“O governo do
Estado até agora não me chamou para conversar sobre o problema crucial que
afeta hoje o nosso Estado, que é a segurança pública”.
Dos 27
parlamentares campeões de voto nas urnas em outubro de 2014, cinco são ligados
à segurança pública.
Delegados ou policiais militares, contam com o apoio de uma parcela
considerável da população de seus respectivos Estados para defender, no Congresso
Nacional, medidas mais duras contra a criminalidade. Entre estes campeões está
o paraense Eder Mauro Cardoso Barra, delegado da Polícia Civil com 30 anos
dedicados à segurança pública no Pará.
O segundo deputado
federal eleito com maior número de votos no Estado – só perde para a eleição de
Jader Barbalho em 2002, quando obteve 344.018 votos –, o delegado conhecido
como “xerife do Pará”, promete fazer jus aos seus 265.983 votos: vai atuar,
juntamente com outros 20 deputados, na chamada “bancada da bala” – que reúne
parlamentares ligados à segurança, como policiais.
Um dos projetos
que ele pretende combater e que já tem sido alvo de discussões polêmicas e
acaloradas é o Projeto de Lei
4.471/12, de autoria do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que altera o
Código Penal e cria regras para a apuração de mortes e lesões corporais em
ações de agentes do Estado, como policiais. Para Mauro, se aprovado, o projeto
afastará policiais das ruas.
Mesmo tendo seu
partido na base de
apoio de Simão Jatene (PSDB), Eder Mauro diz não ter sido procurado pelo
governador para discutir segurança no Pará e faz críticas à indicação do
general Jeannot Jansen da Silva Filho à Secretaria de Segurança Pública
(Segup). Confira:
P: Por ser
da base de apoio do governo Jatene e um dos maiores especialista em segurança pública no Estado, o senhor pretende atuar como
conselheiro do governador?
R: O governo do
Estado até agora não me chamou para conversar sobre o problema crucial que
afeta hoje o nosso Estado, que é a segurança pública. Hoje, o Pará não perde em
nada proporcionalmente para o Rio de Janeiro em se tratando de violência e
criminalidade. O diferencial é que no Rio o problema de segurança é setorizado. Nas vias de
circulação dentro do grande Rio, não existem riscos como em Belém, onde o
problema de segurança é geral. Você pode estar na Cidade Nova ou em Nazaré:
corre risco de ser assaltado a qualquer momento. Isso acontece a toda hora,
todo dia. Não há lugar seguro hoje em Belém. Isso está se agravando ao ponto em
que temos hoje um problema crônico de segurança, que precisa de pessoas que
entendam e que tenham vontade de fazer, de acertar. Para resolver o problema de
forma imediata, não definitiva, mas amenizando o medo que as pessoas hoje têm
de andar nas ruas de Belém, acredito que temos que colocar hoje dois grupos
fortes em três divisões fundamentais da segurança: grupos de elite, de ação,
operacionais em três divisões dentro da Polícia Civil...
P: A
Polícia Civil paraense tem quadro para isso?
R: Não, nós não
temos quadro. Nem na Polícia Civil, nem na Polícia Militar. Estamos muito aquém do que a
população necessita. Nós não temos quatro mil policiais civis para um Estado
com a população crescente, com o tamanho territorial que temos e os problemas
de fronteira.
P:
Explique um pouco mais essa proposta...
R: Seriam três
divisões com dez homens cada, que podem ser montadas também com a Policia
Militar. Defendo que o trabalho
policial deve ser integrado, embora já tenha ouvido falar que o
governo do Estado está pensando em desvincular a Polícia Militar da Secretaria
de Segurança. Não concordo com isso. Então, teríamos três grupos fortes com dez
homens cada, com um gerenciador que tenha vontade para contagiar seus
parceiros, e esses três grupos iriam para as ruas dar resultado, para dar
tranquilidade à população. E esses grupos poderiam ser montados também para dar
apoio ao interior do Estado. Enquanto isso, você abriria concursos, qualificaria o quadro. A polícia está
com um quadro de idade avançada. Temos um quadro pequeno e muitas
aposentadorias estão sendo deflagradas. E aí?
P: O
senhor já teve a oportunidade de apresentar sua proposta ao governador?
R: Não pretendo
ficar falando mal do governo do Estado, até porque quando eu de fato decidir
falar será quando ficar provado que não está sendo buscada a solução. Eu espero
que o governador Simão Jatene se sensibilize em consultar pessoas que de fato
entendem do assunto. E como representante hoje da população paraense, que me
elegeu exatamente por acreditar que estávamos dando respostas ao aumento da criminalidade no
Estado, eu quero ter não o direito, mas a consideração de ser consultado e
contribuir.
P: O
governo do Pará está sendo muito criticado de forma nacional por sua política
de segurança pública, até mesmo pelo Conselho Federal da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil). O senhor não deveria também estar nesta linha
crítica?
R: Eu poderia
estar aqui criticando, mas creio que não preciso fazer isso, pois a OAB já está
exercendo este papel. Temos hoje um secretário de Segurança que não é do nosso
Estado, que não mora no nosso Estado [general Jeannot Jansen da Silva Filho,
ex-comandante militar da Amazônia], que, pelo que apurei, pode até conhecer de
questões militares, de estratégia de guerra, de qualquer outra coisa mas de criminalidade urbana não
acredito que ele tenha conhecimento. Eu fui consultado pelos advogados que
tiveram uma reunião com
o general após a morte do presidente da subseção da OAB em Parauapebas, Jakson
de Souza Silva. Me informaram que, quando consultado sobre os casos de
assassinato de advogados no Pará, ele se levantou da reunião, saiu da sala e
disse que não tinha condições de falar sobre o assunto. Como é que uma pessoa
que age desta forma, mediante um questionamento grave e sério sobre segurança
pública no Estado, vai cuidar desta questão? Ele não conhece a nossa realidade.
