É possível a esquerda ainda governar Belém? Essa pergunta veio perseguindo o pesquisador com as seguidas derrotas de Edmilson Rodrigues.
Analisei as eleições de 1996 até 2016 para tentar responder a essa problemática, acompanhando o desempenho dos candidatos que representam esses dois campos de análise nesse período: direita e esquerda. O objeto de análise é o potencial de crescimento desses blocos do primeiro para o segundo turno nas seis eleições analisadas.
Antes de tudo, é fundamental contextualizar a primeira eleição em que a esquerda saiu vitoriosa:
Em 1996, por uma circunstância política, Edmilson Rodrigues, PT a época, ganha a eleição para a Prefeitura da Capital. Nesta eleição a direita saiu dividida no primeiro turno. De um lado Elcione Barbalho e de outro Ramiro Bentes, candidato do então prefeito, Hélio Gueiros. Os dois (Elcione e Ramiro) travaram uma disputa muito acirrada pelo poder. A briga entre os dois competidores quase foi campal.
A esstratégia dos marqueteiros era: “bater, bater, bater.... até sangrar”, assim, imaginavam que o outro poderia cair. Brigaram tanto que, de fato, cairam: os dois despencaram. Ai o eleitor belenense quedou-se para Edmilson, não por simpatia ou por propostas, mas como um voto de protesto.
Analisando pesquisas qualitativas e mesmo as quantitativas da época, uma frase de um eleitor ficou marcada. Perguntado por que iria votar em Edmilson, o eleitor respondeu: “não sei, vou votar pra ver no que vai dar, só não aguento mais esses dois brigando ai”.
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Elcione Barbalho disputou com Ramiro Bentes, as eleições municipais de 1996, onde ataques de baixo nível entre os dois candidatos levaram à eleição de Edmilson Rodrigues, o primeiro prefeito da esquerda a governar Belém e até hoje o nome mais forte nesse espectro político-ideológico. |
CAPITAL ELEITORAL DA ESQUERDA E DIREITA EM PRIMEIRO TURNO
Vamos, agora, a análise dos dados pesquisados a partir do primeiro gráfico que mostra o capital eleitoral da Esquerda e da Direita em primeiro Turno das Eleições. Em 1996, os votos da esquerda somaram 46,5%, enquanto da Direita, 19,6%. Já em 2000, reeleição de Edmilson, a esquerda soma no primeiro turno 42,9% dos votos contra 30,1% da direita. Em 2004, Edmilson não consegue fazer seu sucessor, a esquerda obtém em primeiro turno 32,7% dos votos enquanto a direita soma 48,9%. Em 2008, reeleição de Duciomar Costa, a esquerda cai ainda mais seu potencial de voto em primeiro turno, somando apenas 20,1%, enquanto a direita sofre uma queda, chegando a 35,1%. Em 2012 e 2016, tanto esquerda quanto direita obtém índices parecidos em votos no primeiro turno.
Gráfico 01: Capital eleitoral da esquerda e direia em primeiro turno
Fonte: TRE/Elaboração própria do autor
CAPITAL ELEITORAL DA ESQUERDA E DIREITA EM SEGUNDO TURNO
Passamos, agora, a análise dos dados pesquisados em que o segundo gráfico mostra o capital eleitoral da Esquerda e da Direita em Segundo Turno das Eleições.
Nessa linha do tempo, em 1996, a esquerda soma em segundo turno 57,5% dos votos, enquanto a direita 42,5%. Já em 2000 na disputa em segundo turno entre Edmilson e Duciomar, a esquerda cai seu potencial, chegando a 50,7%.
A direita avança, somando 49,3%. Na eleição de 2004, a direita avança bem mais, indo para 58,2% e a esquerda para 41,7%. Em 2008, a esquerda não passa para o segundo. Nessa eleição a disputa de segundo turno foi entre Duciomar e Priante. Em 2012, a disputa foi entre Edmilson e Zenaldo, a direita obteve 56,6% dos votos, enquanto a esquerda 43,4%. Em 2016, houve uma aproximação no potencial de voto dos dois blocos.
Gráfico 02: Capital eleitoral da esquerda e direia em segundo turno
Fonte: TRE/Elaboração própria do autor
CRESCIMENTO DA ESQUERDA E DIREITA DO PRIMEIRO PARA O SEGUNDO TURNO
O terceiro gráfico mostra o crescimento da esquerda e da direita do primeiro para o segundo turno. Esse é o gráfico que demonstra a probabilidade de vitória de um ou de outro bloco, tendo em vista o poder de agregação que cada categoria vai adquirir no segundo turno.
Em 1996, apesar da esquerda ganhar a eleição, o crescimento da direita foi o dobro do crescimento da esquerda. Edmilson saiu com uma vantagem grande no primeiro turno, como mostra o primeiro gráfico do nosso estudo. Ramiro cresceu 22,9% e Edmilson 11,0%. Em 2000, reeleição de Edmilson, o crescimento da esquerda foi de apenas 7,8%, enquanto a direita cresceu 19,2% do primeiro para o segundo turno. Edmilson ganhou com uma diferença de apenas 1,4% dos votos válidos. Em 2004, Ana Júlia disputou com Duciomar o segundo turno. O crescimento dos dois blocos foi idêntico. Em 2012, o segundo turno foi disputado entre Zenaldo e Edmilson.
Aqui o crescimento da direita do primeiro para o segundo turno volta ao seu maior patamar, 25,9%. A esquerda cresce apenas 10,8%. Em 2008 a esquerda não passou para o segundo turno. Na reeleição de Zenaldo, em 2016, a esquerda teve seu maior crescimento, 18,3%. A direita caiu para 23,2%. Estabelecendo a média de crescimento da direita nas eleições analisadas, chegamos a 20,8%; enquanto a esquerda obtém uma média de 11,4% de crescimento do primeiro para o segundo turno.
Gráfico 03: Crescimento da Esquerda e Direita do primeiro para o segundo turno
Fonte: TRE/Elaboração própria do autor
Os dados mostram que Belém é uma cidade conservadora. Em 2020, a disputa ainda vai se dá entre esses blocos. Em 1996, a direita saiu dividida, e Edmilson ganhou a eleição. Em 2020, o bloco capitaneado por Zenaldo Coutinho que vai indicar seu sucessor, ainda está “esfacelado”, faltando apenas um grande personagem para unir o bloco. Não será dificil entcontrar esse personagem. A esquerda está dividida. Só poderá ter algum sucesso se parte da direita, encampada pelo MDB e máquina do governo estadual, abraçar essa esquerda.
(*) Mestre em Ciência Política e Diretor da DOXA Pesquisas.