Um cheque de doação nominal da construtora Andrade Gutierrez no
valor de R$ 1 milhão ao então candidato a vice-presidente Michel Temer
(PMDB) em 10 de julho de 2014 diverge da versão do ex-presidente da
empreiteira e delator Otávio Azevedo apresentada em seu depoimento na
ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE em setembro deste
ano.
Na ocasião, o delator afirmou que a empreiteira doou em
março daquele ano R$ 1 milhão ao diretório nacional do PT e que esse
valor teria sido pago como parte de um acerto de propina de 1% dos
contratos da Andrade com o governo federal.
A quantia, na versão de Otávio, teria sido repassada do diretório petista para a campanha da chapa Dilma-Temer em 14 de julho.
Como previa a legislação no período, os diretórios eram obrigados a
identificar o responsável pelas doações que chegavam à sigla e depois
eram encaminhados aos candidatos.
O cheque e os registros da
prestação de contas, contudo, mostram que o repasse feito em julho foi,
na verdade, para o diretório nacional do PMDB, em nome de Michel Temer e
que, posteriormente, fez o repasse para a campanha da chapa
Dilma-Temer. A defesa de Dilma Rousseff no processo acusou o delator de
prestar falso depoimento à Justiça Eleitoral e pediu ao Ministério
Público que apure o caso.
Ao ser indagado em setembro pelo
ministro Herman Benjamin sobre as doações feitas pela empresa aos vários
candidatos e partidos, Otávio disse não haver uma distinção no caixa da
companhia sobre os repasses feitos aos vários políticos, mas disse que
"certamente" este um milhão doado ao PT em março, e que ele pensou ter
sido repassado em julho, era decorrente do acerto de propinas da Andrade
com o governo federal.
Ele também reafirmou que parte dos
recursos que eram doados ao PMDB vinham de um acerto de propinas da
empreiteira com o partido referente às obras da usina de Belo Monte,
citada pelos delatores da Andrade e que está sob investigação da Lava
Jato.
Diante disso, o ministro do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) Herman Benjamin, relator do processo que pode levar à
cassação da chapa vitoriosa de Dilma Rousseff e Michel Temer nas
eleições de 2014, determinou uma acareação entre Edinho Silva, que atuou como tesoureiro da campanha da petista, e o executivo Otávio Azevedo.
A acareação foi marcada para quinta-feira, 17, às 18h, no TSE.
A decisão do ministro acolhe pedido dos advogados que representam o
PSDB, responsáveis pela ação contra a chapa Dilma/Temer.
A
decisão de Herman foi tomada depois de a defesa de Dilma apresentar ao
TSE uma série de documentos que apontam que Temer foi o beneficiário de
uma doação de R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez.
A defesa de
Otávio não quis comentar o assunto e deve encaminhar uma explicação ao
TSE sobre o depoimento do delator nos próximos dias.
Em nota, o
PMDB reafirma que "sempre arrecadou recursos seguindo os parâmetros
legais em vigência no país. Doações de empresas eram permitidas e
perfeitamente de acordo com as normas da Justiça Eleitoral nas eleições
citadas. Em todos esses anos, após fiscalização e análise acurada do
Tribunal Superior Eleitoral, todas as contas do PMDB foram aprovadas não
sendo encontrados nenhum indício de irregularidade".
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