Não tem sido fácil a vida do parlamentar
paraense Wladimir Costa (SD). Envolvido em uma série de denúncias que
vão desde o uso de nomes e CPFs de amigos e parentes – incluindo a mãe e
o filho mais velho – até a compra sem amparo financeiro legal de uma
luxuosa cobertura em Copacabana, no Rio de Janeiro, o deputado federal
tem sofrido pressão destes amigos e parentes. A maior parte deles
responde na Justiça por inúmeros atos delituosos que envolveram a
relação de negócios e amizade com o deputado Wladimir.
Entre estes “amigos” acionados pela
Justiça está o fotógrafo Francisco Jorge Ribeiro do Nascimento, que,
além de estar lotado no gabinete de Wladimir Costa como secretário
parlamentar, acompanha o deputado em suas viagens e eventos
públicos.Francisco Jorge é o principal responsável pela Fundação
Mãezinha Milagrosa de Nazaré de Comunicação, instituição de direitos
privados sem fins lucrativos que recebeu R$ 400 mil da Associação Social
Integrada ao Palácio do Governo (Asipag) no governo de Simão Jatene.
Em dezembro do ano passado, o Ministério
Público do Pará abriu uma Ação Civil Pública de extinção da Fundação
por “violação de princípios da Administração Pública por parte de seus
dirigentes”. A ação cumula com a medida cautelar de bloqueio e
indisponibilidade de bens dos dirigentes da fundação.
O Tribunal de Contas do Estado do Pará
também está acionando o amigo do deputado Wlad. Francisco Jorge foi
condenado a devolver o valor total de R$ 400 mil ao tesouro estadual. De
acordo com o tribunal, o funcionário do gabinete de Wlad apresentou
como prestação de contas documentos referentes à aquisição de um imóvel
que se encontra abandonado em Ananindeua - comprado sem licitação e
distante da sede da fundação, que está originalmente registrada em
Barcarena.Com bens bloqueados e correndo o risco de ter que pagar do
próprio bolso o valor, que é quase 80 vezes maior que o salário que
recebe por mês no gabinete de Wlad, o fotógrafo recorreu da decisão do
Tribunal de Contas.Por mais uma dessas “coincidências”, o responsável
pela Fundação Mãezinha Milagrosa de Nazaré contratou o mesmo advogado
defensor de Wladimir Costa nos inúmeros processos que o parlamentar
responde no STF. André Eiró tentou defender o indefensável no TCE.
O Acordão n° 52.678/ 2013, que julgou
irregulares as contas da fundação referentes aos R$ 400 mil recebidos da
Asipag, deixa claro que o convenente (o responsável pela fundação,
Francisco Jorge) não cumpriu o plano de trabalho do convênio, que previa
não só a aquisição de um imóvel, mas também a implantação do projeto
“Revelar Talentos”, que tinha como finalidade qualificar mão de obra de
famílias carentes.Segundo o advogado André Eiró, a implantação e a
aquisição de equipamentos para cursos profissionalizantes “seria uma
segunda etapa, que não estaria investida nesse dinheiro que foi
repassado”. Um dos argumentos para a rejeição das contas seria de que o
imóvel se encontrava abandonado. Mas, para o advogado, “existe uma
grande diferença entre um imóvel abandonado e um imóvel desocupado”.“Na
verdade, o imóvel se encontrava desocupado porque a entidade não havia
conseguido recursos, através de outro convênio, que estava tentando, com
outros órgãos, para a implantação do projeto, que seria a aquisição de
equipamentos como computadores, equipamentos para salão de beleza, para
cursos profissionalizantes. E o que ela fez? Não destinou o imóvel a
nenhuma outra finalidade. Deixou o imóvel lá, parado, para que pudesse
implantar”, escreveu o douto.
