Se tal ameaça, de fato, acontecer, adeus Rio Tapajós e seus
afluentes, adeus à nascente indústria do turismo no Oeste do Pará, adeus
à salubridade das águas e à excelência do pescado daquela região, um
dos principais pólos pesqueiros da Amazônia. Adeus a milhares de
empregos e investimentos crescentes no turismo. Adeus à saúde pública e
às belezas das quilométricas praias que atraem visitantes de todo o
Brasil e do exterior.
Este homem e milhares de outros garimpeiros merecem respeito e atenção. Trabalho humilhante e insalubre para ele e para as populações vizinhas |
Justamente num momento em que se pretende disciplinar a atividade da
mineração artesanal e industrial do médio e alto Rio Tapajós, a fim de
impedir a contaminação deste e de mais quatro rios importantes além de
centenas de igarapés da região, o governo federal ameaça transferir de
Rondônia para o Pará milhares de trabalhadores garimpeiros que hoje se
acham próximos às obras da hidrelétrica de Jirau. O destino exato seria o
município de Jacareacanga, já largamente afetado pela poluição física e
química dos garimpos.
Conforme revelação do blog do Jota Parente,
o advogado e minerador de Itaituba, José Antunes, disse no fim de
semana passado, numa rádio daquela cidade, que "essa é uma decisão que o
governo federal já tomou, e que é quase impossível reverter a
situação".
A questão, segundo ele, é que os garimpeiros do Tapajós já têm problemas
demais, pela total falta de apoio do governo federal, que nunca olhou
para esta região com o devido respeito. Os garimpeiros de Rondônia estão
para ser transferidos porque a hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho,
está para entrar em funcionamento, sendo impossível a permanência deles
por lá, porque a área onde eles trabalham vai ser inundada.
O problema, ressalta Antunes, é que "daqui a alguns anos vai ser aqui no
Tapajós que haverá inundação de uma grande área que vai cobrir boa
parte da reserva garimpeira".
Além de utilizar os garimpeiros como massa de manobra, sem nenhuma
política social destinada a oferecer a esses trabalhadores uma atividade
sustentável e menos danosa à sua saúde do que a garimpagem, o governo
cai na contradição de retirar a massa trabalhadora das proximidades de
um canteiro de obras de hidrelétricas para realocá-la exatamente noutro
canteiro, já que cinco usinas estão planejadas para o Tapajós, duas
delas já em estado adiantado de estudos e início das obras.
Com Hélio Gueiros foi diferente
No final da década de 1980, quando o governo federal tentou depositar
lixo atômico e restos venenosos de césio-137 na Serra do Cachimbo, o
então governador Hélio Gueiros adotou medidas duras contra essas
tentativas, impedindo-as.
Segundo recorda em seu blog Héber Gueiros,
a respeito de seu avô Hélio, "o então governador do Pará, Hélio
Gueiros, reagiu de forma devastadora, diante da possibilidade de o Pará
vir a ser destinatário de lixo atômico. Diante dessa possibilidade, ele
tratou de desqualificar o presidente da Comissão Nacional de Energia
Nuclear - CNEN, enviado a Belém pelo Palácio do Planalto, um militar
chamado Rex Nazaré. “O Pará não vai ser destinatário de lixo nenhum e eu
não vou perder tempo discutindo com um sujeito com nome de cachorro”,
disse o governador, despertando risadas nos jornalistas encarregados de
entrevistá-lo".
Hoje não se trata de lixo atômico, mas de milhares de seres humanos humilhados. O lixo que se quer agora evitar é o despejo de barro e venenos dentro dos rios.
Hoje não se trata de lixo atômico, mas de milhares de seres humanos humilhados. O lixo que se quer agora evitar é o despejo de barro e venenos dentro dos rios.
O palavreado de Gueiros era próprio de sua personalidade. O que se quer
ver agora é a posição do governo de Simão Jatene diante da nova ameaça. O
que vai dizer o governo do Pará, hoje? A federação vai continuar
tentando ou mesmo tratando o Pará como terra de ninguém.
Por Manuel Dutra
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