Entenda os esforços para acomodar delegações e a polêmica dos preços altos em Belém.
A aproximação da COP30, conferência climática da ONU que Belém sediará de 10 a 21 de novembro, trouxe à tona um debate acalorado sobre os preços de hospedagem na capital paraense.
As notícias de diárias exorbitantes e a escassez de quartos geraram preocupação, mas qual é a real situação?
Para entender o cenário, o InfoMoney conversou com diversos atores do setor turístico local, plataformas de hospedagem, a organização do evento e o Ministério do Turismo.
Embora admitam a existência de preços elevados, as fontes ressaltam que essa não é a realidade da maioria das opções de hospedagem.
Cláudia Craveiros, diretora do CRECI-PA, expressou sua preocupação com a comunicação da realidade local:
"Acredito que entre as falhas da organização, a comunicação da nossa realidade é uma delas.
Faltou comunicar isso. Aqui em Belém a realidade é outra (...) Aqui se vê também a pobreza e a consequências de falta de investimento, de olhar, para toda uma região" - desabafou Cláudia Craveiros.
Afinal, quantos leitos Belém tem?
O Ministério do Turismo mapeou mais de 53 mil leitos em Belém, distribuídos em 28 mil quartos em hotéis, navios e residências de temporada. No entanto, os hotéis e região metropolitana oferecem apenas 27,4% dos leitos.
A maior parte está em imóveis residenciais para aluguel por temporada, com destaque para o Airbnb, que concentra grande parte das hospedagens, segundo a organização do evento.
Toni Santiago, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Pará (ABIH-PA), apontou um desafio crucial: transformar leitos em quartos.
Isso porque as delegações, compostas por líderes de estado e funcionários de alto escalão, geralmente não dividem quartos, o que reduziu a disponibilidade de 22 mil leitos para 7 mil quartos.
Preços altos: realidade ou sensacionalismo?
Toni Santiago argumenta que os preços da rede hoteleira local estão em linha com os de outros eventos globais, mencionando a COP29 em Baku como exemplo.
Ele reconhece que alguns hotéis estão cobrando valores acima da média, mas afirma que são minoria e que estão sendo forçados a baixar os preços.
Luísa Dalcin, diretora de comunicação do Viajala, explica que o aumento nos preços das hospedagens durante grandes eventos é resultado da alta demanda em relação à oferta.
No entanto, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, alega que os preços em Belém chegaram a ser "10, 15 vezes maiores do que os hotéis costumam oferecer".
Daniel Farias, sócio da Broker Soluções Imobiliárias, aponta que os preços mais altos são praticados por pessoas físicas em plataformas de aluguel por temporada.
Um levantamento feito em março de 2025 mostrou aluguéis de até R$ 547 mil por 12 diárias em bairros de alto padrão.
Em agosto, os valores caíram, mas ainda permanecem elevados.
Apesar das críticas, corretores de Belém defendem que existe um certo sensacionalismo na forma como a mídia retrata os preços das hospedagens.
Eles garantem que há opções para todos os bolsos e que é possível encontrar um intervalo de preços mais amplo em diferentes plataformas.
De fato, em uma pesquisa no Booking, em 15 de agosto de 2025, foram encontradas opções de hotéis e pousadas para o período da COP30 com valores entre R$ 1.446 e R$ 97.509.
As diferenças de preço refletem a distância do centro da cidade, a localização nos bairros e a infraestrutura dos estabelecimentos.
Nas imobiliárias, é possível encontrar imóveis residenciais para locação com preços variados, dependendo do número de quartos, banheiros e serviços inclusos.
Daniel Farias afirma que sua imobiliária oferece hospedagens a partir de 180 dólares a diária.
Claudia Craveiros ressalta que quem disponibiliza a própria casa para hospedagem corre riscos e que esses imóveis geralmente possuem boa estrutura e estão localizados em condomínios fechados, o que justifica um custo mais elevado.
Desafios de hospedar uma delegação
Luísa Dalcin, da Viajala, que já trabalhou com autoridades, confirma o desafio de hospedar funcionários de alto escalão do governo.
É preciso ter experiência com autoridades, falar idiomas e passar por treinamento específico.
Além disso, a segurança exige medidas como fechar um andar inteiro de um hotel e montar uma operação específica para a entrada e saída da autoridade.
O aumento das delegações foi tema de um pedido do governo brasileiro para que os países participantes da COP reduzissem o tamanho de suas delegações.
O pedido foi duramente criticado em uma carta assinada por 25 países membros, que apontavam para a escalada nos preços de hotéis, a oferta insuficiente de leitos, a insegurança e a dificuldade de deslocamento na capital paraense.
Apesar das críticas, o governo brasileiro reafirmou seu compromisso de acomodar todos os países na conferência.
Para as delegações de países em desenvolvimento, foram ofertados 530 apartamentos em hotéis 5 estrelas com diárias a 100 dólares, além de 2.500 quartos com diárias a partir de US$ 100 para Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEIDs).
O que diz o governo federal?
O Ministério do Turismo garantiu que o sucesso da conferência é uma prioridade absoluta para o governo federal.
O ministro Celso Sabino se reuniu com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, para tratar da questão e garantir hospedagem a todas as delegações convidadas, especialmente as dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
O Ministério do Turismo também informou que 23 hotéis de Belém e da Região Metropolitana já captaram R$ 167 milhões em financiamentos via Fundo Geral de Turismo (Novo Fungetur) para obras e capital de giro com vistas à preparação da COP30.
Fonte : G1
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