Corpo da menina, de 12 anos, deve passar por autópsia no IML, em Boa Vista, conforme o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY). Uma nova tentativa será realizada nesta quarta-feira (27).
O mau tempo registrado nesta terça-feira (26) em Roraima, impediu a saída do voo que levaria o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, até a comunidade em que uma menina de 12 anos que morreu após ser estuprada por garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. A ideia era buscar o corpo para fazer autopsia em Boa Vista.
A Terra Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, só pode ser acessada por aeronaves ou barcos e, por isso, as fortes chuvas impendem a locomoção até o território. A comunidade Aracaçá, onde a menina morava, fica na região de Waikás.
O presidente do Condisi-YY planeja buscar o corpo da vítima para realização de autópsia no Instituto Médico Legal (IML), em Boa Vista. Uma nova tentativa ocorre nesta quarta-feira (27).
"Hoje a gente ia até a comunidade, o tempo chuvoso na terra indígena Yanomami não nos permitiu ir e amanhã nós tentaremos de novo ir para a comunidade para ouvir, trazer essas informações e conversar com a comunidade. Essa comunidade tem 30 Yanomami e é de difícil acesso", disse Júnior.
O acesso à região de Waikás demora cerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista. Para chegar até a comunidade Aracaçá, onde a menina foi estuprada e morreu, são mais 30 minutos de helicóptero ou 5 horas de barco pelo rio Uraricoera. A população da região é 198 indígenas, segundo o Condisi-YY.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a região que compreende a Terra Yanomami, está em alerta laranja, que significa perigo de chuvas intensas.
A informação da morte da menina foi divulgada na noite da segunda-feira (25) em um vídeo divulgado por Hekurari nas redes sociais. Ele afirma que, além da morte da menina, uma outra criança ianomâmi, de cerca de 3 anos, desapareceu após cair no rio Uraricoera.
"A adolescente estava sozinha na comunidade e os garimpeiros chegaram, atacaram e levaram ela para as barracas deles. A tia dela defendeu [a sobrinha]. Quando estava defendendo, os garimpeiros empurram ela em direção ao rio junto com a criança. Essa criança se soltou no meio do rio, acho que estava em um barco. Eles invadiram e levaram [a menina] para o barraco dos garimpeiros e a violentaram brutalmente, estupraram essa adolescente. Moradores de lá me disseram que ela morreu. Então, é muito triste, muito triste mesmo", disse Hekurari ao g1.
Segundo Hekurari, a Polícia Federal (PF) e o Exército foram informados do crime ainda na noite de segunda (25).
Hekurari disse ainda que há a suspeita que os garimpeiros estivessem armados. A comunidade Aracaçá corre o risco de desaparecer, alerta o relatório "Yanomami Sob Ataque", da Hutukara Associação (HAY). A área está localizada no meio de acampamentos montados por garimpeiros.
A violência sexual contra meninas e mulheres ianomâmi cometida por garimpeiros já havia sido denunciada semana passada pela Hutukara Associação Yanomami.
Região de Waikás
A região de Waikás, onde fica a comunidade Aracaçá, foi a que teve o maior avanço de exploração de garimpeiros, de acordo com o relatório "Yanomami sob ataque", divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY). Lá, a devastação foi 296,18 hectares -- 25% em um ano.
"Quase a metade da área degradada está concentrada em Waikás", cita o relatório.
A região ficou à frente de Homoxi (253,31), Kayanau (178,64) e Xitei (124,84). Com exceção das regiões Surucucus, Missão Catrimani e Uraricoera, todas as áreas tiveram um crescimento de 2020 até o fim de 2021.
Terra Yanomami: números mostram maior devastação causada pelo garimpo em 30 anos
Quase metade das áreas afetadas por garimpos estão concentradas na região Waikás, no rio Uraricoera, seguidas de Kayanau, localizada na confluência dos rios Couto Magalhães e Mucajaí, com mais de 20% e Homoxi, na fronteira do Brasil com a Venezuela, com 12%.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 30 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.
A área é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. Mas, nos últimos anos, essa busca pelo minério se intensificou, causando além de conflitos armados, a degradação da floresta e ameaça a saúde dos indígenas.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos ianomâmi, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
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