Pequenos agricultores continuam sendo expulsos de suas terras e tendo casas queimadas na zona rural de Uruará durante operação do IBAMA. Um dos episódios de barbaridade ocorreu na terça-feira, 26 de maio de 2020, numa pequena propriedade do travessão km 175 sul, a 60 quilômetros da rodovia Transamazônica (BR-230), zona rural do município de Uruará (sudoeste do Pará) o agricultor, sua esposa e três filhos menores de 10 anos foram expulsos de suas terras e tiveram apenas 10 minutos para desocupar a casa antes de os servidores do IBAMA atearem fogo na residência. Não conseguiram retirar muita coisa do interior da casa e foram obrigados a assistir de longe o fogo consumir tudo que lutaram para conseguir durante uma vida inteira.
Queimar casa de pequenos agricultores tem sido um esporte ou hobby dos servidores do órgão ambiental federal, que todos os dias expulsam agricultores sob forte ameaça de armas de fogo de grosso calibre.
A agricultora Rose, muito abalada, nos conta que na casa moravam 7 pessoas, segundo ela, na primeira visita homens armados apontaram seus trabucos (armas grandes) para a cabeça dos homens na frente das crianças, e na segunda vez que fizeram a visita foi para pôr fogo na casa. “A primeira vez que eles chegaram fizeram abordagem, botaram arma na cabeça dos homens na frente das crianças. E agora quando eles voltaram ontem (terça-feira, 26 de maio de 2020) para queimar deram 10 minutos para tirar as coisas, aí queimaram a casa. Agora não temos mais para onde ir. Queimaram as casas de amigos e ameaçaram queimar mais casas”, contou a agricultora em áudio enviado a nossa equipe, mas muito abalada pela situação não conseguiu mais falar, entretanto nos relatou por escrito que a área não é de invasão, a família morava há 7 anos na propriedade, a qual a mesma havia comprado com dinheiro de uma herança recebida, investiu fazendo cultivo de lavouras e agora tudo se acabou, ficando a família apenas com a roupa do corpo e objetos de cozinha.
A agricultora disse ainda que o IBAMA proibiu a família de retornar para a propriedade e ordenou que retirassem a cerca e todas as criações que nela há.
No mesmo travessão o IBAMA já queimou outra casa, e já havia queimado outras casas em vicinais próximas, como no km 165 sul.
As propriedades ficam dentro da chamada Linha Vermelha, que por hora pertence a já demarcada e homologada Terra Indígena Cachoeira Seca, mas ainda não foi decretado o processo de desintrusão (retirada dos não índios). No local só há agricultores, não existe presença de índios e a demarcação tem sido questionada desde quando o picadão foi realizado no final dos anos 90. A homologação foi feita às pressas em 2016 pela então presidente Dilma Roussef numa tentativa de se salvar do impeachment e agradar as nações da Europa e Estados Unidos, no entanto desagradando amargamente os moradores desta região.
Na operação que seria em tese para combater o desmatamento na região, está na realidade sendo de opressão, de abuso de poder, de destruição de patrimônio privado e violenta. Tudo isso com o apoio das forças armadas, recomendado pelo MPF e determinado pela justiça. Não aparece nenhum órgão para ouvir, compreender e amparar estas humildes famílias de agricultores. São tratadas como escória sem a menor significância.
Onde está o pessoal do Direitos Humanos? Onde está a OAB? E a Justiça, está vendada mesmo? O que fazem nesse momento os legisladores federais? E a presidência da república vai assistir a tudo isso de braços cruzados? Já não bastam as populações das outras regiões do país e do restante do mundo apoiarem e aplaudirem? Aqui na Amazônia esse povo que a habita, em sua grande maioria, são homens e mulheres não índios, são seres humanos trabalhadores que só querem cultivar a terra e garantir o seu pão de cada dia. Merecem respeito e devem ser tratados com educação.
Quem irá pagar os prejuízos destas famílias? É justo que eles percam tudo e fiquem sem nada, não havendo ressarcimento? Ficarão sem moradia?
Lembrando que há uma pandemia em que as famílias são quase que obrigadas a ficarem em casa? De quem será a responsabilidade caso estas pessoas adoeçam e evoluam a óbito?
O que a gente vê, como a história sempre mostrou, é que o pobre é quem sempre se lasca. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
Covardes!