Em seu novo livro, lançado nesta terça-feira 30, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro reúne um compilado de desculpas para justificar os excessos que cometeu na Operação Lava Jato e para relativizar a permanência na equipe de Jair Bolsonaro.
Em trechos divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo e Valor Econômico, Moro ainda minimiza as mensagens publicadas em 2018 pelo general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército.
Na ocasião, o militar insinuou que as Forças Armadas estariam prontas para uma ruptura institucional na tentativa de pressionar o Supremo Tribunal Federal a não conceder um habeas corpus ao ex-presidente Lula (PT). O ex-juiz disse não ter visto ‘problemas’ na mensagem.
“Se o general quisesse pressionar o STF, agiria pelos bastidores e não publicamente, sendo plausível a sua alegação de que o tuíte tinha por objetivo conter os exaltados. […] Não cabe, evidentemente, às Forças Armadas intervir na política ou mesmo influenciar julgamentos. Não me parece que foi isso que ocorreu no episódio”, diz Moro, que chama ainda o general de ‘homem honrado’ que ‘manteve os militares nos quartéis’ durante uma ‘grande turbulência’.
Na obra, há outros acenos de Moro aos militares, de quem tenta se aproximar desde que lançou sua pré-candidatura à Presidência pelo Podemos.
Sobre o tempo em que esteve no governo Bolsonaro, Moro reúne no texto uma série de desculpas para tentar justificar sua permanência e omissão diante das irregularidades que viu em mais de um ano.
Apesar de não revelar nenhum episódio novo, o livro reforça que o candidato se manteve calado mesmo diante de todas as evidências. Segundo diz, se omitiu em uma tentativa de proteger a Polícia Federal.
“Na conversa com Bolsonaro a respeito do tema, fui, porém, orientado a me manter distante da questão. ‘Se não vai ajudar, então não atrapalhe’, ele me disse”, escreve Moro.
O trecho se refere à decisão do STF que suspendeu as investigações no caso das rachadinhas de Flávio Bolsonaro, senador e filho do presidente.
Segundo conta, conversou com o ex-capitão para tentar demovê-lo da ideia de barrar as investigações contra o filho, mas foi orientado a ‘não se meter no caso’ se não fosse colaborar com a suposta interferência.
Indicação ao Supremo.
Na série de desculpas publicadas, o ex-juiz nega que tenha negociado uma indicação ao Supremo para permanecer no governo federal. Os relatos escritos, no entanto, revelam que a vaga era o objetivo do magistrado desde o início.
“Evidentemente eu não descartava a possibilidade de ser nomeado pelo presidente no momento oportuno, mas não cabia estabelecer isso como condição para aceitar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. […] Eu simplesmente pensei que, naquele momento, demandar a promessa da vaga não era algo honrado a fazer. Além disso, a indicação do meu nome viria naturalmente se eu, como ministro da Justiça, fizesse um bom trabalho (aqui de fato fui ingênuo, , admito)”, escreve em um trecho.
Em outro momento, o ex-ministro minimiza outro crime cometido por Bolsonaro: participar de uma manifestação em favor do fechamento do STF.“Criticar instituições ou agentes públicos faz parte do regime democrático. […] A ida do presidente àquele tipo de evento foi péssima do ponto de vista político, ainda que ele não tenha feito declarações diretamente a favor de uma solução autoritária para o país”, destaca o ex-juiz em defesa de Bolsonaro.
Ainda sobre o STF, o ex-juiz segue a cartilha do governo e, a todo momento, critica a anulação dos processos parciais que conduziu no âmbito da Lava Jato contra Lula. Para ele, o tribunal errou na anulação por não compreender a decisão tomada por ele.
“Havia nítida pressão política para que eu fosse de alguma maneira responsabilizado –para piorar as coisas, a decisão aparentava não ter sido bem compreendida no STF.
Se eu sofresse alguma punição naquele caso, penso, seria uma afronta à independência da magistratura.
Além disso, punir um juiz por fazer o que era certo no contexto dos fatos era algo ainda mais surreal”, diz ao defender o lawfare praticado contra Lula.
Na obra, Moro ainda nega que tenha divulgado os áudios das conversas entre Dilma Rousseff e Lula, que para ele não contribuíram para o impeachment, e diz que trechos da delação de Antônio Palocci vazados antes das eleições de 2018 não interferiram no processo eleitoral.
Eleições 2022
Moro também justifica a versão contada enquanto era juiz de que ‘nunca seria candidato’. De acordo com a sua teoria, ‘nunca fez planos sobre eleições’ e teria sido ‘naturalmente’ levado a posição.
No entanto, reforça acenos a prováveis aliados na disputa em 2022, como elogios a João Doria (PSDB) e ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
com informações CARTACAPITAL
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