Jurados do 3º Tribunal do Júri de Belém, presidido pela juíza Ângela Alice Alves Tuma, votaram pela condenação de Weider da Silva Pinto, 36 anos, professor de escola municipal de São João da Ponta, município localizado no Nordeste do Estado, acusado de homicídio qualificado e ocultação de cadáver de Ana do Nascimento Pinto Lima, 46 anos, também professora na mesma escola. Em razão da grande comoção que ocorreu na cidade à época do crime, o júri foi desaforado para Belém a pedido da Juízo da comarca.
A pena aplicada ao réu de 22 anos de reclusão foi somada em mais dois anos pelo crime de ocultação de cadáver, totalizando 24 anos de reclusão e mais 15 dias multas. Na sentença condenatória, a juíza negou ao sentenciado o direito de aguardar o julgamento de recursos em liberdade, mantendo o réu preso para iniciar a execução da pena.
A decisão acolheu o entendimento do promotor do júri Samir Dahás Jorge que sustentou a acusação em desfavor do réu, de ser autor do crime de homicídio qualificado com pena prevista de 12 a 30 de reclusão.
Em defesa do acusado atuaram o criminalista Hilário Carvalho Monteiro Júnior e o advogado Rinaldo Ribeiro Moraes, que sustentam a tese de negativa de autoria, requerendo a absolvição do réu. Entre os argumentos usados pelos advogados está o fato do réu ser “um respeitado professor que nunca cometeu nenhum tipo de crime”. A tese não foi acolhida por maioria dos votos dos jurados.
Após a leitura do veredicto, os advogados da defesa anunciaram recorrer da decisão.
Para a acusação, as provas reunidas no processo comprovam, “sem qualquer dúvida, que o réu cometeu o crime, por motivo fútil, em virtude da professora não ter cedido ao seu assédio sexual”, argumentou a promotoria.
Conforme a acusação, o réu atraiu a vítima até o local e sem a presença de testemunhas, num local ermo, onde a vítima não poderia sair só do local, provavelmente usando uma faca, matou a professora. Em seguida, transportou o corpo até a mata, ateando fogo no cadáver para esconder o crime, e contou com a ajuda do caseiro do seu sítio.
Após o crime, familiares foram procurar pela vítima no sitio do réu, descobrindo no local uma mão carbonizada. A polícia foi acionada e prendeu o réu, que já estava imobilizado por familiares da professora.
Conforme testemunhas, o caseiro deixou o local ao lado de irmãos do réu, enquanto o réu foi detido inicialmente pelos familiares, e preso em flagrante com a chegada da polícia. O caseiro, posteriormente, foi localizado no município de Itaituba, sendo ouvido pela justiça daquela comarca, negando qualquer participação no crime.
Professora desaparece
A vítima passou a ser procurada pelos familiares no final da tarde do dia 25/11/2016, sendo encontrado restos mortais incinerados no dia seguinte, por familiares, e policiais do município de Curuçá. A polícia também localizou no interior do carro do réu a aliança e o anel de formatura da professora.
Com um plenário lotado por familiares e amigos da vítima, a sessão foi aberta por volta das 09h e estendeu-se até as 22h, no Fórum Criminal de Belém. A primeira a depor, na frente do réu, foi a filha da vítima, que relatou de forma precisa como descobriu o local onde a mãe teve o corpo incinerado e o desespero de descobrir uma das mãos carbonizada da professora.
Mais três testemunhas, familiares que foram ao sítio onde foi cometido o crime, relataram o cenário. Em seguida, foram ouvidas três testemunhas da defesa que conheciam o réu, além de uma quarta, dispensada.
A professora costumava se comunicar, diariamente por mensagens e telefonemas com as filhas e o marido, também professor em outro município. E por telefonema, os familiares sabiam que a professora viria de carona com o colega professor até certo trecho da estrada, no km 39, próximo à Terra Alta.
Era o último dia do ano letivo na escola municipal de São João da Ponta, onde ambos trabalhavam como professores, e houve uma confraternização.
Versões apresentadas pelo réu
Em interrogatório, o réu apresentou mais uma versão do fato. A primeira foi prestada à polícia no ato do flagrante. Ele alegou que a professora teria lhe assediado e queria ter relações com ele. Diante da importunação, aplicou duas facadas, uma cabeça e outra no braço da professora. Após o crime, com medo de ficar na cadeia, colocou o copo num carrinho de mão e o levou para a mata para queimá-lo.
Diante dos jurados, o réu negou a autoria do crime, atribuindo a morte da professora ao seu empregado Andrésio Ferreira, que teria ficado só com a vítima no sítio enquanto ele saiu para comprar um churrasco. Nessa versão, o acusado alegou que a vítima foi atingida por disparos de arma de fogo do caseiro, tendo sido obrigado a assumir o crime, sendo ameaçado por Andrésio, que mataria seus irmãos e mãe.
O acusado, que costumava dar caronas a professores, levou naquele dia em seu carro apenas a professora. Weider alegou que a vítima foi até sua propriedade para ajudá-lo a encontrar um documento, que usariam numa minuta que a vítima estaria preparando para apresentar ao prefeito de São João da Ponta para cobrar o salário e décimo terceiro, que até então não haviam sido pagos.
O crime
O corpo da vítima foi encontrado na manhã do dia seguinte 26/11, no sítio de Weider, na área rural de Curuçá, nordeste do Estado. A professora estava desaparecida desde a tarde do dia anterior, 25/11, após despedida dos professores, no último dia de aula do período letivo da escola municipal de São Feliciano, de São João da Ponta. A vítima foi vista na carona do carro do colega professor da mesma escola, após a comemoração.
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