A sinalização do Gorverno do Estado
sobre uma possível privatização da Companhia de Saneamento do Pará
(Cosanpa), além dos servidores que temem a demissão em massa, virou
motivo de preocupação também para estudiosos e ambientalistas, que veem
no repasse da estatal para iniciativa privada, uma forma de venda do
Aquífero Alter do Chão, para grandes corporações, inclusive com a
possibilidade de internacionalização, como aconteceu com a exploração do
pré-sal.
Antônio Carlos Tancredi, professor e pesquisador que trabalhou para
importantes instituições científicas brasileiras, como por exemplo,
Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (Idesp) e
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), possui doutorado em
Geologia e Geoquímica (Hidrogeologia) pela Universidade Federal do Pará.
Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em estudos
hidrogeológicos regionais na ilha de Marajó e em pesquisas
hidrogeológicas detalhadas para água mineral na região metropolitana de
Belém, Marabá e Santarém (PA), Macapá (AP), São Luís (MA) e Manaus (AM).
Apesar de hoje estar aposentado, ele
continua trabalhando com serviços de consultorias específicas, sendo um
dos especialistas brasileiros mais influentes nos estudos e pesquisas
sobre água doce. Para ele, antes de qualquer ação do homem que possa
intervir drasticamente no Aquífero Alter do Chão, que ele afirma ser “o
aquífero mais importante do mundo”, o estudioso orienta que tudo seja
realizado com o devido planejamento.
A sinalização do Gorverno do Estado
sobre uma possível privatização da Companhia de Saneamento do Pará
(Cosanpa), além dos servidores que temem a demissão em massa, virou
motivo de preocupação também para estudiosos e ambientalistas, que veem
no repasse da estatal para iniciativa privada, uma forma de venda do
Aquífero Alter do Chão, para grandes corporações, inclusive com a
possibilidade de internacionalização, como aconteceu com a exploração do
pré-sal.
Segundo Antônio Carlos Tancredi, que
realizou estudos no início da década de 90, o Aquífero Alter do Chão
possui extensão de aproximadamente 500 mil quilômetros quadrados. Na
região de Santarém, Vila de Alter do Chão e Belterra, o estudo feito em
uma área de 900 quilômetros quadrados, mostrou que o volume de água
disponível nessa área é de mais de 86,55 bilhões de metros cúbicos.
“Portanto, um volume colossal. Ele é um aquífero importante não somente
pelo seu tamanho, mas também pela boa produção de água. A Agência
Nacional de Água (ANA) fez um estudo que ainda será publicaao, sobre o
Aquífero Alter do Chão em toda a região Amazônica. Provavelmente ele irá
ultrapassar o Guarany, que atualmente é tido como um dos maiores do
mundo”, observa o pesquisador.
Para o estudioso, o simples fato de se
pensar na privatização de uma estatal que realiza a captação de água
subterrânea nesta região, é motivo para fazer uma alerta relevante a
toda população, bem como aos governantes.
“Atualmente a água potável está ficando
casa vez mais valorizada, então, grandes companhias estão voltando suas
atenções às grandes reservas de água pelo mundo. Provavelmente daqui a
algumas décadas, muitas indústrias virão para nossa região por causa da
água. Então, o que acontece é que água está se tornando um bem
supervalorizado, e as grandes corporações querem ter o controle destas
reservas. Estudos revelam que 97,5% da água no planeta é água salgada; o
restante, 2,5% é água doce, deste, 1,5% estão nas calotas polares, e
dos 1% restante, 70% são reservas subterrâneas, como por exemplo, a do
Aquífero Alter do Chão”, acrescenta Tancredi.
FIQUE POR DENTRO: De
acordo com o Rodolfo Alves Pena, a Aquífero Alter do Chão, desde 2010, é
considerado o maior aquífero do mundo em volume de água disponível,
configurando-se como uma importante reserva natural. O aquífero é um
reservatório de água situado em regiões que apresentam solos e rochas
permeáveis o suficiente para permitir a penetração, armazenamento e
circulação interna da água advinda da superfície. A água é filtrada
enquanto passa pelos poros existentes no relevo, o que permite a
formação de nascentes, lençóis freáticos, rios e recursos hídricos com
grande quantidade de água potável. Por isso, os aquíferos possuem grande
relevância ambiental. O aquífero Alter do Chão é um exemplo desse tipo
de forma natural. Ele está localizado em uma parte da região Amazônica,
mais precisamente em partes do Pará, do Amazonas e também em um pequeno
trecho do Amapá. A existência de um aquífero na Amazônia sempre foi de
conhecimento dos estudiosos em Ciências da Terra, mas, em 2010,
descobriu-se que suas reservas poderiam ser muito maiores do que se
imaginava anteriormente, o suficiente para garantir a liderança mundial
em reservas hídricas, superando com mais que o dobro de quantidade o
Aquífero Guarani, o segundo colocado, embora a área de ocupação desse
último seja bem superior. O Aquífero da Amazônia é do tipo misto, isto
é, com características de dois tipos diferentes: uma parte superior do
aquífero livre de 50 metros de profundidade e uma parte inferior do
aquífero confinada em 430 metros, segundo dados do CPRM (Serviço
Geológico Nacional). As rochas da região são do tipo sedimentar,
predominantemente compostas por argilito e arenito, o que permite uma
maior acessibilidade aos poços de água, haja vista que tais formações
não dificultam a perfuração. A manutenção e sustentabilidade do Aquífero
Alter do Chão na Amazônia também perpassa pela conservação da floresta.
Isso porque boa parte de seu abastecimento vem da grande quantidade de
chuvas existentes na região, o que ajuda a explicar o grande volume de
água mesmo em uma área menor que a do Aquífero Guarani. Essa elevada
pluviosidade é gerada pela umidade intensa produzida pela própria
Floresta Amazônica, que, por sua vez, utiliza-se dos recursos hídricos
para a realização da evapotranspiração, com o “bombeamento” da água dos
solos para a atmosfera, o que se relaciona também com os Rios Voadores.
PRIVATIZAÇÃO DA COSANPA:
A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) Maria Silva
Bastos informou que pelo menos dezoito Estados deverão entrar no
programa do Banco de concessão dos serviços de saneamento.
De acordo com ela, além de Rio de
Janeiro, Pará e Rondônia, que já haviam aderido ao programa numa etapa
anterior, outras 15 unidades da Federação já se comprometeram a entrar
no programa que pretende repassar à iniciativa privada os sistemas de
água e esgoto, o que somaria mais de metade da população.
Segundo a presidente do banco, o
programa tem o objetivo de universalizar a distribuição de água, coleta e
tratamento de esgoto. Para ela, o País tem posição “vergonhosa” nesse
quesito de infraestrutura em relação ao resto do mundo. Ainda de acordo
com ela, o banco deve terminar nas próximas semanas um processo de
seleção de consultorias que vão auxiliar no processo de leilão dessas
privatizações. O banco poderá financiar até 80% dos investimentos
previstos com juros subsidiados.
Por: Edmundo Baía Júnior
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