terça-feira, 28 de abril de 2020

Juiz manda apreender documentos e celulares em residências de blogueiros

EXCLUSIVO – Juiz manda apreender documentos e celulares em residências de blogueiros
O juiz Heyder Tavares da Silva foi quem determinou a busca e apreensão na casa do Blogueiro Diógenes
O juiz Heyder Tavares da Silva, que comanda a 1ª Vara de Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares do Tribunal de Justiça do Pará determinou busca e apreensão nas residências dos blogueiros Diógenes Brandão e Eduardo Cunha, onde foram apreendidos objetos pessoais. Não está claro do documento expedido pelo juiz o motivo da ordem judicial. O mandado, com data do dia 24 passado, sexta-feira, também não especifica o que deve ser apreendido.
O Ver-o-Fato apurou que, por iniciativa do governador Helder Barbalho, que se queixa de ser vítima de notícias mentirosas e infamantes que atingem não apenas ele, mas sua família, por parte de Brandão e Cunha, já existem quatro investigações abertas na polícia contra a dupla de blogueiros.
Por volta das 7 horas da manhã desta terça-feira, dois delegados e sete agentes da Polícia Civil, responsáveis pelo cumprimento da ordem judicial, chegaram em 3 viaturas e apreenderam computadores, celulares e outros equipamentos de informática da residência de Diógenes Brandão, inclusive do sistema de segurança da casa que dá suporte às câmeras de monitoramento. O mesmo procedimento foi adotado na residência de Eduardo Cunha, que edita o portal Parawebnews.
A polícia também esteve na casa do webmaster Jonathas Silva, irmão de Diógenes e responsável pelas plataformas virtuais do blogueiro. De lá, os agentes levaram computador e celular. Tudo o que foi apreendido será periciado e anexado aos autos do inquérito. A investigação corre sob segredo de justiça. O promotor de justiça Luiz Márcio Cypriano foi quem se manifestou favoravelmente à busca e apreensão.
“O que eu quero é ter acesso aos autos para conhecer o teor do decreto sobre a busca e apreensão determinada pelo dr. Heyder Tavares”, explicou ao Ver-o-Fato o advogado Sábato Rosseti, que juntamente com seu colega Michel Durães vão atuar na defesa de Diógenes Brandão. Segundo Rosseti, a Súmula 14 do Supremo Tribunal Federal (STF) é bem clara quando diz que o advogado deve ter acesso aos autos para conhecer o teor da acusação contra seu cliente.
“Só depois de saber o que há contra ele é que vou tomar as providências, seja por meio de habeas-corpus ou mesmo de mandado de segurança”, resume Rosseti. Ele recorda que caso semelhante, na eleição de 2018, para o governo do estado, ocorreu durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão no escritório do marqueteiro Dornélio Silva, da empresa de pesquisas eleitorais Doxa. ” O desembargador Roberto Moura, vendo a ilegalidade daquele ato, mandou devolver tudo o que foi apreendido”, concluiu
No documento assinado pelo juiz e ao qual o Ver-o-Fato teve acesso, Heyder diz que a busca deverá ser feita “com especial moderação, de modo que não moleste os moradores e funcionários mais do que o indispensável para o exito da diligência, que só deverá ser executada durante o dia, salvo se os moradores consentirem que se realize à noite”
Outra recomendação foi de que antes de penetrarem no local, os executores da ordem deverão mostrar ele o mandado ao proprietário-morador ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta e mostrar os objetos procurados. E mais: em caso de desobediência ou resistência, “poderá ser arrombada a porta e forçada a entrada, sendo permitido o emprego da força contra coisas existentes no interior do estabelecimento, para o descobrimento do que se procura. Tais providências também deverão se tomadas quando o proprietário estiver ausente, devendo neste caso ser intimado a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente”.
Descoberta a coisa que se procura – conclui o juiz Heyder Tavares no mandado -, será imediatamente apreendida e posta sob custódia da autoridade requisitante ou de seus agentes, devendo os executores, finda a diligência, lavrar auto circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais”.
Com a palavra, Diógenes Brandão
Localizado pelo Ver-o-Fato, o blogueiro foi taxativo: “não devo nada, não temo nada. O que faço é exercer o direito constitucional de crítica a um governante que foi eleito pelo povo e ao povo deve satisfações de seus atos”. Segundo ele, os agentes da Polícia Civil agiram com “truculência e desrespeito” à família dele, inclusive invadindo o quarto onde estava sua esposa e uma filha, surpreendidas em suas intimidades e ainda com vestes de dormir.
Não opus nenhuma resistência ou criei qualquer obstáculo ao trabalho da polícia, embora eles se comportassem de força destoante do que dizia a própria ordem judicial, que falava em ação moderada para não molestar os moradores. O blogueiro disse também ter fornecido as senhas dos computadores apreendidos e dos celulares dele e da esposa.
“Levaram 18 objetos da nossa casa, até a fonte e o cabo do modem para eu não me comunicar com ninguém e fiquei uma hora e meia incomunicável, impedido de falar com meu advogado, enquanto eles pegavam tudo o que queriam”. Em conversa no mês passado com a delegada, Kézia, uma das responsáveis por abrir investigação contra ele, Brandão disse ter ouvido dela críticas ao blogueiro Eduardo Cunha, ao afirmar que ele “pegava pesado” com o governador Helder Barbalho e com a esposa deste, Daniela. O Ver-o-Fato não conseguiu falar com Eduardo Cunha.