Em Belém estão inclusive brincando, dizendo que ele [o general] não sabe nem
onde fica a avenida Almirante Barroso.
P: Será
que o governador buscou esse nome de fora pelo fato de o Pará não ter nomes de
profissionais capazes de resolver a questão?
R: Tenho certeza
absoluta de que temos bons, excelentes nomes para a segurança pública. Nós não
precisamos estar importando ninguém para fazer a segurança no Pará. A polícia
do Estado do Pará, com todas as deficiências que tem, como falta de apoio e
falta de pessoal, embora aparelhada, e eu preciso informar isso, que somos bem
aparelhados, é uma polícia de grandes quadros. Precisamos colocar no lugar
pessoas que tenham o conhecimento e a vontade de fazer a polícia funcionar.
P: O senhor falou
que não há problema com equipamentos. E o problema dos carros, que sempre
ouvimos falar que não têm nem combustível?
R: Veja bem: nós
temos um bom armamento, proporcionalmente aos outros Estados. Mas ouço
reclamações de policiais ultimamente de que não temos combustível. Temos que
mendigar o combustível para poder sair.
Eu elogio quando o elogio tem que ser feito, mas também tenho legitimidade para
criticar. No Pará, nos crimes mais bárbaros que já ocorreram, a polícia, pela
boa vontade, pelo esforço de seu quadro, sempre deu o resultado. Eu defendo a
Polícia Civil do Pará e também a parceria da Polícia Militar. Crimes bárbaros
nunca deixaram de ser desvendados. Mas hoje eu vejo uma polícia que está com um
quadro reduzido, sem apoio político.
P: O
senhor vai integrar a chamada “bancada da bala” na Câmara dos Deputados. Há uma
grande expectativa da população com relação ao trabalho desta bancada...
R: Desta bancada
eu asseguro que serei a pólvora. Hoje a questão número um do país é a segurança
pública. O carro-chefe das últimas campanhas tem sido segurança. Todos falam em
segurança pública, mas, depois de eleitos, onde menos aplicam recursos é
exatamente na segurança. Muitas vezes a polícia não precisa nem de material, de
equipamentos. A polícia precisa de apoio político, a polícia precisa de força.
É impressionante como já cheguei ao Congresso e me deparei com pessoas querendo
tirar a força da polícia. O senhor José nas ruas, a dona Maria nas ruas, eles
querem ver o policial passar, dando proteção, defendendo-os de um assalto. A
população quer ver noticiários onde a polícia invadiu a fortaleza de um
traficante, apreendeu drogas, tirou os traficantes e bandidos das ruas.
Infelizmente, já encontrei aqui uma ala de pessoas que não têm o menor
compromisso com a população. Estão colocando uma proposta para tramitar que
retira o auto de resistência do procedimento policial.
P: O que é
o auto de resistência?
R: É uma peça
dentro do procedimento policial que respalda o policial quando, em um confronto
com um bandido na rua, pode ocorrer a morte de um bandido. O policial faz este
auto de resistência na delegacia de polícia, é feita uma perícia no local, é
feito um levantamento no local, a arma do policial é apreendida e encaminhada
para o Instituto de Criminalística, a arma do bandido é apreendida. A
Corregedoria da Polícia Civil vai apurar em inquérito separado para saber como
foi a atuação do policial mediante o confronto direto, enfim, tudo isso nós
aceitamos. Agora, extinguir o auto de resistência e incutir numa nova
legislação vai ter apenas duas alternativas: ou o policial morre ou ele mata o
bandido, se o bandido reagir, e ele, o policial, vai ser preso. Estes políticos
que não têm compromisso com a população querem que o policial, numa situação
dessas, se matar o bandido, seja preso, seja autuado em flagrante. E fica preso
aguardando uma decisão da justiça. Ontem eu estava assistindo a uma discussão
entre dois parlamentares, um deles defendendo a retirada do auto de
resistência, usando como argumento a possibilidade do auto ser usado de forma
abusiva pelos policiais. Ora, não se pode generalizar. Hoje não existe
categoria profissional mais vigiada do que a polícia. Toda polícia tem uma
corregedoria que vive em cima. Diferente de outras instituições, incluindo
políticas, onde muitas vezes o corporativismo não permite que nada aconteça a
seus integrantes, a Corregedoria da Polícia faz questão de punir o policial. O
próprio Ministério Público nos fiscaliza. E agora o policial, sem apoio
político, vai para as ruas para defender o cidadão de bem, colocando sua vida
em risco e não vai poder interferir em um caso de assalto, já que não poderá
usar a arma pelo risco de matar o bandido. Esse policial vai preferir virar as
costas, pois se matar o bandido correrá o risco de ser preso. O que fazer? Eu
acho que lugar de bandido ou é morto ou é preso. Se ele se entregar, vai preso,
mas se não se entregar, pode ser morto em uma perseguição. Um policial tem que
defender a vida dele. Não tenham dúvidas: se acabar o auto de resistência, vão
tirar de vez o policial das ruas.
P: O
senhor defende a integração das polícias?
R: As polícias
Civil e Militar devem estar unidas no trabalho sempre. Têm a mesma função.
Defendo o trabalho integrado. Gostaria que a integração ocorresse no Pará e no
Brasil. Gostaria inclusive que os salários também fossem integrados. Não pode
um policial de Brasília ganhar o dobro, às vezes o triplo do que ganha, por
exemplo, um policial na mesma função no Pará.
(Diário do Pará)
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