‘POUCA FALTADE INTELECTO’
Em seguida, o defensor de Wlad e de seu
fotógrafo justifica o fato de não ter havido licitação para compra do
imóvel pela “pouca falta de intelecto” (sic) dos responsáveis pela
fundação.O site www.dicionarioinformal.com.br, disponível gratuitamente
na rede mundial de computadores, define como verbetes relacionados à
“falta de intelecto”, entre outros, o termo “oreia seca” que também está
relacionado, ainda segundo o dicionário, a: “pobreza, miséria,
orelhudo, orelhas de burro, burro, imbecil, analfabeto e pessoa não
útil”.“Imaginem Vossas Excelências essas pessoas com pouco conhecimento
que possuem, com pouco (sic) instrução, pouca falta de intelecto (sic), e
também sem recursos para a implantação de pessoas (sic) qualificadas
para que pudessem gerir, realmente, um processo licitatório, que a gente
sabe que é muito dificultoso (sic). Vou citar o exemplo, aqui, a Vossas
Excelências, do pregão eletrônico; teríamos que ter Tecnologia da
Informação (sic), computadores, internet com uma boa velocidade. E
sabemos que essas entidades não possuem. Mas eu acho que essa questão
licitatória é aquela questão de pesquisa de preço, como qualquer um de
nós fazemos (sic) quando vamos adquirir um imóvel, quando vamos adquirir
um veículo, e isso foi feito: ela consultou, por vários meses,
classificados, visitou vários imóveis, e ao escolher ou decidir aquele
imóvel, se valeu de um laudo técnico de um profissional, que se
encontra, também, presente nos autos”, justificou assim o douto à compra
de um imóvel no valor de R$ 400 mil reais que se encontra, segundo o
TCE, “em péssimas condições de conservação e que, além de tudo,
precisava de uma série de reformas para que pudesse ser utilizado”.
WLAD ACUMULA 60% DE FALTAS A SESSÕES
Os conselheiros do Tribunal de Contas do
Estado rejeitaram, por unanimidade, os argumentos de defesa do advogado
André Eiró. De acordo com o relatório aprovado, restou pendente a
implantação do projeto “Revelar Talentos”. “Concluiu a 3ª CCG que o caso
revela má gestão do dinheiro público, uma vez que foi adquirido um
imóvel, que necessitava de reparos, conforme infere os relatórios de
acompanhamento do convênio”, manifestando pelo não provimento do recurso
elaborado pelo advogado André Eiró.
Para o Ministério Público, a fundação “não
exerce atividade social, bem como não ostenta condições econômicas de
exercê-la, na medida em que não apresenta patrimônio para tanto, sua
sede encontra-se abandonada e não houve eleição para novos
representantes, no prazo regular”, explicam os promotores de Justiça
Viviane Franco e Sávio Brabo.Ainda segundo os promotores, a não
aprovação das contas demonstrou que os dirigentes da entidade
fundacional violaram os princípios da Administração Pública quando
adquiriram um imóvel abandonado no município de Ananindeua, comprado sem
licitação e distante da sua sede.
O MPPA pediu o decreto da indisponibilidade
de bens tanto da Fundação Mãezinha Milagrosa de Nazaré de Comunicação
quanto de seus dirigentes. E também seja decretada a extinção da
fundação e o ressarcimento de R$ 400 mil pela entidade e por seu
representante legal, Francisco Jorge Ribeiro do Nascimento.Pediu ainda
que fosse feita busca e apreensão de todos os bens e valores
eventualmente existentes no endereço da sede da Fundação e o bloqueio
mediante o Bacen-JUD (sistema que liga a Justiça ao Banco Central) e o
Renajud (Restrições Judiciais Sobre Veículos Automotores), e que Ian
Blois Pinheiro assuma o cargo de administrador provisório da
fundação.Também fazem parte da direção da Fundação Mãezinha Milagrosa de
Nazaré de Comunicação, além de Francisco Jorge Ribeiro do Nascimento,
Pedro Jorge da Costa Lima, Michel Batista Ferreira, Carlos Benedito da
Silva Santos, Nelson Aleixo de Almeida, Dilcelena Maciel Batista,
Clauzete Marvão da Silva, Adriano Pinho Gomes e Sebastiana da Silva
Paes.
PRESSÃO
Com tantos processos na Justiça envolvendo
amigos e parentes, Wladimir Costa tem perdido não só o sono, mas também
dinheiro. Ocupado em “desenrolar” a teia de irregularidades em que se
meteram as pessoas mais próximas, o deputado federal não está
conseguindo trabalhar.Somente neste primeiro mês de trabalho da Câmara
dos Deputados, Wladimir Costa registrou 60% de falta nas sessões
plenárias. Em 10 sessões deliberativas realizadas, ele compareceu a
apenas quatro. Além da falta registrada, Wladimir Costa vai ver
descontado em seu salário mensal de R$ 33.763,00 o montante de R$
6.752,00 (seis mil setecentos e cinquenta e dois reais).
(Diário do Pará)
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