O Economista estadunidense Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008, professor de Economia e Assuntos Internacionais na Universidade de Princeton e, desde 2000, colunista do jornal The New York Times, autor de mais de 200 artigos e cerca de 20 livros, reconhecido por suas contribuições à nova teoria do comércio e à nova geografia econômica, áreas em que analisou como as economias de escala influenciam a troca de bens entre países, publicou um artigo incisivo intitulado “Trump’s Dictator Protection
Program: Using tariffs to fight democracy” (“Programa de Proteção a Ditadores de Trump: Usando tarifas para atacar a democracia”) em seu perfil no Substack, no qual critica duramente a decisão de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros – ele, inclusive, começa o texto dizendo que não publica nada a noite, mas que sentiu a necessidade do boletim especial, “Afinal, é ao mesmo tempo perversa e megalomaníaca”. Trump não baseia sua medida em fundamentos econômicos.
Ele justifica as tarifas como retaliação ao processo judicial contra o ex‑presidente Jair Bolsonaro, acusado de planejar um golpe, descrevendo-o como uma “caça às bruxas”.
Ou seja, a medida visa pressionar o poder judiciário brasileiro a abandonar esse processo.
Krugman lembra que, no contexto do pós‑Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos usaram políticas comerciais para fortalecer democracias e evitar conflitos.
Mas Trump faz o caminho inverso, usando poderio econômico para proteger um aliado com tendências autoritárias.
A atitude é considerada megalomaníaca porque ignora a dimensão e a relevância do Brasil no cenário internacional.
Com uma população superior a 200 milhões de pessoas, o país é uma potência continental cuja economia tem uma relação modesta com os Estados Unidos (menos de 2% do Produto Interno Bruto brasileiro depende do mercado estadunidense).
Ainda assim, Donald Trump aposta que uma tarifa comercial exorbitante seria capaz de intimidar o Brasil, desconsiderando não apenas sua força econômica, mas também a solidez de suas instituições democráticas.
Fontes internacionais confirmam a escalada de tensão provocada pela medida de Trump. A repercussão imediata incluiu impactos negativos no mercado financeiro: a bolsa brasileira registrou queda, o real se desvalorizou, e entidades empresariais alertaram, conforme noticiado pelo The Wall Street Journal, para possíveis efeitos adversos sobre empregos e investimentos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a decisão como uma intervenção inaceitável nos assuntos internos do Brasil.
Paul Krugman alerta que o uso explícito de tarifas como arma geopolítica atesta uma severa instabilidade institucional nos Estados Unidos. Para o economista, trata-se de uma ruptura com os princípios democráticos, uma vez que tarifas devem ter finalidade econômica, e não intervir em decisões judiciais de outros países.
Além disso, o gesto estabelece um precedente perigoso, ameaçando outras nações que optem por fortalecer seus sistemas democráticos.
Krugman observa ainda que, se os Estados Unidos fosse um país com funcionamento político pleno, tal medida por si só poderia justificar um processo de impeachment.
Ele afirma que é o mais recente passo na “espiral descendente” da democracia estadunidense.
A decisão do governo estadunidense surpreendeu muita gente, incluindo o ex-presidente do Banco Central, Alexandre Schwartsman que, assim como Krugman, destacou o viés político da medida, que rompe com a lógica econômica tradicional.
“Há um claro componente de pressão geopolítica”, afirmou.
O governo brasileiro estuda formas de reagir à imposição de Trump. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), informou que será criado um grupo de trabalho interministerial para estudar respostas à altura.
A equipe terá como missão avaliar contramedidas possíveis e também buscar novos mercados para mitigar os impactos econômicos da tarifa.
Segundo o ministro, os canais diplomáticos permanecerão abertos até o dia 1º de agosto, prazo até o qual o Brasil tentará negociar com o governo estadunidense a revogação da medida.
Em um gesto simbólico de protesto, o Itamaraty devolveu a carta com o comunicado da Casa Branca à embaixada dos EUA em Brasília. Fontes diplomáticas revelaram que a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luisa Escorel, considerou o conteúdo do documento ofensivo e inaceitável.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se pronunciou, reiterando que o julgamento dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira, e citou a Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, como base legal para eventuais retaliações comerciais.
A nova legislação autoriza o Executivo brasileiro a suspender, de forma fundamentada, o princípio da “nação mais favorecida” da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estabelece tratamento igualitário a todos os parceiros comerciais.
Com isso, o Brasil pode aplicar tarifas específicas contra países que imponham barreiras comerciais, legais ou políticas.
Entre as medidas previstas estão sobretaxas em importações, suspensão de obrigações comerciais e, em casos excepcionais, o não reconhecimento de patentes ou o cancelamento do pagamento de royalties.
Atualmente, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a tarifa efetiva média aplicada pelo Brasil sobre importações dos EUA é de 2,7%, apesar da tarifa nominal estar em 11,2%, por conta de isenções específicas.
Os Estados Unidos mantêm um superávit na balança comercial com o Brasil desde 2009, o que contradiz o argumento de Trump de que a relação seria injusta para os estadunidenses.
Com o respaldo da nova legislação e o apoio do Congresso, o governo brasileiro poderá aplicar sanções proporcionais como forma de proteger a economia nacional e reafirmar sua soberania.
A expectativa é que, além da via diplomática, o Brasil esteja pronto para responder com firmeza caso as negociações fracassem.
Fonte : Urá - Tapera