terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Chico das cobras

O segredo da poção, uma mistura de ervas, é guardado a sete chaves. Para o morador das margens do rio Amazonas, em Óbidos, revelar a receita seria trair a confiança de sua ancestralidade.
Chico da Cobra e a poção que cura picada de animal peconhento : Créditos : O Boto 
Em Óbidos, cidade do oeste do Pará, no coração da Amazônia, Chico das Cobras é uma figura emblemática. Conhecedor íntimo das picadas de animais peçonhentos, ele tem o dom de curar quem foi atacado por cobras, aranhas, arraias ou escorpiões.
Sua arma secreta é uma poção de cor alaranjada, passada de geração em geração, um antídoto que enche de esperança os que chegam em busca de atendimento.
A fama de Chico vai além.
Apesar de ser tratado como um curandeiro sem instrução formal, ele carrega consigo uma coleção de ofícios e cartas de médicos e prefeitos relatando suas curas milagrosas.
No entanto, o segredo da poção, uma mistura de ervas, é guardado a sete chaves. Para ele, revelar a receita seria trair a confiança de sua ancestralidade.Chico das Cobras é destaque da matéria especial deste mês do site O Boto, de Alter do Chão, editado por Susan Gerber Barata. Para acessar o conteúdo original clique AQUI.
A história de Chico traz à tona um confronto entre a cura tradicional e a ciência moderna.
Enquanto os médicos carecem da identificação exata do animal para cuidar do soro correto, Chico confia em seu olhar experiente para diagnosticar e tratar.
Muitos que recorrem a ele já perdidos as esperanças nos tratamentos convencionais, e ele os acolhe com seu conhecimento.
Chico vive em uma casa de palafitas às margens do rio Amazonas, construída com suas próprias mãos.
Além de curandeiro, é carpinteiro habilidoso.
A história de Chico se cruza com a biodiversidade amazônica, um tesouro de conhecimento e recursos ainda pouco explorados.
A fitoterapia tradicional, como a sua, desafia as convenções científicas e levanta questões éticas e legais.
Chico, descendente de indígenas, representa um elo perdido entre a ancestralidade e a modernidade. Sua luta, que já dura 15 anos, está documentada em uma pasta verde recheada de carimbos e declarações de apoio.
Apesar dos obstáculos, ele continua desafiando preconceitos e provando, a cada cura, o valor do conhecimento herdado.
Por trás da figura simples, Chico guarda um mundo de segredos, histórias e desafios.
A Amazônia ainda não conhece a extensão de seus próprios tesouros, mas figuras como Chico mantêm viva a chama de um saber que pode ser perdido se não for preservado.
Para ele, a cura vai além da ciência: é um ato de fé, de conexão com a terra e de amor pelo próximo.
*Fotos: O Boto

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