Polícia de Helder Barbalho invade residências de blogueiros


Blogueiro Diógenes Brandão e suas polêmicas, esta noite no Linha ...
Diógenes Brandão
Como nos anos de chumbo da ditadura militar, policiais invadiram, hoje de manhã, em Belém do Pará, as residências de dois conhecidos blogueiros paraenses – Diógenes Brandão e Eduardo Cunha, que fazem dura oposição ao governador Helder Barbalho – em cumprimento a um mandado judicial de busca e apreensão assinado pelo juiz Heyder Tavares, da 1ª Vara de Inquéritos Policiais.
Na residência de Diógenes Brandão foram apreendidos computadores, celulares e documentos. A delegada Kézia, da Delegacia de Crimes Tecnológicos, questionou Diógenes sobre se ele seria o autor de uma nota revelando que os gastos com publicidade do governador Helder Barbalho (MDB) em 2019 haviam superado os gastos do ex-governador Simão Jatene com propaganda, beneficiando inclusive as empresas de comunicação da família Barbalho, e o blogueiro confirmou a autoria.
“Não havia razão que justificasse a ação de busca e apreensão”, afirmou o jurista Sábato Rosseti, que deu assistência jurídica ao blogueiro Brandão. O mandado do juiz Heyder Tavares – que na campanha eleitoral de 2018 respaldou judicialmente uma polemica operação de busca e apreensão no Instituto de pesquisa Doxa – recebeu parecer favorável do promotor de justiça Luiz Marcio Cypriano ao pedido da delegada Kézia.
O advogado e blogueiro Eduardo Cunha, outro alvo da ação policial arbitrária, revelou que os policiais levaram de sua casa computadores, celulares e até mesmo o diploma de marketing político que estava pendurado na parede.
“A situação foi Khafkiana. Eu não sabia sequer do que estava sendo acusado”, afirmou Eduardo Cunha que, como Diógenes Brandão, tem se notabilizado pelas duras críticas ao governo de Helder Barbalho, principalmente no que se refere às milionárias compras com dispensa de licitação feitas supostamente para combater no Pará a pandemia do novo coronavirus, o Covid-19.
Eduardo Cunha e Diógenes Brandão não têm dúvidas de que a operação de hoje foi por perseguição política da parte do governador Helder Barbalho, refratário a críticas à sua administração.