A detenção de um vendedor ambulante em
Altamira, no sudoeste do Pará, causou comoção na cidade e nas redes
sociais nesta terça-feira, 24. Raimundo Neto vende, há seis anos,
lanches em uma bicicleta cargueira e estava parado em frente a uma
escola na Rua 7 de setembro, centro comercial da cidade, quando foi
abordado por quatro guardas municipais.
Segundo o vendedor, eles pediram para
que ele retirasse a bicicleta da calçada, mas como ele pediu que
esperassem um pouco, os guardas o teriam algemado e arrastado à força
para dentro da viatura, e a bicicleta com os lanches foi colocada na
carroceria do veiculo. “Eles chegaram e me falaram pra eu me retirar. Eu
pedi pra esperar um pouco, só acabar o recreio da escola, mas eles já
me falaram que iam prender a minha bicicleta. Eu falei que eles não iam
levar a minha bicicleta porque eu não estava fazendo nada com ninguém.
Aí eles passaram a gravata no meu pescoço, me algemaram e me levaram
para Depol. Em momento algum eu xinguei e nem tentei bater neles, como
eles estão dizendo”, contou Raimundo.
No momento da prisão do ambulante,
varias pessoas passavam pelo local e não concordaram com a ação dos
guardas municipais. “Eles poderiam andar atrás dos bandidos que roubam e
matam, ao invés de estarem perseguindo um trabalhador honesto”, desabou
um cidadão que presenciou a cena de violência.
Fotos e vídeos da detenção de Raimundo e
sua bicicleta foram parar nas redes sociais e geraram revolta e muitos
comentários por parte de internautas. A maioria em apoio ao vendedor.
A inspetora chefe da guarda municipal,
Daniele Freitas, estava à frente da guarnição que deteve o ambulante.
Segundo ela, Raimundo foi abordado porque estava vendendo lanche na
calçada. “O fiscal abordou e pediu para ele retirar o material de cima
da calçada tendo em vista essa operação que esta sendo feita. A calcadas
livres. Durante a abordagem ele falou para o fiscal procurar o que
fazer porque ele não iria retirar a bicicleta de cima da calçada, só
quando terminasse de vender o material dele”, explicou a inspetora.
Ela diz ainda que Raimundo só foi detido
porque desacatou e agrediu a guarnição. “Quando pegamos a bicicleta
para colocar na viatura, ele se alterou e me empurrou. Foi quando eu
resolvi encaminhar ele para a Depol por causa do desacato. O intuito da
guarda não é proibir ninguém de vender o seu produto nem de prover o
sustento de sua família, mas desde que faça dentro da legalidade”,
orientou Daniele.
Raimundo
Neto foi apresentado ao Delegado de plantou na Delegacia de Polícia
Civil de Altamira e depois foi liberado. “Nunca tinha acontecido isso
antes comigo. O meu dia acabou e eu perdi meu lanche e o meu dinheiro.
Sempre deixei minha bicicleta lá, no cantinho, e nunca empatou ninguém. O
negócio é que eles querem ser autoridade e não respeitam ninguém”,
desabafou Raimundo, que disse ainda que já registrou um boletim de
ocorrência e acionou um advogado para resolver essa situação.
Até o momento nem o Comando da Guarda
Municipal e nem a Prefeitura de Altamira informaram se vão abrir um
processo administrativo para investigar a conduta da guarnição que
estava no local. Instalada em 2007, a Guarda Municipal de Altamira tem
hoje 100 guardas municipais. Nenhum deles e concursado.
Operação Calçadas Livres
A operação Calçadas Livres
começou no dia 12 de janeiro e, de acordo com a Prefeitura, não teria
data para terminar. Na época mais de 60 barracas de ambulantes foram
retiradas das calçadas das principais ruas e avenidas da cidade.
A ação foi baseada em uma recomendação
do Ministério Público Estadual, assinada pela promotora de Justiça,
Silvana Nascimento Vaz de Sousa, que recomendou no dia 17 de outubro do
ano passado, através de um ofício, que num prazo de 60 dias, fossem
eliminadas as barreiras arquitetônicas nas calçadas do município, que
estariam inviabilizando o direito das pessoas de transitar com
segurança. Além disso, a ação de desobstrução também se baseava
no código de postura do município.
Até agora, quase 60 dias, após ter sido
deflagrada, nenhum ambulante foi realocado e nem as calçadas da cidade
foram recuperadas para garantir o direito à acessibilidade, conforme
recomendou o Ministério Público Estadual.
Por: Valéria Furlan e Wilson Soares – A Voz do Xingu
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