quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

DJ que teve perna amputada após infecção hospitalar fala sobre sequelas e do 'corpo coberto por cicatrizes'

Julio Cesar Trindade se internou no Hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido, para fazer uma cirurgia para resolver a apneia do sono, mas acabou ficando 75 dias; ele processa unidade

Júlio Trindade , DJ e Assessor Parlamentar que enfrentou Superbactéria - Foto : Beatriz Orle

Após 40 dias em coma e uma infecção hospitalar grave que resultou em amputações, o DJ e jornalista Julio Cesar Trindade, de 35 anos, está processando o Hospital Casa de Portugal, localizado no Rio Comprido, por danos materiais, morais e estéticos, além do pagamento de pensão, tratamentos médicos e próteses. 
Ele foi internado na unidade em 2024 para realizar uma cirurgia simples com o objetivo de corrigir um quadro de apneia do sono. Acabou ficando 75 dias internado, numa jornada que define como "calvário". 
O caso foi revelado pelo blog do colunista Ancelmo Gois.
— No dia seguinte à operação, comecei a sentir uma falta de ar intensa, que não foi identificada pela equipe do hospital, fazendo com que eu perdesse um tempo precioso. 
Eu estava desenvolvendo um quadro de sepse, uma infecção generalizada grave, causada por uma superbactéria resistente a antibióticos. 
Essa condição só foi diagnosticada um dia depois, e apenas pelo meu cirurgião, sem qualquer intervenção adequada da equipe hospitalar — conta Julio Cesar. 
— Assim começou um calvário de 75 dias, nos quais sofri severas lesões pelo corpo, incluindo danos irreversíveis no dorso, múltiplos acessos para medicamentos e, entre as sequelas mais graves, a amputação da perna esquerda, de dedos do pé e da mão direita, além da perda auditiva no ouvido esquerdo.
Em 22 de maio de 2024, Julio Cesar se internou no Hospital Casa de Portugal para realizar uma cirurgia ortognática, que corrigiria seus distúrbios respiratórios durante o sono. 
O procedimento, inicialmente, foi um sucesso. 
Mas, após dois dias da cirurgia, o DJ apresentou insuficiência respiratória e pneumonia broncoaspirativa, causada por uma infecção hospitalar associada à bactéria Klebsiella pneumoniae.
Ele explica que acordou 40 dias depois e foi informado que, nesse período, passou por 13 cirurgias, sofreu duas paradas cardíacas e teve a perna esquerda, alguns dedos do outro pé e da mão direita amputados. 
Agora, o DJ e jornalista busca na Justiça uma indenização por danos morais, materiais e estéticos, além do pagamento de pensão, tratamentos médicos e próteses.
— Durante todo esse longo período, entre o coma e estados de profunda letargia devido à sedação, minha esposa esteve ao meu lado, grávida de sete meses. 
Quatro dias após minha alta hospitalar, nosso filho nasceu. Hoje, ele tem 6 meses — recorda-se ele. 
— Enfrentei problemas no fígado, estômago e medula, além de tromboses pelo corpo e uma perda de quase 30kg de massa muscular, o que me fez precisar reaprender tarefas básicas, como comer e beber água sozinho.
Custos da adaptação da casa
Representado pela advogada Maria Isabel Tancredo, seu processo tramita na 8ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). 
Além da indenização, Julio exige que o hospital cubra os custos da adaptação de sua casa para atender às suas novas condições ou, alternativamente, forneça um imóvel adequado às suas necessidades.
Para Maria Isabel Tancredo, advogada de Julio, as infecções relacionadas a assistência de saúde são consequência direta de falhas nas medidas de prevenção pelo hospital e equipe, tais como higienização das mãos e desinfecção de superfícies e equipamentos.
— A situação, já muito ruim, desmorona quando a equipe médica erra em identificar a gravidade do caso e demora a tomar as medidas necessárias. 
É lamentável como casos de infecções hospitalares e erros médicos são comumente narrados aos pacientes como se fossem fatalidades. Tratam-se, na verdade, de consequências de falhas que devem ser investigadas, como parte da justiça que se faz aos pacientes e sociedade — afirma a advogada.
Em nota ao GLOBO, o Hospital Casa de Portugal nega as acusações e diz que o paciente foi "admitido para cirurgia eletiva realizada por equipe odontológica externa de sua preferência e escolha, que sofreu complicações decorrentes do procedimento". 
A unidade também afirma que Julio permaneceu no hospital por três dias antes de ser transferido para outro hospital (Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio) para passar por um procedimento chamado ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea).
O Hospital Casa de Portugal ressalta que realizou "todos os procedimentos cabíveis e adequados" e que lamenta "o desfecho de sua cirurgia eletiva", reiterando que seguem "todas as normas de controle de infecção e cirurgia segura".
"Reiteramos ainda que em respeito ao paciente e ao sigilo médico, maiores esclarecimentos serão prestados pela via adequada", diz a nota.

Julio explica que, com o agravamento do quadro, depois da infecção hospitalar, entrou em coma e precisou ser transferido para o Hospital Copa D'Or, via ordem judicial, para que pudesse ser submetido à ECMO — suporte de circulação extracorpórea:
— Eu espero muito que, por mais cliche que possa parecer, a justiça seja feita. 
Dj Júlio César Trindade , em seu instagram - Foto : Reprodução 
Instagram
Hoje eu não tenho apenas os danos que me foram causados, mas todo um prejuízo para além do projeto de vida. 
De tempos em tempos precisarei de novas próteses, faço acompanhamento constante com psicóloga e médico particular, para ir curando as lesões físicas e mentais, além de ter um corpo coberto por cicatrizes permanentes, para além das amputações.
O jornalista também está processando o Bradesco Saúde, plano de saúde utilizado por sua família. 
Segundo sua advogada, quando Julio precisou do tratamento de ECMO, o plano negou a cobertura. 
O DJ só conseguiu acesso ao procedimento após recorrer à Justiça, que determinou a autorização.
— As famílias, com muito esforço, pagam os planos de saúde para, no momento que mais precisam, encontrarem duas portas: uma, fechada, a negativa constante dos tratamentos necessários aos pacientes; e a outra leva a instituições precárias, nas quais os pacientes confiam por serem credenciadas pelo plano de saúde, mas que os expõem à graves riscos e falhas — afirma Maria Isabel Tancredo.
O Bradesco Saúde informou "que não comenta casos levados ao Judiciário".
Dj com a esposa , Maíra , e o filho do casal , joão .
Foto : Reprodução / Instagram
Ainda em 2024, enquanto Julio Cesar enfrentava o coma e, posteriormente, as amputações, sua esposa, Maíra Trindade, estava grávida do primeiro filho do casal e teve que lidar com a ausência do marido durante a gestação. 
O jornalista conta que seu filho nasceu quatro dias após sua alta, mas ele não pôde acompanhar o nascimento, pois ainda estava colonizado pela bactéria.
— Dinheiro algum pagará, por exemplo, eu ter perdido o parto do meu filho, mas o mínimo que espero diante de tudo é que a Casa de Portugal e o Bradesco sejam penalizados pelo que causaram a mim e minha família — desabafa Julio.
Para a advogada, dois responsáveis devem responder pelos graves danos causados ao paciente. 
O primeiro é o Hospital Casa de Portugal, onde ele foi contaminado por uma bactéria de ambiente hospitalar, já que a infecção ocorreu como consequência direta das atividades da unidade. 
O segundo é o plano de saúde Bradesco Saúde, que faz parte da cadeia de consumo ao credenciar o hospital, direcionando seus clientes para o estabelecimento e conferindo-lhe sua chancela.
Fonte : 

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