A
bancada do PMDB na Assembleia Legislativa (AL), com o apoio das
bancadas do PT e do PSol, protocolou ontem junto ao Ministério Público
do Estado (MP) e Tribunal de Contas do Estado (TCE) representação contra
o governo do Estado referente à aplicação
dos recursos provenientes da Taxa Mineral, encargo criado com o ún
JATENE DE BARBA DE MOLHO |
ico
objetivo de estruturar a administração para fiscalizar a atividade
mineradora.
Os parlamentares confirmam, no
documento protocolado, com dados recolhidos junto ao Sistema Integrado
de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem), que os
valores seguem sendo utilizados para a construção de estradas,
hospitais, pagamento
de folha de pessoal e até mesmo para o pagamento de débitos
relacionados aos exercícios anteriores - o que configura desvio de
finalidade, tratando-se, portanto, de um crime.
Antes de irem ao MP e ao TCE, os
peemedebistas discutiram a iniciativa no plenário da AL, e o próprio
líder do governo, José Megale (PSDB), em sua fala, confirmou o uso do dinheiro em outras frentes.
“Já temos elementos suficientes para
provar que o governo desvia a finalidade da Taxa Mineral e nós
esperamos que o Ministério Público e o Tribunal de Contas tomem as
providências cabíveis. Ou quer dizer que só porque o governador quer
construir escolas e hospitais ele pode fazer de qualquer jeito? Para que
existem as leis então? Para que o Executivo envia para esta casa a mensagem
pedindo a aprovação do projeto que cria a Taxa Mineral, para depois
usar o dinheiro em outra coisa? Não é bem assim”, explicou a deputada
Simone Morgado (PMDB).
“A criação da taxa tem uma finalidade
apenas, que é a fiscalização da atividade das mineradoras que atuam no
Estado. Somos quase a maior província mineradora do mundo e não temos
expertise no assunto, isso também nos levou a aprovar a criação desse
encargo. Se o ordenador de despesas, no caso, o governador, aplicar um
recurso em desacordo com a finalidade desse, é improbidade
administrativa. Enquanto isso, nós não sabemos se as empresas estão
explorando o minério que elas realmente dizem estar explorando, por
falta de fiscalização”, avaliou Parsifal Pontes, líder da bancada do
PMDB. “E esse tipo de desvio de finalidade deve acontecer em outros
setores também. Continuamos analisando o Siafem e já encontramos outras
evidências”.
Precedente
O também peemedebista Francisco Melo, o
Chicão, reforçou que esse é um tipo de precedente que não pode ser
aberto para nenhuma autoridade, muito menos para o governo do Estado.
“Se você tem um contrato com um objetivo ‘x’
e acaba fazendo ‘y’, você é penalizado, pois se desviou do que foi
acordado. É o que está acontecendo aqui. Nós aprovamos uma lei, estamos
fiscalizando o cumprimento dela, achamos um erro nessa execução e
estamos pedindo providências a quem pode tomá-las”, explanou.
O líder governista tratou de atacar uma
parte da oposição para defender o lado de seu partido. “Contra o povo e
contra o pobre, como vocês (oposicionistas) chamam aqueles que integram o
meu partido, é quem vota contra a Lei da Responsabilidade Fiscal, como
os partidos dos senhores o fizeram. A gente entende o discurso inflamado
nesse momento, é natural, mas tem de haver maturidade. Falar em desvio
de recursos é usar indevidamente a terminologia. Todos aqui aprovamos a
Lei da Taxa Mineral porque sabíamos da importância que ela tem, e as
obras estão saindo, sim. A execução dessa lei tem sido feita da mesma
forma como o Estado vem sendo administrado: com dignidade, de forma
correta e ouvindo o clamor da sociedade”, admitiu o deputado, mais uma
vez confirmando o desvio de finalidade dos recursos.
Governo do Estado ainda quer mais taxas
“O governador já pode ser chamado de
‘Játaxa’”, ironizou a deputada Simone Morgado, ao levar à tribuna a
informação de que haverá uma audiência pública na próxima quinta-feira,
dia 17, para discutir três projetos de lei do Executivo encaminhados na
última terça, 8, pelo Governo do Estado à Assembleia Legislativa.
O primeiro reajusta taxas e cria outras
novas para a Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do
Estado do Pará, a Arcon - dentre eles os transportes rodoviário,
hidroviário e a energia elétrica -, e os outros dois se referem à
criação de núcleos de gerenciamento dos programas CredCidadão e
Municípios Verdes.
