos daqueles tempos. Em Belo Horizonte, no fim do ano passado, ele participou do projeto Minas ao luar, ao lado de Waldirene e do grupo Os Vips. “Encerramos a noite com Festa de arromba”, recorda, empolgado.
Liderado por Roberto Carlos, o movimento musical da década de 1960 significou “tudo” para Wanderley Cardoso. “Até hoje sou identificado como cantor da Jovem Guarda”, orgulha-se. “Outro dia mesmo, no shopping, a menina falou para a mãe: ‘Olha aquele moço da TV’. E a mãe corrigiu: ‘É o Wanderley Cardoso’. Depois veio me abraçar”, conta, sensibilizado com o carinho dos fãs. De dois shows que faz por semana, pelo menos um costuma ser em festa de aniversário dos admiradores.
Desde que se tornou evangélico, há 11 anos – no Rio, frequenta a Igreja Sara Nossa Terra, enquanto em BH vai à Igreja Templo dos Anjos, do pastor Jerônimo, na Barroca –, Wanderley passou a se apresentar em templos. “Dou o meu testemunho nas igrejas”, esclarece, explicando que recebe ofertas dos fiéis em vez de cachê. “A gente leva os discos para vender mais barato, é uma forma de compensar”. Em breve, ele voltará a se apresentar na capital mineira, provavelmente em uma igreja evangélica.
A sobrevivência, hoje em dia, não é tão garantida quanto no auge do sucesso. “Falta ganhar dinheiro”, confessa, lembrando que era bem pago na época da Jovem Guarda. “Atualmente, há muito picareta no meio artístico dando cheque sem fundo”, acusa. O cantor acaba de colocar à venda uma casa na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Separou-se da mulher, Day, cantora evangélica e sua empresária.
Ele diz ter se livrado do vício do álcool graças à religião. “Para beber, só vinho. Mesmo assim, só de vez em quando. A luta para me livrar do alcoolismo foi grande”, revela Wanderley Cardoso, que chegou a ser proprietário de bar na capital fluminense.
Romântico eterno sentimental, o cantor lembra que não por acaso seu primeiro disco se chama Jovem romântico, seguido de álbuns nessa linha, como Perdidamente apaixonado.
A carreira de Wanderley Cardoso começou aos 12 anos, quando ele gravou Canção do jornaleiro, em 78 rotações. Aos 8, já participava de concursos infantis. Aos 12, fez teste com o acordeonista ítalo-brasileiro Mário Zan, que se tornou seu produtor.
Na adolescência, veio a mudança de voz. Wanderley interrompeu a carreira, mas ela foi retomada aos 18 anos, quando passou a integrar conjuntos de baile cantando rocks de Elvis Presley e Paul Anka, além de canções italianas. O primeiro grande sucesso foi Preste atenção, quando integrava a turma da Jovem Guarda.
De Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley gravou Promessa para a trilha do filme Na onda do iê-iê-iê, de 1966, dirigido por Aurélio Teixeira. Essa fita marcou a estreia de Renato Aragão e Os Trapalhões.
Na mesma época, o cantor foi contratado pela TV Excelsior. No programa Os adoráveis trapalhões, atuava ao lado de Ted Boy Marino, Renato Aragão e Ivon Cury, com quem formava um quarteto. Posteriormente, já em carreira solo, transferiu-se para o Programa Sílvio Santos. Wanderley participava do quadro “Os galãs cantam e dançam” ao lado de Paulo Sérgio e Antônio Marcos.
O cantor gravou mais de 100 discos, entre LPs (incluindo 78 rotações e compactos), compactos duplos e simples e CDs. O mais recente, nos formatos CD e DVD, foi Wanderley Cardoso ao vivo – 40 anos de sucesso do bom rapaz, lançado pelo selo Wanday Music, de propriedade dele, com distribuição da EMI Music.
Era uma brasa, mora?
Jovem Guarda é sinônimo de alienação? “Não. Ela mudou a maneira de as pessoas se vestirem, o tipo de cabelo, a linguagem”, defende Wanderley Cardoso. E cita a cabeleira dos jovens, a calça de cintura baixa – Saint-Tropez e boca de sino –, além da minissaia e das gírias (“É uma brasa, mora?”), como responsáveis pela revolução comportamental dos anos 1960.
“Ninguém de nós quis se envolver com política, já que a política se envolve com a gente”, garante o cantor. Em plena ditadura, ele chegou a viajar em aviões militares para fazer shows. Ele conta que o “o pessoal do contra”, na época da Jovem Guarda, era a turma da Bossa Nova, além de Elis Regina.
“Cheguei a ter uma canção (Vou embora, vou sumir, de Natan) censurada”, queixa-se. Mas esclarece: o problema surgiu por causa “de um gesto obsceno, àla Michael Jackson”, que fazia ao interpretar a música. “Passei uma noite na Censura Federal, em São Paulo, e me proibiram de continuar fazendo aquele gesto”, diz Wanderley.

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