Mineradoras,
madeireiros, sojeiros. Para onde quer que olhem, moradores de
comunidades quilombolas e aldeias indígenas veem essas três ameaças cada
vez mais presentes nas terras onde vivem no município de Oriximiná,
oeste do Pará. Demarcação e titulação de terras estão entre as d
emandas
principais dessas comunidades. Elas reclamam da má vontade do governo de
Dilma Roussef em regularizar a situação, praticamente dando carta branca para que os territórios sejam invadidos.
Índios e quilombolas vêm denunciando que os
direitos constitucionais estão ameaçados pela demora na regularização de
suas terras e pelo avanço da exploração minerária. Desde abril de 2013,
o relatório de identificação da terra indígena Kaxuyana/Tunayana está
pronto aguardando a publicação pela presidência da Funai. A mesma demora
ocorre com o processo Terra Quilombola Alto Trombetas, cujo relatório
de identificação está pronto e não é publicado pelo Incra.
“Estamos requerendo essa demarcação desde
2008, porque estamos vivendo sob ameaças”, diz João Pekiriruwa, 61 anos,
integrante dos Kxuyana, índios do Alto Rio Trombetas. Segundo ele, toda
a papelada necessária para a titulação está na mesa da presidência da
Funai, em Brasília, só precisando da assinatura final. Há pressões em
sentido contrário.
A bancada ruralista tem pressionado Dilma a
mudar a maneira de titular e demarcar essas terras. A Funai perderia
espaço para o Congresso Nacional e o Senado. “Essa é a nossa
preocupação”, diz Pekiriruwa.
As terras são ricas em minérios como
cassiterita e bauxita. Até 2004 o avanço da soja também ameaçava índios e
quilombolas. “Estamos impedindo que eles invadam ainda mais”, diz
Juventino Pesirima Kxuyana. São oito aldeias onde moram mais de 300
pessoas. A expansão das atividades minerais também ameaça diretamente as
terras quilombolas Alto Trombetas e Jamari/Último Quilombo/Moura, onde
se encontram 13 comunidades. Como a titulação das terras ainda não saiu,
pesquisas feitas por mineradoras avançam.
A iniciativa de denunciar essas ameaças é
continuidade de uma articulação iniciada no ano passado, durante o 1º
Encontro Índios e Quilombolas de Oriximiná com o apoio da Comissão
Pró-Índio de São Paulo e Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação
Indígena.“Sem a titulação as nossas terras ficam ainda mais
vulneráveis”, diz o líder quilombola Francisco Hugo de Souza, 47 anos,
morador da comunidade Jauari, no município de Erepecuru, no Alto
Trombetas.
Segundo ele, a situação ficou mais
complicada porque não há política pública nas terras, praticamente
abandonadas em termos de assistência pelo governo federal. Algumas
comunidades tiveram de tentar implantar um plano de manejo florestal,
mas isso praticamente autorizou a entrada de madeireiras nos locais.
Os quilombolas afirmam que as licenças e
autorizações ambientais para lavra e pesquisa têm sido concedidas em
Brasília sem que os quilombolas sejam consultados ou adequadamente
informados.
“A pressão maior tem sido das mineradoras. Há máquinas
e homens trabalhando dentro do território, fazendo estudos já pensando
na exploração. O que nós queremos é que primeiro tenha a titulação,
depois a gente discute o que pode ser feito nas terras”, diz Domingos
Printes, 42 anos, morador do Abuí, no Rio Trombetas, em Oriximiná.
Outro lado
Por meio de nota,
a assessoria de comunicação da Mineração Rio do Norte (MRN) “nega que
esteja invadindo terras quilombolas. A Prospecção Mineral realizada na
área do Alto Trombetas atende todos os requisitos legais e pode ser
confirmada junto aos órgãos ambientais - Ibama (Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), assim como junto ao DNPM
(Departamento Nacional de Produção Mineral)”.
Diz ainda o documento que “em 34 anos de
atividades, a MRN sempre manteve uma relação de diálogo com as
comunidades. Portanto, ‘não há relação de tensão entre a MRN e os
remanescentes de quilombos’. O diálogo tem se dado com a participação
das comunidades e com a representação da ARQMO (Associação dos
Remanescentes de Quilombos de Oriximiná)”.
Por fim, “reafirma que tudo tem
sido feito dentro dos padrões legais e com respeito às comunidades. O
respeito ao homem e à natureza é princípio inafastável da vida da MRN”.
(Diário do Pará)
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