A partir do capítulo 7 de S. Mateus, que hoje começamos a ver, o
discurso da montanha parece tomar uma nova profundidade, orientado mais
em particular para os discípulos, isto é, para os membros da comunidade
cristã de Mateus e de todos os tempos.
O contraste exagerado
entre o cisco no olho alheio e a trave no próprio pode refletir um
provérbio popular de então, a rápida observação das faltas dos outros,
em contraste com a tolerância das faltas do próprio caráter, é tema
comum em todos os povos e línguas. E por isso, os homens ao longo dos
tempos foram compondo provérbios que iluminam claramente as suas
culturas e tradições.
No provérbio de hoje
Jesus pretende chamar a atenção dos seus discípulos para um perigo que
os cerca: o perigo de se considerarem perfeitos e superiores e por isso
se separarem dos outros, como fariseus. O significado da palavra fariseu
é separado.
O sentido que tem aqui o verbo julgar
não é simplesmente fazer-se uma opinião, algo que dificilmente
poderemos evitar, mas julgar duramente, ou seja, condenar os outros,
como se diz na passagem paralela de S. Lucas: Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados (6, 37).
O julgamento pertence a
Deus e não a nós, porque só Deus conhece a fundo o coração do homem.
Constituir-se em juiz dos outros é uma ousadia irresponsável, é tomar o
lugar de Deus. Deus nos aceita e ama todos tal como somos, e olha-nos
com amor de Pai que dissimula as faltas dos seus filhos, a quem vê
através do seu próprio Filho, Cristo.
Se, anteriormente, ao
longo do discurso da montanha, Jesus falou do perdão das ofensas e do
amor inclusivamente ao inimigo, para tentar aproximar-nos ao menos um
pouco da perfeição de Deus, agora está apontando à imitação da sua
misericórdia. Como diz o livro da Sabedoria, Deus compadece-se de todos
corrige os que caem para que se convertam e acreditem n’Ele.
À medida que usarmos
com os outros, usá-la-ão conosco. Isso não quer dizer que Deus – a quem
não se menciona no texto por respeito – nos julgará com a nossa medida
injusta e impiedosa. Esse não é o seu modo de proceder. Certamente, quem
age assim com os outros, expõe-se a um julgamento mais severo para si
mesmo.
Deus teria, digamos,
duas medidas para o seu julgamento: uma de justiça, outra de
misericórdia. Ele medir-nos-á com aquela que nós utilizarmos, nesta
vida, com os irmãos. É a mesma lição da parábola do devedor insolvente
que é perdoado e não perdoa, ou a contida petição do Pai-nosso: perdoa
as nossas ofensas… O que condena o irmão auto-exclui-se do perdão de
Deus e cai sob a jurisdição da lei, que não deixará de acusá-lo e
condenar como imperfeito que é.
Todos somos
imperfeitos, tanto e mais que os outros, ainda que, julgando-os com
superioridade, os desprezemos. Tal atitude, desprovida de amor, provém
da nossa própria cegueira que nos impede de ver os nossos defeitos.
Manter a conscientemente tal postura é hipocrisia astuta, cujo modelo no
evangelho são escribas e fariseus.
É muito velho o costume
de criticar os outros. Assim, pensamos justificar-nos a nós como
melhores. Mas, a experiência demonstra que os mais críticos, os que
julgam ser perfeitos, saber tudo e ter a melhor solução para qualquer
problema, costumam ser os que menos fazem e levam aos outros.
Um olhar no espelho,
uma vista de olhos à nossa pequenez e insignificância, à nossa “trave”
no olho, minimizará sem dúvida as falhas dos outros, e far-nos-á mais
tolerantes e acolhedores, pensando que os outros também têm que
suportar-nos a nós. Conhecer as nossas próprias limitações, admiti-las e
aceitá-las ensinar-nos-á, a saber, estar e viver com os outros. Assim,
caminharemos em verdade e simplicidade, com ânimo de fraternidade,
tolerância e compreensão para com os outros sem os condenar.
Se Deus é otimista a
respeito do homem e o ama apesar de tudo, o discípulo de Cristo há-de
fazer o mesmo em relação aos seus irmãos. Este é um caminho mais seguro
para a realização e a felicidade pessoal do que o engano da presunção.
Meu irmão, minha irmã,
nós não temos o direito de julgar, ao menos que tiremos primeiro a trave
que está no nosso olho. Ou seja, se eu sou um exemplo, no caso tenho
todo direito de julgar, mas através da Escritura, logo, se eu sou um
homem integro diante de Deus no que concerne a alguma prática, seja ela
confessional, doutrinária, ou moral, tenho duas ferramentas em mãos e
que contribuem entre si para o julgamento Cristão; Primeiro: O fato que a
Escritura Sagrada condena expressamente determinada prática, e em
segundo, eu sou um homem que não pratico tais coisas, e assim, a trave do meu olho já foi tirada, e se eu tirei a trave do meu olho, tenho todo o argumento para tirar o argueiro do olho do meu irmão.
Pai, livra-me de julgar
meus semelhantes de maneira severa e impiedosa. Que eu seja
misericordioso com eles, assim como és misericordioso comigo.
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