Os três pesquisadores que ganharam o Prêmio Nobel de Química de 2025 desbravaram uma nova fronteira na ciência dos materiais através do seu desenvolvimento inovador de arcabouços metal-orgânicos, estruturas cristalinas que podem revolucionar desde a captura de carbono até a coleta de água nas regiões mais áridas do mundo.
A Academia Real de Ciências da Suécia anunciou nesta quarta-feira que Susumu Kitagawa, da Universidade de Kyoto, Richard Robson, da Universidade de Melbourne, e Omar Yaghi, da Universidade da Califórnia, Berkeley, dividirão o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (US$ 1,2 milhão) pelo trabalho de criação desses materiais altamente porosos
Arquitetura Molecular Revolucionária
Estruturas metal-orgânicas, ou MOFs, representam o que o Comitê Nobel descreveu como "um novo tipo de arquitetura molecular" que oferece aos produtos químicos ferramentas inovadoras para enfrentar desafios globais.
Esses materiais consistem em aglomerados metálicos conectados por moléculas orgânicas, criando estruturas com imensas cavidades internas capazes de capturar, armazenar e liberar moléculas seletivamente específicas.
O comitê destacou que o trabalho dos laureados "abre novos caminhos para que os químicos enfrentem alguns dos desafios urgentes que encontramos".
As aplicações variam desde a remoção de água do ar do deserto até a captura de dióxido de carbono de emissões industriais e o armazenamento de hidrogênio para energia limpa.
O avanço começou no final dos anos 1980, quando Robson, enquanto preparava modelos para aulas de química na Universidade de Melbourne, teve a visão de criar estruturas semelhantes a diamantes com grandes espaços internos.
Seu artigo de 1989 demonstrou que a combinação de íons de cobre com moléculas especialmente projetadas de quatro braços poderia criar estruturas cristalinas com grandes cavidades, ao contrário dos materiais tradicionais densos
Impacto Global e Potencial Comercial
Yaghi, que conhece o termo "química reticular" para este campo, liderou esforços para traduzir descobertas de laboratório em aplicações no mundo real.
Sua equipe desenvolveu dispositivos baseados em MOFs capazes de extrair água do deserto usando apenas luz solar, sucesso já demonstrado no Vale da Morte, Califórnia.
A tecnologia pode produzir até 285 gramas de água por quilograma de MOF diariamente, oferecendo soluções potenciais para regiões do mundo com escassez de água.
As aplicações comerciais estão se expandindo rapidamente.
Segundo pesquisas de mercado, o mercado global de MOFs está crescendo cerca de 30% ao ano e pode atingir centenas de milhões de dólares até 2035.
Empresas como Svante, Nuada e BASF estão implementando sistemas de captura de carbono baseados em MOFs, sendo que a tecnologia CALF-20 da Svante já captura aproximadamente uma tonelada de CO₂ por dia a partir de emissões de fábricas de cimento.
Reconhecimento Científico e Perspectivas Futuras
O Prêmio Nobel de Química de 2025 representa a terceira premiação anunciada este ano, após os prêmios de medicina e física.
Todos os três vencedores possuem vasta experiência: Kitagawa foi pioneiro no conceito de "cristais porosos suaves" que respondeu a estímulos químicos e físicos, Robson desenvolveu princípios de design racional para engenharia de cristais, e Yaghi publicou mais de 300 artigos com mais de 227.000 manuais.
Esse reconhecimento ocorre enquanto os MOFs transitam de curiosidades de laboratório para aplicações industriais que abordam mudanças climáticas, armazenamento de energia e escassez de água. Com mais de 100.000 estruturas de MOF já sintetizadas e novas aplicações surgindo na entrega de medicamentos, sensores e catálise, o trabalho dos laureados promete influenciar a química e a ciência dos materiais nas próximas décadas
Fonte : Future Marketi Sinc
Por Redação Blog do Xarope , Victor Palheta
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