quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

DE PEDREIRO A TÉCNICO DE COPA : QUEM É JUAN CARLOS OZORIO , NOVO COMANDANTE DO REMO

Vindo de uma família simples, aprendeu cedo a importância do estudo e da disciplina
Trabalhou como garçom, atuou na construção civil e passou um ano inteiro lidando com uma britadeira como companheira diária Crédito: Gustavo Oliveira/ CAP
Duas canetas, um caderninho e uma atenção quase obsessiva aos detalhes. 
Agachado à beira do gramado, Juan Carlos Osorio observa, anota, reflete e entrega bilhetes aos jogadores em plena partida. 
A cena se repete há mais de duas décadas e, a partir de agora, será frequente no dia a dia dos Clube do Remo. 
Mas reduzir Osorio à imagem folclórica dos papéis coloridos é ignorar uma trajetória marcada por estudo, sacrifício e uma relação quase acadêmica com o jogo.
A famosa “libreta”, sempre presente, carrega muito mais do que instruções táticas. 
É herança de infância, ensinamento do pai, método de vida. 
Nos treinos, as canetas ficam guardadas nas meias, cada cor com um significado. 
Vermelho para o essencial, azul para o complemento. Tudo registrado, tudo documentado. 
A prática virou livro em 2015, O Caderno de Osorio, meu modelo de gerenciamento, e virou também uma marca registrada do treinador.
“É melhor um lápis pequeno do que uma memória grande”, costuma repetir Osorio, em uma frase que resume sua filosofia de trabalho.
Raízes
Juan Carlos Osorio Arbeláez nasceu em Santa Rosa de Cabal, no interior da Colômbia, mas cresceu em Anserma, em meio às regiões cafeeiras do país. 
Vindo de uma família simples, aprendeu cedo a importância do estudo e da disciplina. 
O avô materno, Arturo Arbeláez, dá nome a um estádio em sua cidade natal. 
O pai, Hernán Osorio, trabalhava em um laboratório farmacêutico, era torcedor do Atlético Nacional e enfrentou por anos problemas com alcoolismo — tema que marcaria profundamente a visão de mundo do treinador.
Ex-goleiro na infância, Osorio mudou de posição e virou meio-campista ao entrar na base do Deportivo Pereira. 
Estreou como profissional em 1982 e chegou a integrar a seleção colombiana sub-20 ao lado de Carlos Valderrama. 
O futuro parecia traçado dentro de campo, até que uma grave lesão no joelho interrompeu precocemente sua carreira como jogador.
Aos 24 anos, Osorio tomou uma decisão radical: deixou a casa dos pais e se mudou para os Estados Unidos para estudar inglês.
Lá, viveu uma rotina dura. 
Trabalhou como garçom, atuou na construção civil e passou um ano inteiro lidando com uma britadeira como companheira diária. 
Com apoio do avô, conciliava trabalho, estudo e futebol.
O esforço foi recompensado com uma bolsa de estudos para cursar Ciências do Exercício Físico e Rendimento Humano, em Connecticut. 
A partir dali, Osorio passou a construir sua carreira longe dos holofotes, mas profundamente ligada ao conhecimento.
Da ciência ao banco
Já formado, começou a dirigir equipes amadoras em Nova York e atuou por cerca de seis anos como auxiliar e preparador físico. 
Em 2000, recebeu a primeira grande oportunidade como assistente no MetroStars, atual New York Red Bulls. Pouco depois, buscou especialização em Ciências do Futebol na Universidade John Moores, em Liverpool, onde obteve a licença “A” da Uefa e aprofundou estudos em pedagogia, metodologia e estrutura de treinamentos.
Foi na Inglaterra que sua carreira deu um salto importante. Em 2001, após um rigoroso processo seletivo com outros 24 candidatos, foi escolhido por Kevin Keegan para integrar a comissão técnica do Manchester City. 
Permaneceu no clube por cinco anos, muito antes da era bilionária, atuando como preparador físico e depois como auxiliar técnico.
Aos 35 anos, Osorio decidiu que era hora de assumir o protagonismo.
Como pensa o jogo
A primeira chance como técnico principal veio no Millonarios, em 2006. Seus métodos inovadores — com trabalhos físicos sempre integrados à bola — renderam o apelido irônico de “El recreacionista”. 
Com o tempo, o rótulo deu lugar ao respeito. 
Vieram passagens por Once Caldas e, principalmente, Atlético Nacional, onde viveu o auge da carreira.
No Nacional, conquistou seis títulos em três temporadas e se tornou o treinador mais vitorioso da história do clube. 
Mais do que taças, deixou uma identidade: futebol ofensivo, intensidade alta, estudo minucioso dos adversários e um rodízio quase permanente de jogadores. 
Em três anos, ficou 149 partidas sem repetir uma escalação.
Rodízio
“Não é um princípio apenas do jogo, mas da vida”, costuma dizer. Para Osorio, todos devem ser igualmente importantes dentro de um grupo, independentemente de status ou salário.
Da Colômbia ao mundo
O grande sonho de Osorio era comandar uma seleção em uma Copa do Mundo. Realizou o desejo duas vezes. 
Primeiro com o México, em 2018. 
À frente da seleção, derrotou a Alemanha na fase de grupos e chegou às oitavas de final, sendo eliminado pelo Brasil. 
Foram 52 jogos, com aproveitamento considerado o melhor do México nas últimas quase três décadas.
Depois, assumiu o Paraguai, mas comandou apenas um amistoso. Problemas familiares o fizeram abrir mão do cargo poucos meses depois — a saúde do pai foi determinante para que recusasse propostas internacionais naquele período.
Brasil
No Brasil, Osorio teve duas experiências: o São Paulo, em 2015, e o Athletico-PR, em 2024. Foram quatro meses e meio intensos, marcados por mudanças táticas constantes no Tricolor Paulista, integração com a base — chegou a utilizar 14 jogadores formados em Cotia em apenas quatro meses — e também conflitos. 
Estudou português, chamou jogadores pelo primeiro nome como forma de respeito e não evitou críticas públicas à diretoria pelas vendas de atletas.
“Prefiro ganhar pouco e ter chance de brigar pelo título”, afirmou à época.
Nem todos compraram suas ideias. 
O episódio envolvendo Ganso, que se recusou a cumprimentá-lo após ser substituído, simbolizou o choque entre um treinador convicto de seus métodos e um elenco pouco acostumado a tamanha rotatividade.
Personagem complexo
Obcecado pelo trabalho, detalhista, estudioso e educado — características que lhe renderam o apelido de “Lorde” na Colômbia — Osorio também carrega contradições. 
Em 2022, protagonizou um episódio polêmico ao pisar em um jogador adversário durante uma partida da Copa Sul-Americana, quando comandava o América de Cali. 
O caso repercutiu, mas não resultou em punição.
Pai de um jogador profissional — Juan Sebastián Ceballos, meio-campista que já passou por Deportivo Pereira e América de Cali — Osorio segue vivendo o futebol de forma intensa, quase infantil, como definiu o jornalista Antonio Casale: “Ele sente o futebol com paixão, como só uma criança consegue sentir seu jogo preferido”, concluiu.
Fonte : Roma News
Blog do Xarope via Roma News

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