Indignada, a parlamentar foi à tribuna
anunciar que a casa deve receber membros da administração estadual que
justifiquem a criação dos três projetos de lei, e, especificamente sobre
a Arcon, insistiu que qualquer mudança nas taxas irá se refletir no
bolso da população.
“Pelo que analisei das mensagens enviadas a
esta casa, vi que se tratam de projetos que rapidamente ganham uma
comissão avaliadora que revisa o texto hoje e aprova amanhã. Mas não
pode ser assim. É preciso que a sociedade, os empresários, o governo do
Estado venham aqui discutir essas propostas”, anunciou a parlamentar.
Fome de arrecadação
“O governador já nos mostrou, depois do que
aconteceu com a Taxa Mineral, que as leis aprovadas por esta casa, para
ele, não passam de uma ‘potoca’. A gente aprova, ele vai lá e desvia,
muda”, alfinetou.
“É uma fome grande de arrecadação, e nem
sempre a transparência é suficiente na hora de mostrar como o gasto
acontece. As taxas da Arcon já se configuram uma verdadeira insanidade
para a região do Marajó, por exemplo. Custa o dobro licenciar uma lancha
para cem passageiros em relação ao valor cobrado para se licenciar um
micro-ônibus. Querem encarecer o que já é muito caro”, lamentou o
deputado petista Carlos Bordalo. “A criação desses núcleos de
gerenciamento, no meu entendimento, é para fazer algo que o Banpará já
faz e, se acontecer mesmo, resultará na criação de nada menos que 54
novos cargos comissionados, o que deve se configurar em um aumento
considerável para a folha de pessoal”, detalhou.
Megale garantiu que todos os esclarecimentos
necessários serão feitos aos parlamentares antes de os projetos
entrarem em votação. “O próprio (Waldir) Ganzer (deputado petista)
comentou comigo dia desses que programas como o CredCidadão precisam ser
institucionalizados, e é exatamente isso o que se pretende com a
criação desses núcleos de gerenciamento. A Arcon virá a esta casa, os
secretários prestarão esclarecimentos sobre os núcleos que deverão ser
criados, nós não temos medo da verdade”, respondeu.
>>>RESPOSTAS
TCE se manifesta
“O Tribunal de Contas do Estado do Pará
(TCE-PA), através da sua assessoria de comunicação, vem, pela presente
nota, informar que: no que diz respeito à Taxa Mineral, objeto da Lei
Ordinária nº 215/2011, não há nenhuma investigação extraordinária em
curso no âmbito da instituição sobre a aplicação dos recursos dela
advindos. Outrossim, o TCE-PA reafirma que todas as receitas e despesas
relativas a execução orçamentária da administração pública do Estado do
Pará são ordinariamente fiscalizadas”.
Nota da Redação
O DIÁRIO mantém a informação publicada na
edição de ontem. O primeiro contato com o assessor de comunicação do
Tribunal de Contas do Estado (TCE), Antônio Remígio, foi feito por
telefone, na segunda-feira, 7 de outubro. Nessa data, Remígio informou
que precisaria de tempo para levantar as informações sobre o assunto e
pediu que um novo contato fosse feito na manhã do dia seguinte,
terça-feira, 8, o que foi feito pela repórter Rita Soares.
No primeiro contato, Antônio Remígio
informou que um servidor do Departamento de Controle Externo (DCE) havia
sido designado para a missão de analisar, a partir dos dados do Siafem,
os caminhos seguidos pelos recursos da Taxa de Exploração Mineral.
Remígio pediu, contudo, que um novo contato
fosse feito à tarde, quando, após uma audiência com o presidente do TCE,
Cipriano Sabino, poderia oficializar a informação, o que foi feito na
tarde de terça-feira.
Com a informação em mãos, o DIÁRIO procurou o governo do Estado, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom).
Os detalhes sobre as informações do TCE
foram repassados para que o Estado se manifestasse, mas até o fechamento
da edição da última quarta-feira nenhuma resposta foi dada. É de
estranhar a nota que tenta desacreditar este jornal e a repórter que,
por boa fé, aceitou receber informações do órgão que julgava confiável
via telefone.
De estranhar também que o TCE tenha recuado
após ter chegado, inclusive, a anunciar prazo para finalizar o trabalho
de apuração: dez dias.
Mais estranho ainda é o tribunal assumir
publicamente que não pretende apurar os fortes indícios de desvio de
recursos da Taxa Mineral, considerando-se que a fiscalização e o
controle do uso do dinheiro público estão entre suas razões de ser.
(Diário do Pará)
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