Por Edir Veiga, cientista político, ex-militante petista
Passei 20 anos no PT. Saí em 2002 para evitar quebra da disciplina
partidária em virtude de estar concluindo o doutorado em ciência
política. Eu sabia que meu posicionamento público desagradaria o
partido. Mas mantive bons amigos dentre os petistas, principalmente
entre as correntes não marxistas.
As grandes polêmicas e tristezas que vivi dentro do PT deram-se em
virtude das eleições para reitor da UFPA. As correntes e personalidades
petistas, desprovidos de nomes reconhecidos academicamente, insistiam
par
a que o PT declarasse apoio para um candidato. Eu discordava
vigorosamente desta concepção distorcida da relação partido academia.
Neste debate, tive a solidariedade do grupo do deputado Ganzer, que
sempre manteve uma posição anti-aparelhista da relação partido
academia. Enfrentamos pesados debates e eleições sectarizadas. As
eleições de 1993, 1997 registram os momentos mais agudos destes
conflitos. Felizmente a maioria da academia resistiu aos investimentos
de grupos petistas sedentos pelo aparelhamento da UFPA. Hoje a UFPA não
corre mais o risco de vir a ser capturada por militantes partidários.
Foram nestes episódios que grupos petistas tentaram sujar minha imagem
em torno de uso de diárias em viagem internacional. Cheguei a enfrentar
comissão de ética no PT e o Ministério Público, denunciado que fui, por
petistas enraivecidos pelas derrotas eleitorais consecutivas. Tudo foi
superado e anda hoje sou uma pessoa sem condenação de qualquer ordem.
Pois bem, agora vejo este mesmo filme se repetindo na primeira eleição
direta para a recém criada Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA.
Novamente, os dirigentes petistas do oeste do Pará, apresentam uma
chapar comandada por uma notória militante e dirigente histórica do PT,
que tem uma vasta ficha de construção partidária, mas que está longe de
ser uma referência em gestão acadêmica no Pará.
Não sei se a comunidade acadêmica do baixo amazonas terá clareza de
perceber o que está em disputa neste momento na UFOPA. Está em jogo o
futuro da universidade, que hoje conta com uma equipe de acadêmicos
comandados pelo reitor pró-tempore Seixas Lourenço que conseguiu em 4
anos produzir o mais extraordinário serviço de implantação universitária
que se tem conhecimento dentre as universidades recém criadas no
brasil.
São doutores de todos os cantos do país que estão implantando um
fantástico trabalho em pesquisa, ensino e extensão. Estes acadêmicos
estão no baixo amazonas acreditando e apostando no projeto que lhes foi
apresentado pelo atual reitor. Qualquer mudança de rumos, em torno dos
comandantes acadêmicos da UFOPA trará enormes incertezas para estes
cientistas, principalmente se uma equipe, comandada por uma lógica
partidária, vir a assumir a UFOPA. A debandada pós eleitoral destes
cientistas não seria um cenário absurdo.
Que a academia vença. Mais uma vez. É por isso que eu torço.