Hospital regional de Santarém, organização social da Pró-Saúde |
A organização social Pró-Saúde mantém um verdadeiro
império no Pará no controle dos principais hospitais regionais do Estado, que
rende a OS R$ 265 milhões por ano e fortes indícios de superfaturamento de
serviços pagos com verbas públicas.
Ao invés da Pró-Saúde aplicar dinheiro que recebe
exclusivamente na saúde da população das regiões em que atua com a compra de
medicamentos, material técnico, insumos, gases medicinais e procedimentos
cirúrgicos, paga empresas prestadoras de serviço de outros estados com verbas
de custeio, num flagrante desvio de finalidade.
A Pró-Saúde desembolsa somas consideráveis para empresas
de outros estados para realizar a acreditação de seus exames, exigidos por
normas da Agência Nacional de Saúde (ANS). O DIÁRIO teve acesso a duas notas
fiscais emitidas pela Gestão Consultoria Ltda., localizada na cidade de Montes
Claros (MG), contra a Pró-Saúde. A primeira, de 30 de outubro do ano passado no
valor de R$ 36.478,95; e a segunda emitida em março desse ano, no mesmo valor.
Ainda não se sabe da necessidade desse serviço, já que apenas três laboratórios
paraenses têm o certificado de acreditação emitido pela Sociedade Brasileira de
Patologia Clínica.
Inquéritos busca apurar a existência de possível desvio de verba pública e sobrepreço na contratação pela Pró-Saúde da empresa DNMV-S.S-MV Sistemas. |
A Cironco Clínica Médica de Cirurgia Oncológica
Ltda., da cidade de Porto Alegre, por exemplo, ganhou R$ 30 mil da Pró-Saúde em
novembro do ano passado para a prestação de “serviços médicos de oncologia no
Hospital Regional de Santarém”. A questão é: será que não existem empresas
locais aptas a prestar esse serviço? O gasto com passagens aéreas também é
exorbitante: apenas em novembro do ano passado foram quase R$ 30 mil
dispendidos pela OS no pagamento de deslocamentos de profissionais de fora para
cá.
Comparação
Para avaliar o tratamento dispensado à Pró-Saúde pelo
Governo do Estado cabe uma comparação: a OS recebeu do Estado do Tocantins
cerca de R$ 258 milhões por ano para administrar 17 hospitais, enquanto que
aqui no Pará, para administrar apenas quatro hospitais a mesma Pró-Saúde foi
contratada por R$ 265 milhões, ou seja R$ 13 milhões acima do contratado no
Tocantins para administrar 13 hospitais a menos que aqui.
Notas Fiscais mostram estariam sendo manipulados pela Pró-Saúde |
Porém, no Tocantins, a Pró-Saúde não encontrou a vida
fácil e a mesma proteção que lhe foi dispensada no Pará. O Ministério Público
Federal do Tocantins requisitou a instauração pela Polícia Federal de cinco
inquéritos policiais para apurar irregularidades nos contratos com a OS, tendo
como base o relatório nº 11969-Denasus a respeito das atividades desenvolvidas
após a terceirização.
Um dos inquéritos busca apurar a existência de
possível desvio de verba pública e sobrepreço na contratação pela Pró-Saúde da
empresa DNMV-S.S-MV Sistemas. Conforme o MPF, o relatório do Denasus constatou
que os preços praticados na contratação excederam os valores praticados no
mercado. Após pesquisa de mercado, verificou-se que a MV Sistemas praticou
sobrepreço superior a R$ 10 milhões.
Segundo os procuradores, outra constatação do
relatório do Denasus que merece ser aprofundada refere-se ao elevado número de
consultorias pela Pró-Saúde, tendo em vista que desvirtuam o objeto do contrato
de gestão. A mesma prática é adotada fartamente pela Organização aqui no Estado
do Pará.
O sumiço de 95.089 unidades de medicamentos/insumos
com prejuízo no valor de R$ 1.167.020,62 é outra irregularidade apontada no
relatório do Denasus. Segundo despacho do MPF/TO, é claro o desaparecimento dos
produtos após a Pró-Saúde ter assumido a gestão dos hospitais.
OS cobra 10% de “taxa de administração”
O Pró-Saúde
transfere dinheiro entre hospitais gerenciados pela organização, custeia a
despesa de outros hospitais e cobra uma taxa de administração milionária que
engorda ainda mais os cofres da entidade.
Para gerenciar os quatro hospitais regionais sob sua
responsabilidade, a Pró-Saúde cobra um percentual de 10% a título de “taxa de
administração” do valor total dos contratos de gestão que mantêm com a Sespa,
ou seja, dos R$ 265.000.000,00 que recebe por ano do Estado para gerenciar os
quatro hospitais, a Pró-Saúde fica com R$ 26.500.000,00, limpos.
O faturamento da Pró-Saúde também é sempre garantido,
sem nenhum desconto, com a empresa atingindo ou não as metas contratadas. A OS
recebe contratualmente da Sespa um valor garantido de R$ 600.000,00 mensais
para realizar 1.300 consultas por mês em diversas especialidades, ou seja, por
uma consulta médica no Hospital Regional de Altamira a Pro-Saúde recebe o valor
de R$ 461,52.
Só que a OS raramente cumpre a meta de consultas
contratada e a Sespa não efetua qualquer desconto por metas não atingidas. E o
que é pior: tudo previsto em contrato de gestão. O valor da consulta chega a
ser quase dobro de uma consulta particular de um bom médico especialista na
capital, que gira em torno de R$ 200,00.
Sespa
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) nega
as suspeitas e irregularidades. Rita Facundo, diretora de desenvolvimento de
redes assistenciais e de regionalização da Sespa, negou ao DIÁRIO que a
Pró-Saúde receba 10% do valor total dos contratos mantidos com o Estado a
título de taxa de administração.
Ela também classificou como equivocada a informação
dos repasses feitos pela Pró-Saúde através do Hospital de Santarém para a sede
da empresa em São Paulo como mostram os comprovantes de transferência em poder
do jornal.
Como se vê, os esquemas da Pró-Saúde não existem
apenas no Pará. A diferença é que em outros Estados a OS é fiscalizada,
investigada, cobrada e punida, como aconteceu no Tocantins, onde teve seus
contratos de gestão rescindidos. Aqui, por enquanto, como mostram as
reportagens do DIÁRIO, muita coisa precisa ser apurada. Com a palavra o
Ministério Público e a Justiça paraense.