Seis anos depois da Universidade Federal
do Pará (UFPA) transformar o antigo Campo da Vera Paz em área de
pesquisa arqueológica, após disputar o lote na Justiça com a Associação
de Moradores do Bairro do Laguinho (Ambal), a empresa graneleira Cargill
Agrícola continua ampliando suas instalações portuárias no local em
questão.
Em maio deste ano as obras de ampliação
do Terminal da Cargill em Santarém tiveram início. Para o projeto de
expansão, que contará com investimento de R$ 240 milhões, estão sendo
usadas as áreas 4A e 4B, pertencentes à Companhia Docas do Pará (CDP) e
concessionadas à Cargill desde a licitação pública ocorrida em 1999. As
obras terão duração de cerca de 15 meses.
O Terminal da Cargill Agrícola em
Santarém tem capacidade para embarcar dois milhões de toneladas de grãos
ao ano. Com a ampliação, haverá um aumento da capacidade de embarque
anual para cinco milhões de toneladas.
Para esclarecer a ampliação do Porto da
Cargill, em maio deste ano aconteceu uma reunião na Câmara Municipal de
Santarém, onde foi debatido a ampliação do Porto da Cargill. Durante a
reunião, houve a apresentação do projeto de ampliação do Terminal da
Cargill, localizado na área da antiga Praia da Vera Paz, na orla de
Santarém. Na ocasião, também houve protestos por parte de ambientalistas
e de moradores do bairro do Laguinho.
Inconformados com a iniciativa da
empresa graneleira, moradores do bairro do Laguinho afirmam que estão
preocupados com a expansão da área portuária por parte da Companhia
Docas do Pará (CDP) e da empresa multinacional Cargill Agrícola, na área
da antiga Vera Paz. Do projeto, consta a construção de um
estacionamento da concessionária Cargill na área que seria destinada a
implantação de um sítio arqueológico.
O presidente da Ambal, Jurandir Azevedo,
explica que várias reuniões já aconteceram com a presença de diretores
da CDP de Belém e o gerente da Companhia em Santarém, onde os
representantes da empresa disseram que a área 4A está sendo usada para a
ampliação portuária.
Ele destaca que todo o terreno da CDP já
está loteado, onde os representantes da Companhia chamam por número,
como a área 4A, situada entre o prédio da Cargill e o Campo da Vera Paz.
Nela, será construído um silo de armazenagem de grãos.
“Na área 4B que era o Campo da Vera Paz,
mas o lote é da concessionária Cargill, onde a empresa vai fazer lá o
que quiser, como um estacionamento ou outro silo”, dispara o líder
comunitário.
ÁREA DE USO COMUM: Segundo
Jurandir Azevedo, a principal reivindicação da Ambal durante as
reuniões ficou por conta da passagem do campo da Vera Paz para o domínio
dos moradores do Laguinho, onde pessoas que utilizam a arena para
atividades esportivas também questionam a intenção da Cargill e da CDP
de transformar o local em área portuária.
Para ele, a área se consolida como um
lugar de uso comum para todos os moradores do Laguinho, onde o
Campeonato da Vera Paz era realizado há 26 anos consecutivos no local,
que também servia para a realização de atividades de educação física de
alunos do Colégio Pedro Álvares Cabral.
“A comunidade também utilizava para
eventos beneficentes. Depois que aconteceu o salvamento do sitio
arqueológico do Campo da Vera Paz, a área foi entregue à concessionária
Cargill, que detém toda a parte documental do lote. Agora, o nosso
bairro está sem nenhuma área de lazer. Todo o esporte santareno foi
prejudicado com o fechamento do Campo da Vera Paz”, afirma Jurandir
Azevedo.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO: Em
julho de 2009, em Santarém, um episódio envolvendo o Porto da Cargill
chamou atenção de ambientalistas e da sociedade local. A interdição de
um dos lotes da área do porto, destinada a construção de um
estacionamento e, que era utilizado pela comunidade do entorno como área
de lazer, gerou protestos e um abaixo-assinado. A área foi bloqueada
pela Companhia das Docas do Pará que, autorizada pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), realizou o salvamento
de artefatos arqueológicos no local, através da Universidade federal do
Pará (UFPA), hoje, Ufopa.
PESQUISA: Os trabalhos
da primeira etapa do projeto de salvamento do sítio arqueológico
aconteceram em 2009. Já os trabalhos da segunda etapa reiniciaram no dia
16 de janeiro de 2010, onde prosseguiram até o dia 5 de fevereiro,
daquele ano. A pesquisa teve como objetivo buscar informações que
pudesse esclarecer o modo de vida dos primeiros habitantes com suas
formas de pensar, agir e sobreviver com os recursos oferecidos pela
natureza. O trabalho de salvamento do sítio arqueológico ocorreu sob
coordenação da professora da UFPA, Denise Schaan e contou com o auxílio
de diversos profissionais, em um trabalho minucioso na área do antigo
campo da Vera Paz, onde vestígios marcam a presença de habitantes por
volta do século XIII.
Na época, Drª Denise Schaan garantiu que
a pesquisa não tinha nada haver com a multinacional Cargill, alojada
nas proximidades e nem com a Companhia Docas do Pará. Ela afirmou que o
trabalho aconteceu em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN). “O trabalho de escavação só começou após a
publicação no Diário Oficial com todas as homologações e licenças na
esfera federal não tendo nenhuma ligação com a Cargill ou com a CDP”,
disse na época, Dra Denise Schann.
OUTROS CRIMES: O fato é
que, mesmo sendo o local um sítio arqueológico, como foi confirmado
através de estudos e pesquisas, nada está sendo respeitado e o
multinacional Cargill está praticando um crime ambiental. O que se vê na
área são várias máquinas fazendo escavações para ampliação do terminal
graneleiro. Também não podemos deixar de falar sobre outros crimes
ambientais praticados pela Cargill aqui em Santarém, como a poluição do
ar durante o escoamento dos grãos nos navios cargueiros, bem como a
poluição do rio Tapajós com dejetos que caem durante esse serviço. O que
mais chama atenção, é que em 2009, quando começaram a trabalhar nessa
área, várias Ongs e entidades ligadas ao meio ambiente entraram em ação e
conseguiram que o local fosse preservado. E agora, onde estão essas
entidades ligadas ao meio ambiente? Fecharam os olhos?
Por: Manoel Cardoso
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