Exército sírio admitiu ter perdido o controle da cidade central e comunicou ter redistribuído suas forças em outras posições
Forças rebeldes disparam foguetes contra tropas do governo nos arredores de Hama . |
Forças rebeldes capitaneadas pelo grupo jihadista Hayet Tahrir al-Sham (HTS) superaram o bloqueio exercido pelas tropas governistas de Bashar al-Assad e tomaram na cidade de Hama, quarta maior cidade da Síria, localizada a cerca de 200 km de Damasco, nesta quinta-feira. O avanço na região central do país representa mais um sucesso na campanha militar iniciada na semana passada, que reacendeu um conflito que parecia adormecido, e ampliou a faixa controlada pelos jihadistas, antes restrita ao extremo norte, em direção ao sul. Combatentes rebeldes entraram em Hama "por várias direções", informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), um monitor do conflito com sede em Londres que mantém uma série de fontes no terreno, nesta quinta-feira, relatando também combates travados nas ruas da cidade, entre as forças do regime e os grupos jihadistas. O Exército da Síria reconheceu, pouco depois, que havia perdido o controle do município para os rebeldes."Durante as últimas horas (...), grupos terroristas conseguiram atravessar várias frentes na cidade e entrar [em Hama]", afirmou o Exército em um comunicado, acrescentando que as suas forças foram "redistribuídas para fora da cidade".
Em um comunicado circulado através do Telegram pelo Comando de Operações Militares — estrutura por meio da qual diferentes grupos operam em conjunto —, os rebeldes disseram ter tomado a cadeia da cidade, libertando centenas de presos pelo regime de Assad que cumpriam pena no local. Combates violentos vinham acontecendo em Hama ao longo dos últimos dias, com os rebeldes tentado avançar em direção ao sul e as forças governistas, com apoio aéreo russo, tentando travar a ofensiva que começou com o ataque contra Aleppo, no norte. Na quarta-feira, os relatos já davam conta de que os rebeldes tinham conseguido cercar quase que completamente a cidade.
Rebeldes recarregam artilharia . |
No período de uma semana, o HTS e seus aliados tomaram Aleppo, a segunda maior cidade do país, e continuaram um avanço importante em direção ao sul. Segundo informações divulgadas pela CIA antes do começo da ofensiva, o objetivo final do grupo seria a tomada de Damasco e a deposição do governo Assad.
Antes da ofensiva decisiva contra Hama, a estimativa do OSDH era de que os combates dos últimos dias causaram 704 mortes, incluindo 110 civis.
Localização estratégica, passado sangrentoHama ocupa uma posição estratégica na Síria por sua localização entre Damasco, capital e centro de pilar do regime de Assad, e Aleppo, a segunda maior cidade do país. Com uma população de cerca de um milhão de habitantes, é predominantemente muçulmana sunita, mas também tem uma minoria da seita alauíta do islamismo xiita, à qual Assad pertence.
Como outras cidades sírias, Hama se rebelou em 2011 contra o regime que governa o país há décadas, após a repressão brutal aos protestos antigovernamentais no contexto da Primavera Árabe, que deram início à guerra civil, que atraiu forças estrangeiras e jihadistas ao país. Naquela época, centenas de milhares de pessoas foram às ruas da cidade, onde havia poucas tropas do governo. Embaixadores dos EUA e da França foram ao encontro de manifestantes, provocando a ira do governo. Em 31 de julho daquele ano, as tropas começaram uma grande ofensiva contra a cidade, matando pelo menos 139 pessoas, de acordo com grupos de oposição.
Décadas antes, em fevereiro de 1982, uma repressão muito mais sangrenta ocorreu após uma revolta da Irmandade Muçulmana, grupo era na época a principal oposição ao então presidente Hafez al-Assad, pai do atual presidente, e realizou vários ataques.
Membros da Irmandade mataram quadros do Partido Baath no poder em Hama, desencadeando represálias brutais durante uma ofensiva militar para reprimir a revolta usando artilharia e tanques. Fontes variadas estimam entre 10 mil e 40 mil mortes na cidade sitiada e isolada ao longo de cerca de um mês. O irmão de Hafez, Rifaat al-Assad, realizou a repressão como chefe das "Brigadas de Defesa", uma força de elite. A ação lhe rendeu o apelido de "Açougueiro de Hama". Em março deste ano, o gabinete do procurador-geral da Suíça disse que estava acusando Rifaat de "ordenar homicídios, atos de tortura, tratamentos cruéis e detenções ilegais".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe do Blog do Xarope e deixe seus comentários, críticas e sugestões.