Por André Borges | De Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop e Guarantã do Norte (MT)
Do caos à lama, são aproximadamente
3 mil quilômetros de distância. O caminhoneiro que optou pelo primeiro destino,
o caos, hoje agoniza nas filas intermináveis que se formaram ao redor do porto
de Santos. Aquele que partiu para a segunda opção, tenta a sorte na BR-163, uma
promessa de rodovia que neste ano completa três décadas, e que nunca se
cumpriu.
Não há terceira via. O drama vivido hoje por
quem produz soja e milho no norte do Mato Grosso, maior celeiro de grãos do
país, escancara a situação da logística nacional. A confusão que tomou conta
dos portos do Sul e Sudeste não pode ser compreendida ou explicada apenas pelas
limitações dos terminais portuários. Para entendê-la, é preciso encarar a lama.
Durante uma semana, a reportagem do Valor percorreu mais de 1,5 mil quilômetros da BR-163,
também conhecida como rodovia Cuiabá-Santarém. A viagem teve início na região
central da produção de grãos do Mato Grosso, nos municípios de Lucas do Rio
Verde e Sorriso, e seguiu sentido norte, até o porto de Santarém, no Pará, onde
a BR-163 termina de frente para um oceano de água doce, o encontro das águas
dos rios Tapajós e Amazonas.
Do lado mato-grossense, a estrada de pista
simples e asfalto castigado sofre com o movimento intenso dos caminhões. Os
acostamentos são precários e, em muitos trechos, sequer existem. Essa rota, no
entanto, torna-se bem mais complicada quando se chega à fronteira com o Pará.
Do empoeirado município de Guarantã do Norte
(MT), na divisa dos dois Estados, até Santarém, são 1.094 quilômetros de
aventura. Conforme se avança rumo à floresta amazônica, ficam mais nítidas as
razões que levaram milhares de caminhoneiros a fugir dessa rota para se
aglomerar, dias a fio, nas entradas de Santos e Paranaguá.
Quase 600 quilômetros da BR-163 permanecem
exatamente como sempre foram: uma arriscada estrada de terra. Nos trechos com
asfalto - muitas vezes, apenas alguns metros de chão com revestimento - há
problemas graves de sinalização. Buracos e atoleiros testam a habilidade dos
motoristas. Caminhões deslizam pelo barro. Por vezes, tombam pelo caminho e
despejam toneladas de grãos mata adentro.
Aberta 30 anos atrás, a BR-163 nasceu com a
vocação de se transformar em um dos principais corredores para o escoamento do
Centro-Oeste. A partir de seu traçado rumo ao norte do país, é possível acessar
a hidrovia do Amazonas, uma porta de saída privilegiada para levar a produção
nacional aos grandes compradores mundiais. Uma miríade de problemas, porém, tem
adiado essa missão.