De 17 a 20 de julho (quinta-feira a domingo), 52 mil pessoas vibraram na arena de jogos, na feira de artesanato e na praça de alimentação especialmente montadas na orla de Altamira para a 1ª edição do Festival de Cultura e Jogos Indígenas do Xingu.

Mais de 900 indígenas de 14 etnias protagonizaram o evento, verdadeira celebração da cultura de povos originários da Amazônia parauara, reafirmação da identidade cultural, com programação intensa de jogos, rituais e shows de artistas locais.

Os indígenas disputaram, nas categorias masculino e feminino, as tradicionais corridas de toras, livre (100m), de bastão (akô), arco e flecha (apãnare), cabo de força, arremesso de lança e também modalidades não indígenas como futebol, canoagem e natação.
Teve danças, pinturas corporais com grafismos e cantos rituais entre uma e outra competição.
Força física, habilidade coletiva e saberes milenares estavam em destaque.
A Corrida de Tora, sensacional, arrebatava o público: toras de madeira pesando 80 Kg carregadas pelos atletas.As provas de Arco e Flecha eram momentos especiais: exigem precisão e domínio técnico; já o arremesso de lança tem grande significado simbólico para os povos, valor cultural e histórico profundo, refletindo a relação ancestral com o território e a sobrevivência: revelam as habilidades de caça, defesa e conexão com a natureza, e a corrida de bastão retrata o espírito de coletividade.

Durante os cinco dias, as etnias Arara da Volta Grande, Arara Laranjal, Arara Cachoeira Seca, Xipaya, Curuaia, Assurini, Xikrin, Kayapó (Terra Indígena Kararaô), Parakanã, Araweté e Juruna encantaram, assim como os Gavião Kyikatejê, Krimei Xikrin (do Rio Cateté) e Kayapó Mebêngôkre (da Terra Indígena Kayapó), que habitam outras regiões do Pará.
Atletas, crianças e anciãos, juntos e misturados em um colorido belo e cheio de significados. Cada delegação tinha 65 pessoas: 25 homens, 25 mulheres, 15 crianças e idosos, reforçando o caráter comunitário e intergeracional do evento.

Os Gavião emocionaram a plateia e foram aplaudidos efusivamente.
É que Ronöre Akrãtikatêjê, a “Mamãe Grande”, figura central, muito respeitada e matriarca do povo Akrãtikatêjê, morreu aos 105 anos em 20 de junho. Estão de luto e durante um ano não podem cantar, dançar e nem jogar, então apenas entraram na arena em silêncio.
Ronöre era conhecida por sua sabedoria e liderança espiritual, viveu em um período de grandes desafios, incluindo a construção da UHE-Tucuruí, que forçou seu povo a deixar suas terras.
Dedicou sua vida à preservação da cultura, rituais e modo de vida Gavião. Ela acolheu e criou crianças órfãs, era exemplo de amor, luta e sabedoria para muitas gerações.
Deixa um legado de resistência, é símbolo de força, acolhimento e guardiã da cultura.
Sua história continuará a inspirar o povo Gavião e outras pessoas na luta pela preservação de sua cultura e modo de vida. 

A estrutura para receber os indígenas, turistas e moradores locais e da região incluiu arquibancadas e camarotes, palco e pira olímpica, além de monumento simbolizando um indígena especialmente criado pela primeira-dama de Altamira, Paola Abucater, idealizadora do festival, que participou intensamente não só dos preparativos como também da programação.
Dançou, cantou, atirou com arco e flecha, dando o exemplo de que toda mulher pode estar onde quiser.
O prefeito de Altamira, Dr. Loredan Mello, também prestigiou o tempo todo o evento, atirou de arco e flecha e inclusive salvou a vida de uma criança que se engasgou com um bombom.
Ele é médico anestesiologista.
O festival já é um marco para a Transamazônica/Xingu, de onde Altamira é pólo.
Dezenas de povos indígenas de outras unidades da Federação manifestaram desejo de participar dos jogos no ano que vem e a Prefeitura de Altamira abraçou um projeto ambicioso, dentro do plano de alavancar o turismo e a cultura regional: ser a capital mundial da cultura indígena.
O propósito enche de orgulho a população da região.

Maior município do Brasil, com seus 160 mil km² – área 105 vezes maior do que a cidade de São Paulo e três vezes maior que a do Estado do Rio de Janeiro -, Altamira tem nas etnias indígenas os guardiões das florestas, é potente na agricultura e na pecuária, e o prefeito Dr. Loredan foca em políticas públicas que valorizem a participação ativa das comunidades.
Para se ter ideia da imensidão de seu território, o distrito de Castelo dos Sonhos fica a 1.100 quilômetros da sede municipal.
De carro, é um deslocamento que dura dias. De avião, duas horas.

O festival, muito além do esporte, valoriza tradições milenares e convida o mundo a enxergar a potência cultural e turística do Xingu, de beleza cênica impressionante.
É uma celebração da vida, da diversidade e da resistência dos povos, afirmação cultural dos defensores da floresta, em ano decisivo para o combate da crise climática, nos debates da COP 30 em Belém.

Liah Soares, Sam Bruno, Aya da Amazônia, Grah Podanosk, DJ Bonfim, Joelma Kláudia e DJ Bob fizeram shows de encerramento em cada noite.
O Festival de Cultura e Jogos Indígenas do Xingu foi concebido e realizado pela Prefeitura de Altamira, e viabilizado através da Lei Semear, da Fundação Cultural do Estado do Pará, com patrocínio da Equatorial Energia, Belo Sun Mineração, Caixa e apoio do Distrito Sanitário Especial Indígena de Altamira (Dsei) e da Funai.


















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