Deputado Torrinho aciona direitos humanos e dos animais para monitorar Apyterewa
O deputado estadual Torrinho Torres (Democratas), subiu o tom nesta terça-feira (3), na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), para falar sobre a situação que se abateu sobre a região do Sul do estado, com o início da operação deflagrada pelo governo federal nesta segunda-feira (2) cujo objetivo é expulsar supostos invasores da Terra Indígena (TI) Apyterewa, localizado no município de São Félix do Xingu, sul do Pará.
“Não tratem nossa gente feito lixo!”. Essa foi a frase que ganhou eco na tribuna da Alepa na fala contundente do parlamentar ao afirma que as pessoas estão tendo seus direitos desrespeitados naquela região. O deputado lembrou que a região é uma das mais produtivas do estado e do país e é responsável por ajudar alimentar boa parte do Brasil e do mundo.
Segundo Torrinho, seres humanos e animais estão sendo tratados como lixo na região do Sul do Pará. “Vou repetir, seres humanos e animais estão sendo tratados como lixo na minha região. Uma região que ajuda a alimentar boa parte do Brasil e do mundo. Peço desde já que todos que nos acompanham que compartilhem esse vídeo. Senhoras e senhores, estamos aqui hoje unidos por causa que transcende nossas diferenças políticas, uma causa que nos convoca a olhar para além dos nossos interesses individuais e a reconhecer a humanidade e a vida em todas as suas formas. Estamos aqui para falar sobre dignidade, sobre respeito, sobre o direito inegociável de cada ser vivo de existir, prosperar em nosso planeta”, disse o deputado.
O parlamentar compartilhou em suas redes sociais o discurso que fez aos seus pares na tribuna da assembleia legislativa, tamanha a sua preocupação com a condição atual da região.
“A situação na Apyterewa em São Félix do Xingu, é o espelho que reflete a nossa sociedade e os valores que escolhemos em defender. Quando olhamos para esse espelho, o que vemos? Por inúmeras vezes vim aqui a essa tribuna para falar dos riscos que esta operação de desintrusão na Apyterewa implicaria. Quem não tem para onde ir e que sabe que está prestes a perder tudo que construiu na vida, não tem mais nada a perder”, observou o deputado.
Torrinho lembrou que uma grande operação de guerra foi montada para retirar os produtores rurais, que vivem ali na região. Ele teme que a presença das forças de segurança desencadeie um confronto com resultado grave para a sociedade paraense.
“O que pode ser ainda maior que o Massacre de Eldorado dos Carajás? O Brasil está vendo a dor de famílias que vivem há mais de 40 anos numa região, sendo arrancadas de suas casas e suas terras onde construíram suas vidas, suas memórias e seus sonhos. Vemos animais sendo submetidos a condições desumanas, sofrendo em meio ao caos de disputas que eles não compreendem. Vemos patrimônio suado de anos ser expropriado de seus donos. Vemos a Constituição Federal sendo rasgado na nossa cara”, alertou o parlamentar.
O deputado destacou ainda que a desintrusão é uma ação que visa proteger as terras indígenas e preservar o meio ambiente. Mas ele pediu que seja observado aqueles que realmente estão ali de forma legal, contribuindo para o progresso e desenvolvimento da região, gerando emprego e renda, atuando na legalidade.
“É sem dúvida uma medida necessária em muitos contextos. Ali no entorno da Apyterewa, há quem esteja desmatando sim. Esses precisam urgente receber o rigor da lei. Mas peraí, quem tá pagando o preço dessa injustiça é gente de boa-fé estabelecido numa área já consolidada, que convive pacificamente com os indígenas que vivem naquela região. Estamos falando de 2 mil famílias e mais de 100 mil cabeças de gado. Onde é que a justiça vai botar todo esse povo e esses animais? A justiça era os povos indígenas, legítimos guardiões de nossas terras, é mais do que necessária. A proteção de nossas florestas é vital. Mas ao mesmo tempo devemos perguntar a que custo? É justo gente de boa-fé, que vive e produz ali há anos, pagar por uma minoria que desmata? É nosso dever, como sociedade, como seres humanos, garantir que a busca por justiça para uns não resulte na injustiça para outros. É nosso dever garantir que na proteção de algumas vidas não se sacrifique, outras do altar da burocracia e da indiferença”, observou.
Por fim, o deputado apelou ao governador Helder Barbalho que interceda pela região Sul do Pará, e garanta os direitos dos moradores.
“O governador Helder, com sua sabedoria e comprometimento com o nosso povo do estado, fez questão de ir à Brasília, acompanhado por mim e pelo prefeito João Cleber para tentar buscar soluções para a Apyterewa. E dada a boa fundamentação do problema que o governador fez na reunião, que tivemos com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o ministro Márcio Macedo da Secretaria da Presidência, eles também se manifestaram contrários à desintrusão. No entanto, a justiça que é concebida para ser um pilar de igualdade e proteção para todos não ponderou a humanidade em sua decisão. Não levou em conta identificar esses produtores rurais, o tamanho de suas áreas para uma possível indenização, ou uma proposta justa para diminuir as áreas já consolidadas. Muito pelo contrário, chegou tocando o terror, desligando a energia de todos, mandando evacuar escolas de crianças na frente dos pais e alunos, autorizando a demolição de casas, colocando barreiras, impedindo seus donos de entrarem nas suas terras, suas casas. Até a prerrogativa da OAB de ir e vir para levantar a situação foi impedida por eles.
Decisão judicial não é para ser questionada, é para ser cumprida”, completou.
O prefeito João Cleber, de São Félix do Xingu, com outros prefeitos estiveram em Brasilia para tentar uma solução pacífica e justa. |
O deputado Torrinho Torres lembrou ainda que está empenhado juntamente com a bancada federal, com o prefeito João Cleber, de São Félix do Xingu, para tentar uma solução pacífica e justa.
“Em meio a esta tempestade de desespero e injustiça, confio plenamente no governador Helder, que colocou todo o Governo do Estado do Pará, concentrado para resolver esta crise humanitária e ambiental. O papel que desempenho como parlamentar na minha região não me permite ficar calado. Eu não vou ficar calado. Estou convocando a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, em nome do amigo deputado Bordalo, da amiga deputada Lívia, bem como organismos nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos e dos animais, para se unirem a nós e tomarem providências urgentes para trazer luz à escuridão que permeia Apyterewa. Eu peço que vocês da Comissão de Direitos Humanos, viajem até Apyterewa para ver a situação que se encontra o nosso povo. Conto com todos e todas aqui presentes. Apenas juntos podemos trazer a mudança necessária para proteger a vida daqueles que agora se encontram em perigo”, finalizou Torrinho Torres.