Iniciativa liderada pelo coletivo Pretas Marias forma 20 mulheres quilombolas no quilombo Boa Vista e resultará em documentário produzido por elas, com apoio da MALUNGU e do Fundo Casa Socioambiental.
O Quilombo Boa Vista, primeira comunidade titulada coletivamente com base no Constituição de 1988, em 1995, em Oriximiná (PA), no Baixo Amazonas, é palco de uma iniciativa pioneira pensada por mulheres quilombolas: o Projeto de Comunicadoras Populares, que visa formar e estruturar uma rede de comunicólogas quilombolas do Baixo Amazonas.
A proposta é liderada pelo coletivo Pretas Marias, formado por mulheres quilombolas de Oriximiná, e conta com o apoio da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará (MALUNGU) e financiamento do Fundo Casa Socioambiental.
O projeto nasceu de uma inquietação coletiva dentro do grupo, a partir da constatação da falta de visibilidade das mulheres que atuam diariamente na linha de frente das ações em seus territórios.
“São mulheres que cuidam, organizam, enfrentam os impactos das mudanças climáticas e da mineração, mas seguem invisibilizadas.
A gente criou esse projeto para que elas possam mostrar a grandeza e a sensibilidade do trabalho que realizam”, explica Carlene Printes, coordenadora de Diversidade de Gênero da Malungu, quilombola do território Boa Vista e fundadora do coletivo Pretas Marias.
A formação, que teve início em julho e vai até setembro, contempla 20 mulheres quilombolas em oficinas semanais sobre comunicação popular, comunicação antirracista, produção audiovisual e roteiro.
O objetivo é capacitar essas participantes não só para atuarem como comunicadoras, mas também como multiplicadoras do conhecimento em suas comunidades.
Além das mulheres do quilombo Boa Vista, a formação também inclui participantes do território Mãe Domingas e ACORQE, reforçando a proposta de fortalecimento territorial e articulação regional.
Como resultado final, será produzido um documentário autoral, filmado e roteirizado pelas próprias comunicadoras, com registros do cotidiano, entrevistas com matriarcas e lideranças, além de relatos sobre os impactos da crise climática e da violação de direitos em seus territórios.
O documentário será lançado no dia 27 de setembro, no quilombo Boa Vista, e marcará não apenas o encerramento da formação, mas o início formal da rede de comunicólogas quilombolas do Baixo Amazonas, equipada com instrumentos técnicos e com apoio formativo contínuo.
O projeto também está em busca de novos apoiadores e financiadores que queiram se somar à causa, contribuindo para a expansão e sustentabilidade dessa rede de comunicadoras quilombolas, fortalecendo o direito à comunicação, à justiça climática e o protagonismo das mulheres quilombolas da Amazônia.
“Esse projeto é o começo de algo maior.
Quando uma mulher quilombola comunica, ela afirma sua existência, sua história e sua luta.
Estamos construindo um caminho coletivo de vozes e protagonismo das quilombolas mulheres”, conclui Carlene.
Fonte : Tapajós de Fato
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