Jatene e Sérgio Leão, juntos até na corrupção |
"O preço da corrupção chegaria, em valores atualizados, a mais de R$ 30
milhões, pagos como propina no golpe que esvaziou os cofres públicos e
encheu os bolsos da quadrilha de denunciados. Juntos, eles respondem por
crimes previstos no Código Penal Brasileiro, conforme artigos 317
(corrupção passiva) e 333 (corrupção ativa)".
No
Inquérito 465, que tramita há quase nove anos no Superior Tribunal de
Justiça (STJ), S. R. de O. J. (Simão Robson de Oliveira Jatene) é um dos
réus. Ele responde pelos crimes de corrupção passiva; falsidade
ideológica; crimes contra a fé pública e corrupção ativa. O processo
entrou no Tribunal, em Brasília, em 9 de dezembro de 2004 e foi
distribuído para o então ministro daquela Corte, Luiz Fux, que hoje está
no Supremo Tribunal Federal. Mas anda a passos lentos, aguardando
pareceres de ministros e, principalmente da Procuradoria Geral da
República.
Diferentemente de seu primeiro relator, o
ministro Fux, que chegou ao apogeu de sua carreira, o Inquérito 465 não
teve tal destino. Está pronto para receber um parecer, na mesa do
ministro Napoleão Nunes Maia Filho, atual relator, há exatos dois
meses.Olhando na página da internet do STJ, é fácil perceber a razão do
atraso do andamento do processo: a Justiça paraense “engavetou” o
processo 2007.39.00.009063-6 (número de origem no Tribunal Regional
Federal do Pará) por quase quatro anos. Ainda assim, quando retornou
para o STJ, em 2011, estava incompleto – “faltando apensos”, que haviam
ficado para trás, na 3ª Vara Criminal do Tribunal do Pará.
A Justiça é lenta? Sim, é fato. Mas ela é
absurdamente mais lenta quando o acusado se torna governador do Estado.
Simão Robinson de Oliveira Jatene é réu – ou denunciado, juntamente com
outras cinco pessoas, uma delas já falecida – no inquérito policial.
Entre os réus, figura Francisco Sérgio Belich de Souza Leão, ou Sérgio
Leão, como é conhecido, que deixou recentemente a Secretaria de Governo
de Jatene para ser indicado conselheiro do Tribunal de Contas dos
Municípios.
A amizade entre os dois réus é antiga e
compartilhada inclusive nos atos ilícitos. Apesar de estar sendo
denunciado em um inquérito policial por corrupção ativa e passiva,
Sérgio Leão é o nome favorito para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas
do Município (TCM). Simão Jatene quer fazer do amigo e comparsa um novo
guardião de contas prestadas pelos prefeitos paraenses sobre o uso de
recursos públicos. Sérgio Leão era, na época do escândalo envolvendo
fraude, sonegação e pagamento de propina, presidente da comissão
estadual que avaliava a política de incentivos fiscais do governo de
Almir Gabriel.
O crime do governador Simão Jatene ficou
conhecido no Pará como “Caso Cerpasa”, que foi descoberto em 2004,
quando, por acaso, um fiscal do Ministério Público do Trabalho flagrou
uma funcionária da Cervejaria Paraense S.A. – Cerpasa, distribuindo em
envelopes um alto volume de dinheiro em notas miúdas. A funcionária do
Departamento de Pessoal da empresa, Ana Lúcia Santos, estava com um
total de R$ 300 mil, e alegou que o dinheiro era para o pagamento de
funcionários que estariam fora dos registros oficiais da empresa.O
fiscal do MPT estava acompanhado de um procurador e dois delegados da
Polícia Federal. Documentos e computadores foram apreendidos, juntamente
com a funcionária da cervejaria Cerpa.
Na sequência, na análise dos documentos
apreendidos, os policiais encontraram relatórios detalhados com nomes,
datas e valores descrevendo, entre outros achados, a decisão registrada
em ata de reunião da diretoria da empresa de repassar recursos de forma
ilegal para a campanha de Simão Jatene para o governo.
A decisão, anotada em agosto de 2002, em
plena campanha eleitoral, deixava clara a relação entre a Cervejaria
Cerpa e a campanha tucana: “Ajuda a campanha do Simão Jatene p/Governo,
reunião feita com Dr. Sérgio Leão, Dr. Jorge, Sr. Seibel, a partir de
30/08/02 (toda sexta-feira), R$ 500.000, totalizando seis parcelas no
final.
”O alto volume de recursos, que somou, na
época, segundo o inquérito policial, R$ 16,5 milhões, foi repassado para
os tucanos após o perdão de uma dívida de R$ 47 milhões em recolhimento
do Imposto Sobre Circulação de Mercadoria (ICMS), que a Cervejaria
Cerpa deveria ter recolhido aos cofres públicos. O dono da Cerpa era
Konrad Karl Seibel, já falecido, que preferiu pagar um terço da dívida
em propina, ao invés de seguir honestamente os preceitos legais.
O prejuízo causado aos cofres públicos do
Estado pela dupla de denunciados no inquérito criminal pode chegar, em
valores atuais, a mais de R$ 140 milhões. Seria o débito fiscal da
Cerpasa, registrado em 1999 pelo Governo do Estado. As ex-secretárias da
Fazenda na época do “benefício” dado à cervejaria eram Tereza Lusia
Martires Coelho Cativo Rosa e Roberta Chiari Ferreira de Souza. As duas
são coautoras dos mesmos crimes que envolvem Simão Jatene e Sérgio Leão.
O preço da corrupção chegaria, em valores
atualizados, a mais de R$ 30 milhões, pagos como propina no golpe que
esvaziou os cofres públicos e encheu os bolsos da quadrilha de
denunciados. Juntos, eles respondem por crimes previstos no Código Penal
Brasileiro, conforme artigos 317 (corrupção passiva) e 333 (corrupção
ativa).
O esquema de sonegação da Cerpa era feito
com registro irreal de valor de mercadoria. Uma caixa com 24 garrafas de
cerveja, com valor de R$ 21, viajava com nota fiscal de R$ 3, apuraram
os promotores.
Via Diário do Pará.
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