Soluções para problemas apontados no documento deverão respeitar o modo de ocupação do rio Xingu, diz documento 09/07/2015 às 19h48O Ministério Público Federal (MPF) publicou nesta quinta-feira, 9 de
julho, a versão integral do relatório sobre a inspeção realizada em
junho por equipe interinstitucional em áreas de comunidades ribeirinhas
atingidas pela remoção compulsória resultante do projeto da hidrelétrica
de Belo Monte, na região de Altamira, no Pará. A apresentação do
relatório está disponível aqui e a íntegra está neste link.
Com base em depoimentos de famílias afetadas pela remoção, o
documento alerta sobre o risco de os ribeirinhos ficarem desprovidos de
acesso aos seus meios de subsistência.
O relatório registra que, por ignorar completamente o modo de vida
dessas famílias, o processo de remoção viola um dos princípios do Plano
Básico Ambiental (o PBA, documento que detalha os programas para a
minimização dos impactos negativos do projeto) de Belo Monte, que impõe a
necessidade de manutenção do modo de vida das comunidades afetadas em
condições no mínimo semelhantes às que detinham antes do impacto.
Entre diversas irregularidades apontadas, o relatório de inspeção
destaca que, sem a opção de remoção para assentamentos em áreas próximas
do rio, os ribeirinhos acabam sendo coagidos a aceitar indenizações
insuficientes para a aquisição de local que permita a recomposição de
suas condições de vida, rompendo com ainda um padrão cultural de
ocupação do território, que tem como característica essencial a dupla
moradia: uma casa nas ilhas, para a pesca e a agricultura, e outra na
cidade, para a venda da produção e para acesso à saúde e à educação.
“O que revela este Relatório de Inspeção é que está em curso um
processo de expropriação dos meios de produção e de reprodução da vida
dos grupos ribeirinhos impactados pela UHE [Usina Hidrelétrica de] Belo
Monte”, diz o documento.
Após a realização da inspeção, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), licenciador do projeto da
usina, notificou a empresa Norte Energia sobre a "suspensão de remoção
compulsória e demolição das casas nas ilhas interferidas pela UHE Belo
Monte" e afirmou a necessidade de que sejam revistos os tratamentos das
famílias impactadas de forma a buscar a recomposição do seu modo de
vida.
O MPF aguarda a resposta do governo federal quanto às alternativas
que serão apresentadas para a readequação do processo de remoção desses
grupos e destacou, em reunião realizada em Brasília, a importância de
que sejam definidos um cronograma e parâmetros mínimos, com base no PBA
de Belo Monte, para a readequação deste processo.
"É necessária a garantia da territorialidade peculiar dos
ribeirinhos, incluindo a proteção de um território de mobilidade com seu
ponto de pesca, a continuidade das atividades pesqueiras e um
reassentamento urbano coletivo com acesso direto ao rio Xingu. Sem isso,
não haverá cumprimento dessa obrigação condicionante", ressalta o MPF.
A inspeção foi realizada pelo MPF em conjunto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), o Ibama, a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a Defensoria Pública da União (DPU), a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE-PA) e a Procuradoria Federal Especializada da Funai (AGU-Funai), com a participação dos professores Manuela Carneiro da Cunha, da Universidade de São Paulo e da Universidade de Chicago (USP/UChicago), Mauro William Barbosa de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Sônia Magalhães, da Universidade Federal do Pará (UFPA), de pesquisadores que atuam com os grupos tradicionais da região, de entidades não-governamentais e de representantes dos atingidos.
A inspeção foi realizada pelo MPF em conjunto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), o Ibama, a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a Defensoria Pública da União (DPU), a Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE-PA) e a Procuradoria Federal Especializada da Funai (AGU-Funai), com a participação dos professores Manuela Carneiro da Cunha, da Universidade de São Paulo e da Universidade de Chicago (USP/UChicago), Mauro William Barbosa de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Sônia Magalhães, da Universidade Federal do Pará (UFPA), de pesquisadores que atuam com os grupos tradicionais da região, de entidades não-governamentais e de representantes dos atingidos.
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